Tu passavas pela montra do talho sempre um quarto para as
cinco. Eu esperava-te do lado de dentro e quando passavas eu calava-me, eu sustinha
a respiração e olhava-te. Tu olhavas de volta. E só esse gesto, dos teus olhos
nos meus, era inflamável.
Eram outros tempos, eram tempos mais silenciosos mas não menos
sentidos. Tu andavas no liceu e usavas uma saia azul a baixo dos joelhos. Era
bonita a saia. Eu trabalhava no talho duas ruas abaixo do liceu já fazia três
anos e nunca nenhuns olhos nos meus como os teus.
Casei-me coisa de quatro anos depois de tu deixares de
passar à montra do talho. Não eras tu no altar, não eras tu por detrás do véu.
Mas não importa, só às vezes é que me lembro da saia azul, dos teus braços
caídos e como, quando os teus olhos nos meus, o tempo parava. O tempo parava. Quando
se é novo o tempo pára.
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