quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mensagem 276


Estar aqui é diferente. Às vezes fazes falta, ou então minto, e sinto a tua falta em todo o lado. Se ainda te escrevesse seria qualquer coisa assim:

Estou em londres. Sinto a tua falta.

Estou em casa. Sinto a tua falta.

Estou em lisboa. Sinto a tua falta.

Estou meia viva. Sinto a tua falta.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mensagem 275


O abismo agora nos meus pés ou os meus pés no abismo. As cartas que nunca te escrevi, eu sei que tu as chegaste a ler, mas nunca lhes recebi resposta. Agora parece-me tarde de mais. Tudo agora parece tarde de mais. O abismo dos meus pés. Eu e tu no teu carro, no banco de trás. E agora os meus pés no abismo. Quando amamos com a certeza que é para sempre, amamos com calma. E depois acaba e é tarde de mais. E eu tinha a certeza que era para sempre. A tua mãe a chamar por ti, eram dez da manha. São três da manha agora, mas eu não voltava atras. Porque voltar atras era ilusão, eu a achar que era para sempre. Que mania de achar que tudo é para sempre. Agora nada me parece para sempre, e o medo que isso é. O abismo que são os meus pés. Sempre a virar-me a cara quando eu com coragem para olhar.
Os amigos não prestam a esta hora, não há amigos que nos valham a esta hora.

sábado, 9 de junho de 2012

Mensagem 274


Houve um tempo que tu me amavas mais, paravas nas portas a olhar-me como quem:
-vens comigo?
E nesse tempo que tu me amavas mais, eu nem sempre queria ir, mas ia sempre. Tu escrevias-me cartas, eu perdi-as, sei lá porquê, nuca por mal. Tu não gostavas de falar ao telefone, mas ficavas do outro lado da linha. Tu não gostavas dos meus amigos, mas pedias-me sempre para vir comigo. E eu nem sempre queria, mas tu sempre vinhas.
Depois houve o tempo que eu te amei mais, parava ao teu lado como quem:
- e eu?
E nesse tempo que eu te amava mais, tu não me respondias, davas-me a mão só quando bebias, e nunca me atendias o telefone.  E eu triste, eu destruída, eu iludida. Eu amuava, chateava-me. Depois acabou, comigo a amar-te mais. E hoje eu já não paro ao teu lado como quem:
- e eu?
A questão está no ar sempre que tu entras na sala, sempre que tu passas de carro.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mensagem 273


Vamos indo e vamos vendo. Quando o dia chegar ao fim contamos as cicatrizes quando estacionares o carro. Quando o dia chegar ao fim  eu espero por ti com a mesa posta. Sem telefones e sem maquilhagem. Sem drogas ou tabaco, adultos para além das rugas. Vamos indo e vamos vendo, se a idade for tristeza então não faz mal, voltamos atras no tempo, tu fazes força nos ponteiros e eu visto outra vez aquele top que tu sempre gostaste. Mas por agora vamos indo e vamos vendo, mas sim -respondendo-te - tenho medo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mensagem 272


Tu passavas pela montra do talho sempre um quarto para as cinco. Eu esperava-te do lado de dentro e quando passavas eu calava-me, eu sustinha a respiração e olhava-te. Tu olhavas de volta. E só esse gesto, dos teus olhos nos meus, era inflamável.
Eram outros tempos, eram tempos mais silenciosos mas não menos sentidos. Tu andavas no liceu e usavas uma saia azul a baixo dos joelhos. Era bonita a saia. Eu trabalhava no talho duas ruas abaixo do liceu já fazia três anos e nunca nenhuns olhos nos meus como os teus.
Casei-me coisa de quatro anos depois de tu deixares de passar à montra do talho. Não eras tu no altar, não eras tu por detrás do véu. Mas não importa, só às vezes é que me lembro da saia azul, dos teus braços caídos e como, quando os teus olhos nos meus, o tempo parava. O tempo parava. Quando se é novo o tempo pára. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mensagem 271


Vamos fingir que é sábado. Vamos fingir que não passaram seis anos, que tu não me viste nos declives dos dias e dos anos, fingir que eu não vi o teu amor a olhar para outro lado.
Lembras-te da primeira vez que falamos? Nunca pensei, nunca acreditei, que o mundo pudesse dar tantas voltas. Vamos fingir que não deu. Vamos fingir que ainda somos adolescentes, que o coração ainda bate da mesma forma. Quem me dera que batesse da mesma forma.

domingo, 29 de abril de 2012

Mensagem 270

Tu disseste:
- Podes confiar em mim.
Tu dizias isso quando acordávamos e quando me tapavas os olhos. Tu dizes isso ainda hoje enquanto me mandas embora.
E eu sei que tenho que ir mas - e apesar do mundo ser mil vezes maior do que tudo aquilo que eu conheço - eu duvido que exista algum lugar para mim.
Desta vez, meu deus, desta vez é diferente.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mensagem 269

Se é dor de amor chora que passa.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mensagem 268


É inverno no meu coração. Eu tento esconde-lo. De ti, sobretudo, mas no final de contas foi a ti que eu mais mostrei. Mostrei o meu coração. Que coisa estupida de se fazer, mas eu pensei:
- Se calhar chegou a minha vez.
E o amor, que dor meiga, a acalmar-me as vigílias e a encher-me a voz. Mostrei-te o meu coração e eu achei ver o teu de volta. Que coisa estupida que eu fui fazer. Mesmo assim, era inverno no meu coração porque é de inverno que eu sou feita, eu sei que te fartava tanta chuva e tempestades mas eu fingi sempre não ver. Houve vezes que eu me quis primavera ou verão, mas as coisas nunca correram como eu quis, pois não?

Mensagem 267


Tu deitaste-te ao meu lado, beijaste-me e pegaste no comando. Eu fiz-te rir, tu fizeste-me rir. E no entretanto eu pensei:
- Então é isto o amor?
Porque eu pensei que era como nos filmes, a corrida no aeroporto, a carta na almofada e a cama desfeita. Eu pensei que era uma tempestade e uma guerra. Mas então é isto o amor, este alívio inflamado, a calma na forma como esperas que eu acabe de falar. É isto, eu olhar para ti e só te ver esses olhos que tu tens.

Mensagem 266

Acordei e a cama estava vazia. Admiti-lo é um passo em frente. Amores vêm e vão. Pelo menos, é o que eu ouvi dizer. A promessa era a eternidade, mais dia, menos dia.
Fotografias tuas, nenhuma comigo. E o teu olhar meigo, como nunca me olhou, o teu olhar saciado, como nunca me olhou a olhar para ela. E ela apaixonadíssima, e ela o oposto de mim. Ela saciada e sem vergonha de o dizer. Com os sentimentos sempre nos gestos, sem timidez, sem vergonhas. Não é bonita, mas tu não te importas muito. Antes importavas-te. Tu com o olhar saciado nela, quando a mim me viravas a cara, com um olhar de intriga, com um “porque que és assim? Tão sozinha.” Eu a dizer-te que os outros incomodavam-me, a culpa era dos outros, e tu a olhar para ela saciado e ela não te roubou, ela conquistou-te, deu-te o que eu não sabia dar-te, em meses fez mais que eu em anos. Eu a menospreza-la, a acha-la demasiado excitada, pouco madura, a achar que esta nuvem de clichés intelectuais e formas de ser fechados te tinham de ter prendido, tinham, porque repara era tudo o que eu tinha para te dar. Eu a ver os dias passar, um tic-tac-tic-tac a apertar-me o peito, mas confiante, tristemente confiante, que tu e eu queríamos o mesmo. Eu a ti, tu a mim. Eu a olha-la de lado, a acha-la, pronto, simpática. Ela a ser mais que eu, a fazer-te rir, eu a acha-la infantil, quem era ela e que sabia ela? Eu a dizer-te: “eu e tu” mas de repente era uma questão em ti “eu e tu?”. Tu calado a olhar-me intrigado, quem era eu e que sabia eu?

