Saber perder é uma virtude que eu nunca entendi. Nunca te soube perder, sempre a agarrar-te por um dedo, a guardar-te mais um dia. Mas foi num dia de chuva que eu te vi para além de meu, no teu todo que nunca me deixaste entrar. Foi num dia de chuva que eu fui dormir para o sofá. Foi, também, num dia de chuva que eu te dei espaço, mas agora não penses, nunca penses, que o fiz por ti, fi-lo porque acreditei que assim irias voltar, devagarinho, levar-me de volta para a cama, segurar-me no pescoço e
- Que disparate.
Saber perde-te foi um processo lento que me roubou demasiado, habituar-me à tua ausência, ao frio das tuas coisas esquecidas, às paredes vazias foi um mal maior. Mentiria se dissesse não te sentir a falta, sinto sempre, todos os dias. O mal está aí, na verdade.
Não penses, por um segundo que o fiz por ti, por altruísmo, fiz por mim. Tudo o que fiz foi por mim e pelo bocadinho teu que é meu. Perder-te foi algo que nunca pensei deixar-me fazer. Mas saber perder-te é, de certa forma, saber perder-me.