E então eu desci a rua. Sabes que todas as saudades não são suficientes. O terror que eu tenho de tu me deixares serve-me de alimento durante semanas. E como se eu fosse um feto, eu ando às voltas no útero de ninguém, em circunferências de mim própria. O porquê de eu vir sempre aqui ter, a este estado de dormência, como se um camião me tivesse passado por cima, ultrapassa-me. Como as lembranças tuas queimadas na minha retinha, tu a morder uma laranja e era o quê, Verão ou Outono? A dançarem à minha volta, a prenderem-me ao que eu sou. E eu odeio-me, eu odeio-me, eu odeio-me. Gosta de mim, gosta de mim, gosta de mim. Por favor.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Mensagem 249
terça-feira, 11 de maio de 2010
Mensagem 248
Terça-feira, finais de Junho. Estávamos os dois na banheira e eu estava a fazer a mim própria uma barba com a espuma. Tu estavas a enrolar um cigarro com cuidado para não o molhares. Foi mais ou menos aqui que tu me prendeste com os olhos e então enquanto acendias o cigarro:
- Estou com uma erecção no coração.
- Estou com uma erecção no coração.
domingo, 9 de maio de 2010
Mensagem 247
Os sonhos só tem dois finais possíveis. O primeiro é nunca passarem disso, serem uma decepção cerrada, uma obsessão de um tempo de uma vida. O segundo é tornarem-se reais, e é aqui que reside o verdadeiro problema, porque os sonhos deixam de ser sonhos mas tornam-se fome por mais, e por vezes, os sonhos tornam-se pesadelos.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Mensagem 246
Não amar os outros, é um crime de natureza pequena, o amor não pode, ou deve, ser obrigado. É instantâneo e feroz.
Mas ser o outro não amado, aquele que guarda as mãos nos bolsos, é um crime de natureza tremenda. Ser o outro, o que dá e não recebe de volta, é de uma crueldade injusta, é conhecer o amor onde ele somente sabe doer.
Mas ser o outro não amado, aquele que guarda as mãos nos bolsos, é um crime de natureza tremenda. Ser o outro, o que dá e não recebe de volta, é de uma crueldade injusta, é conhecer o amor onde ele somente sabe doer.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Mensagem 245
My name is Salmon, like the fish. First name: Susie. I was 14 years old, when I was murdered on December 6th 1973. I was here for a moment, and then I was gone. I wish you all, a long, and happy life.
There was one thing my murderer didn't understand; he didn't understand how much a father could love his child.
There was one thing my murderer didn't understand; he didn't understand how much a father could love his child.
Mensagem 244
Poderá haver tristeza maior que esta? Poderei eu, algum dia, expressar de forma exacta a sombra dentro da minha alma? Poderei eu, algum dia, deitar-me perto de ti num dia de sol, e nada dentro da minha cabeça, não mais estas vozes, não mais estes medos? Poderei eu algum dia, lavar da pele esta mancha que apareceu sem motivo, sem dono, mas mata-me aos poucos, pior, mata os outros que se chegam a mim. Cada vez menos, esses. Como se os outros cheirassem o meu mal à distancia. Poderá, diz-me, haver tristeza maior que esta? Com tantas vozes na minha cabeça e a solidão a pesar o ar à minha volta. Poderei eu, algum dia, deitar-me do teu lado?
segunda-feira, 3 de maio de 2010
domingo, 2 de maio de 2010
Mensagem 242
Tu mudaste a minha vida e depois meteste-te num avião. Disseste-me um adeus aos pontapés e eu fiquei no mesmo sitio durante duas horas. Dizer-te que roubaste a melhor parte de quem eu fui, é dizer de forma breve a maior verdade de todas. De eu a procurar por ti nas ruas em que passamos, de eu a procurar por ti nos livros que leste, de eu procurar por ti nas tuas fotografias. Eu a descobrir que o amor dói de forma parva, a comer-nos de dentro para fora, canibal, esfomeado. O amor a comer-te a ti, as pequenas lembranças tuas, a devora-las. O teu perfil, as tuas mãos, as tuas orelhas, a tua voz, os teus olhos a prenderem os meus. Tu a mudares a minha vida, e a dizer que o contrário é que era verdade. E eu espantada por alguém conseguir gostar de mim, dia após dia, ás vezes estranho, desconfortável – e então nós a mexer-nos no sofá, a mexer o café, a dobrar os guardanapos – ás vezes tão certo que verão no inverno.
