O amor é um bicho que pode ser domado,
Esfaimado,
Prendido.
E com este pensamento,
Pequenina diante de tal bicho,
Que se espuma e bafa à minha frente,
Nego este ímpeto de o montar,
De lhe colocar uma cela no dorso e uma trela na boca porque
sei que ao fazê-lo,
É colocar uma cela e trela em mim.
Então viro as costas,
Fujo e fujo,
Corro e corro,
Escalo e escalo,
E aos poucos este bicho que é o amor,
Está longe, lá ao fundo,
Mal nutrido.
E eu tenho a impressão de que já não sou pequenina diante dele,
Mas não me chego perto para ter a certeza.
E no meio da fuga descobri outro que tão facilmente percebi que era também bicho,
Dei-lhe a mão a cheirar e ele não mordeu,
E ainda é homem, não bicho,
Mas eu vivo com medo de que ele se transforme,
Que me calque as mãos no meio da minha escalada,
Ou que eu não o saiba alimentar,E ele não cresça saudável.
Mas eu gostava de ter um bicho que nunca perdesse o pelo,
Que me ajudasse a ser,
Um espaço meu,
Onde eu possa abrir as janelas de manhã e ele as feche à
noite.
E eu não sou de rezar,
Nem sei avaliar-me bem ao espelho ou nas pautas,
Mas eu peço a deus,
Que me permita ter um amor grande, não um monstro.