- Tao sozinha.
E já não uma pergunta, mas uma ânsia que eu não fosse. Tu a dizer que os meus amigos eram também eles sozinhos, e eu afastada, num canto. A achar-me estranha, mas só assim a sentir-me bem. São os outros, não entendes? A culpa é dos outros. Com os jogos mentais, e a fome de poder, a calcarem-me os sonhos e eu pequeninha a subir-te pelas costas, tu apanhado de surpresa, e eu a cravar-te as unhas na pele, tu a enxotares-me. Tic-tac-tic-tac. Os meus amigos a menosprezarem-na:

- Uma criança.
Mas ela em meses o que eu não fui em anos. A fazer-te rir e eu sem achar piada, a olha-la intrigada, e então finalmente, os ciúmes. A subir-te pelas costas a cima e tu a olhar-me com os teus olhos verdes por um segundo a mais e então:

- Porquê que és assim? Tao sozinha.

Eu parva, nunca ninguém me tinha dito sozinha, mas sim, suponho que sim. Nenhum “eu e tu” que relembrar porque tu já com o olhar saciado. Naquele amor que mais ninguém no mundo. Ela e tu. Sem questão no fim, só assim, ela e tu. Os meus amigos:

- Não entendo, juro-te que não entendo.

Porque tu de repente outro. E a minha cama vazia. Tu sempre tao áspero comigo, a enxotares-me a presença, a virar-me a cara. E depois tu sem te perguntares pelos outros, e depois tu e ela, apaixonadíssimos e o mundo parado.

Mensagem 265


Os muros da quinta dos teus avós maternos caíram há três invernos e nós ficamos a ver pela janela, como se o mundo desabasse, como se o mundo estivesse a acabar. Não acabou, e eu fiquei a ouvir-te em murmúrios com os teus avós pela porta, a família dos outros é sempre dos outros, nunca a nossa. Nunca gostaram muito de mim, os teus avós. Eu também não gostei muito deles, mas de ti o meu coração sempre teve cheio. Uma dor imensa a de amar de verdade, porque os outros, nunca são nossos. Tu nunca foste meu, apesar de as minhas tentativas, dos fins de tarde e dos teus e-mails quando estiveste a viver em Madrid. Tu sempre me empurraste, te sentaste longe no sofá, e eu apanhei os teus hábitos e no fim, não havia nada mais que um espaço entre nós que os outros olhavam, e por fim, um ou outro ocuparam.

Havia dias que me ignoravas. Que a minha existência era mais uma companhia que alguém de verdade e eu deixava, eu deixei. Os outros olhavam-me, os mais chegados às vezes:

- Merecias melhor, não?

Mas eu a achar que era feitio teu, que era culpa minha.

Os muros da quinta dos teus avós maternos caíram há três invernos, a água e a lama entraram na piscina, derrubaram a mesa onde almoçávamos e destruíram as vinhas. E nós ficamos a ver pela janela. Como se o mundo fosse acabar. Eu dei-te a mão, e a tua mão estava fria na minha.

Os outros nunca são nossos. E eu descobri uma maldade dentro de ti que tu te orgulhas, eu encontrei uma maldade dentro de ti que abriu fendas entre nós. Os outros nunca gostam de ser nossos. Tu nunca aprendeste que não há outra cura para além de ser de alguém. Esta é a minha carta de despedida, despedir-me das vezes que me fizeste rir, que me entendeste, dos fins de tarde com um cigarro nos dedos, e dos dias de sol na quinta dos teus avós. Despedir-me dos dias em que me viraste a cara, que te sentavas na outra ponta do sofá ou que arrancavas com o carro cedo de mais.

Mensagem 264

Mandei-te um e-mail faz hoje duas semanas. Mandei-te um e-mail que era uma carta de amor. Não sei a morada de onde vives agora, mas mesmo que soubesse as cartas escritas à mão estão fora de moda. Faz hoje duas semanas que te escrevi uma carta de amor mas duas semanas é demasiado tempo quando cartas de amor são o assunto.