E depois tu num avião e o mundo a encolher, eu uma merda outra vez. E o mundo minúsculo, abafado, e o amor a comer-me viva. Eu mulher mas sem espaço para o ser. O mundo a encolher sobre mim, e tu dentro de um avião. Se morreres eu nunca hei-de saber. Se morreres nada mudará aqui. Nas ruas que passamos, nos livros que leste, nas tuas fotografias.
Tu mudaste a minha vida, a visão que eu tinha de mim e depois meteste-te num avião. Um adeus pelo telefone e eu a chorar. Tu a chorar. Que horas eram que ainda era de noite? Noite. E o amor com que me deixaste a arrancar-me os órgãos, a cegar-me. E eu não mais um ser humano, eu lixo, toda a gente a olhar-me sem me ver, eu invisível, e os dentes deles a sorrirem-me e tu, tu dentro de um avião. Tanto amor que me deixaste, e o amor enraivecido, não ciúmes, raiva, ódio, a ferver dentro do meu estômago. A queimar-me o esófago. E eu a vomitar outra pessoa, a chorar no chão da cozinha. Talvez tu não te tenhas metido num avião e estejas no teu apartamento, talvez tu voltes amanha, para a semana, daqui a um mês, para o ano. E um silencio de domingo a ecoar-me no vazio do corpo. O amor em forma de ódio, não voltes, ninguém te quer também. O amor a matar a mulher que conheceste. Já não existe, existo. Não sou nada, não sou ninguém, um buraco negro em forma humana. Só perda em mim. Ninguém me quer também. E tu dentro de um avião. E o amor a comer-me de dentro para fora, a comer quem se senta ao meu lado, a envenenar o ar que respiro. Eu invisível, e depois eu velha. E se calhar tu morreste dentro de o avião e eu viúva de ninguém. Quando tu te foste embora, todos os dias eu sinto que a parte maior de mim foi contigo. Por favor, por favor, devolve-a.
E depois tu num avião e o mundo a encolher, eu uma merda outra vez. E o mundo minúsculo, abafado, e o amor a comer-me viva. Eu mulher mas sem espaço para o ser. O mundo a encolher sobre mim, e tu dentro de um avião. Se morreres eu nunca hei-de saber. Se morreres nada mudará aqui. Nas ruas que passamos, nos livros que leste, nas tuas fotografias.
Tu mudaste a minha vida, a visão que eu tinha de mim e depois meteste-te num avião. Um adeus pelo telefone e eu a chorar. Tu a chorar. Que horas eram que ainda era de noite? Noite. E o amor com que me deixaste a arrancar-me os órgãos, a cegar-me. E eu não mais um ser humano, eu lixo, toda a gente a olhar-me sem me ver, eu invisível, e os dentes deles a sorrirem-me e tu, tu dentro de um avião. Tanto amor que me deixaste, e o amor enraivecido, não ciúmes, raiva, ódio, a ferver dentro do meu estômago. A queimar-me o esófago. E eu a vomitar outra pessoa, a chorar no chão da cozinha. Talvez tu não te tenhas metido num avião e estejas no teu apartamento, talvez tu voltes amanha, para a semana, daqui a um mês, para o ano. E um silencio de domingo a ecoar-me no vazio do corpo. O amor em forma de ódio, não voltes, ninguém te quer também. O amor a matar a mulher que conheceste. Já não existe, existo. Não sou nada, não sou ninguém, um buraco negro em forma humana. Só perda em mim. Ninguém me quer também. E tu dentro de um avião. E o amor a comer-me de dentro para fora, a comer quem se senta ao meu lado, a envenenar o ar que respiro. Eu invisível, e depois eu velha. E se calhar tu morreste dentro de o avião e eu viúva de ninguém. Quando tu te foste embora, todos os dias eu sinto que a parte maior de mim foi contigo. Por favor, por favor, devolve-a.
Subscrever:
Mensagens (Atom)