sexta-feira, 20 de março de 2009

I still hope that hats and boots can get along together

Tu a andar sobre a água, palavra, e a água a parecer-te terra debaixo dos pés, dentro da boca.
E eu sempre a desejar por ter um bocadinho de ti.
Não da tua pele, no do teu aperto, mas de ti a andar sobre a água, e a água sempre calada sem vontade nenhuma de te afogar. E a água sempre de costas voltadas para mim, sempre gelada, sempre brava.
E eu a dizer-te isto por outras palavras e tu a dizer-me que
- Não é bem assim.
E viravas os cantos da boca e aumentas as bochechas morenas, sempre morenas no Inverno, e eu a querer um bocadinho da tua cor de azeitona, mas a cor a sair-me ao contrário. E eu branca, apática, pálida
- Está doente, a criança.
E a criança a pesar mundos e universos, e por isso ninguém a pegar-lhe ao colo mesmo com ela de braços esticados e os lábios a tremer.
E ela a ver-te, pela janela, a andar sobre a água, e os teus olhos escuros a fugirem.
(para onde? Para onde fogem os teus olhos?)
Pela janela, a imaginar-te com aquela de cabelo liso a cair-lhe pelas costas. E aposto que ela também sabe andar sobre a água, sem se afogar, ou pior, cair.
E a água a saber-te a terra na língua, e eu a ver-te pela janela, e a vidraça a embaciar-se comigo a soprar-lhe. E os teus olhos a fugirem, sei lá eu para onde, sem data de chegada. As minhas unhas ruídas e os meus ombros dormentes de tanta dor.
Tu a andar sobre a água e eu a debater-me com ela. Tu com a outra, aquela de cabelos lisos, e ela a poder, porque ela é igual a ti. E eu pela janela, feita a doente que sou, e tu sempre com cor quente do sol.
E eu a querer um bocadinho de ti, sempre, um bocadinho de ti. Por favor, um bocadinho de ti.

Sem comentários: