Eu digo a toda a gente que não acredito em Deus,
Mas eu rezo muito.
- Pai nosso que estás no céu.
Com a cabeça na almofada, às vezes até no meio de multidões.
Eu tenho rezado muito, não a Deus,
Mas a alguém que esteja aqui,
Seja quem for,
Que me ajude nestes dias.
O sol está a pôr-se,
O verão já chegou, mas eu ainda me surpreendo com a luz lá
fora,
Fico sempre à espera que esteja a chover.
É domingo, e eu estou em Oeiras,
O meu coração está sempre partido,
Todos os dias.
Às vezes mais aos domingos,
Passamos domingos juntos, tu e eu.
Agora tenho uma mensagem tua sem resposta,
Mas é uma mensagem de despedida.
Já a decorei de tanto a ler,
Só para não me esquecer que também tu quiseste ir.
- Pai nosso que estás no céu.
E não devia doer tanto, mas alguma coisa ficou tua, da
maneira como mexias as mãos enquanto falavas,
Às vezes paravam-te no peito, por cima do teu coração,
Como se estivesses a falar a verdade.
Mas o meu coração está partido e desconfia.
O teu coração também está partido,
Mostrou-me os dentes quando eu lhe pedi para entrar.
E por ter já sido tão mordido, o meu fugiu.
Os dois a lamberem feridas que não saram sozinhas,
mas não sabem aceitar companhia.
Se o meu coração não estivesse partido,
Se o teu não estivesse partido,
Achas que podíamos ter passado este domingo juntos?
As minhas mãos nas tuas, a pousarem-te no peito.
As saudades que me doem são sempre de tudo o que não
aconteceu.
Ontem vi quem me partiu o coração,
Passou por mim,
E virou-me a cara.
- Pai nosso que estás no céu.