quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008




Aqui estou eu, com pouco para te dar.
Mas muito para receber.
Aqui estou eu.
E não sei muito bem o que te dizer,
Porque o português não me satisfaz,
E eu procurei, e procurei
E deixa-me garantir-te que nenhuma língua conseguiu traduzir o que a minha pele suou.
Eu procurei e procurei
E ainda não consegui arranjar solução para as dores do meu peito.
Todos os remédios que eu encontrei, ou julguei encontrar, no fim só mais dor me trouxeram.
E hoje, depois de toda a confusão de que me acusaste, eu garanto-te que o mundo é mais vazio e opaco do que tu pensas.
Do que tu imaginas.
Porque as promessas feitas em palavras cegas e mudas,
Afastam-se no leito das doenças.
Dos desaparecimentos, aparecimentos e mortes.
Eu garanto-te que os ‘quase, quase’ que te adormecem todas as noites,
Não te abandonam nunca.
São fantasmas pesados e indomináveis,
Sem pseudónimos ou apelidos.
São o que são
E têm o único propósito de matar.
De te matar.
Deixa-me dizer-te tudo o que a tua ausência me tirou
E ainda, o pouco que a tua presença me deu.
Deixa-me dizer-te que todas as tuas palavras são para mim insultos
E eu não entendo se tu me queres bem ou mal.
Se me queres de todo.
És um livro grosso e velho,
Mas vazio,
Vazio,
Vazio.
Tão vazio que cega e nos mói os sentidos.
Todos eles.
Eu procurei e procurei,
Enviei pombos e mensagens em garrafas,
Mas nenhum ser vivo viu, alguma vez, dor idêntica á que se enraizou em mim.
Sou o que sou,
Tenho liberdade para o ser.
E vou onde vou.
Mas isso não quer dizer, de forma alguma, que sou o que quero ser ou que vou onde quero ir.
Porque a liberdade não abrange os meus quereres,
Mas sim os de outro alguém qualquer.
Ele nem precisa de ter membros e tronco, precisa só de ser.
A minha vontade é ténue,
Tanto para mim como para o que me segue,
Mesmo para aquele que me diz amar.
E, ás vezes, esse desculpa-se com o meu feitio e azar.
E, ás vezes, eu respondo-lhe.
Mas, o português não me satisfaz.
E tu, tentas na tua forma pouco educada de ser e estar,
Mostrar-me um bocadinho da tua linguagem.
Uma que não é tua mas tu adoptas-te legalmente,
Mas essa também não me satisfaz.
Não me satisfaz porque em mim não fica bem.
Seja como for,
Aqui estou.
Respeita-me, ama-me e cuida-me.




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Tranisto Intestinal


As saudades são transito no teu corpo,
Ultrapassam-te o sangue,
Atropelam-te os órgãos,
E insultam-te as células.
Meu amor, meu mísero amor.
A falta que não me fazes espanta-me.
Tanto amor que desapareceu. Morreu.
Tanto amor.
Ele pareceu-me eterno, imortal,
Mas, por estes dias, já lhe perdi o rasto.
Os teus olhos,
Sabiam-me a oceanos,
Mas, no fim, tornaram-se aquários.
Minúsculos aquários.
Não sei onde estás e o que é da tua alma.
Alma que foi um dia tão grande.
Imensa, de uma profundidade aliciante.

Mas, no fim, era só um poço.
O teu sorriso roubava-me, matava-me.
Isso não mudou, só a forma como o fazia.
Eu disse-te, eu pedi-te para não te perderes.
Mas tu disseste-me que te perdeste no momento em que te cortaram o cordão umbilical.
Mas isso é mentira meu amor.
Eu conheci-te antes de aterrares nesse teu universo.
Eu conheci os teus olhos oceânicos e a tua alma crescente.
Eu conheci as tuas alegrias e amparei-te as dores.
Diz-me que sim, diz-me que eu o fiz.
Garante-me que estes anos que me pesam no peito foram amados também por ti.
Diz-me.
Se soubesses a dor que as tuas viagens universais me trazem, não as farias.
Porque tu também me conheceste antes deste presente e das promessas deste futuro.
E apesar do nosso amor se ter esgotado.
Ainda tens dentro do teu armário as minhas cartas,
As provas da existência do nosso amor.
Colossal amor.
Eterno amor.
Ele deixou-se ficar dentro do teu armário e adormeceu em nós.
Não te mates, meu amor, não te mates.
Porque, para cadáver já cá estou eu.
Luzes azuis e luzes vermelhas acendem-se em mim.
Deus ouve-me por favor.
Leva-as de mim, fá-las desaparecer.
Ouve por uma vez.
Tira-as de mim.
Eu sei, e a idade faz-me compreender, que tu não podes fazer ninguém ficar.
Mas podes leva-las.
Isso eu sei, toda a humanidade sabe.
É um dos teus muitos trabalhos.
Ouve-me por uma vez.
Eu preciso de ajuda.
E eu reconheço-me fraca mas eu não sei que fazer ao meu corpo.
Eu sacrifico-me por mim mesma e por o que me espera,
Mas eu preciso de apoio e de oxigénio.
Deus, o meu mínimo amor fugiu-me.
E a solidão engasga-me.
Leva-las de mim, porque elas não me pertencem.
Se tu me procuras, procura-me nos sítios onde as minhas memórias residem.
Porque o que resta de mim não vale a pena ser encontrado.
Faz-me companhia.
Eu sei que nós não já não somos o que fomos.
Mas não te mates, meu amor, não te mates.
Porque mesmo com todas estas feridas que me destes,
Eu preciso dos teus olhos, mesmo que eles sejas apenas aquários.
Porque eu tenho uma imaginação enorme, e eu vou conseguir imaginar neles os oceanos que já secaram.
De vez em quando, eu vou conseguir imaginar neles o que neles lhes falta.
Meu mínimo amor, menti-te quando te disse não te sentir falta.
Eu tenho saudades tuas.
E as saudades são trânsito no meu corpo.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Volta para mim


A minha alma contorce-se,
E o amor que te prometi esvaísse.
Eu vejo-o a comer-se aos poucos.
Começa pelo principio, como deve ser,
E desce,
Eu vejo-o descer,
Descer por mim.
Corrói-me a pele.
E o mundo torna-se num lugar de loucos.
Eu corou-me a mim mesma de rainha.
E tu premeste-me que esta terra,
Será minha, só minha.
O teu dedo apontado ao infinito,
Relembra-me que todo o nosso amor foi comido.
Estou farta do menino Jesus e das suas promessas,
De pombas brancas
E da tua ausência.
Diz-me uma palavra certa e discreta.
Algo que me traga paz á noite,
E companhia de dia.
Traz-me poemas escritos pelo teu sangue de poeta,
E dias de segredo.
É capricho meu ou teu?
Desculpa-me a falta de paciência.
Estou farta, cansada, morta.
São tudo verbos e histórias.
Não são factos.
Nada do que eu digo pode ser escrito.
E, pior, não sinto que ninguém o queira escrever.
Se o que me faz eu,
Não é nada que eu amo.
Então deixa-me desaparecer.
Porque o amor que eu te prometo todos os dias,
Não me chega.
Ele trinca os seus próprios calcanhares
E engole-os sem mastigar.
Falta-me o ar.
Volta para mim, por favor.
A tua ausência é-me dor no sangue.
E eu olho os lugares que tu deixaste vazios,
E eles esvaziam-me a mim.
Volta para mim.
Eu não sei como mais te pedir.
As pessoas na rua, não sabem,
Não sabem.
Volta para mim.
As pessoas sentadas ao meu lado,
Não sabem a chuva que nós apanhamos um dia.
E não sabem o sorriso que nós usávamos.
Eu sabia-os todos.
Volta para mim.
O Inverno está a acabar mas eu não sei como lhe sobrevivi.
Lembras-te de nós?
Do infinito que fomos, e do nada que restamos?
Lembras-te?
Escreve-me ou telefona-me,
Porque sabes, tudo se tornou vazio e escuro.
Desde que tu partiste.
Os meses passam por mim,
E eu não sei, eu não sei.
Desde que tu fugiste, o meu amor tem-se comido a ele mesmo.
Sem modos, sem educação.
Meu amor fica comigo, volta para mim.