sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

but sometimes, I still need you

As piores memórias são das pessoas que mais amamos. O momento em que me deixaste sozinha à mesa do café. Nunca te vi assim, daquele ângulo, nunca te ouvi assim:
- Que mais queres de mim?
E tu a saberes a resposta, e eu saber que a pergunta ia para além daquilo. Nunca nada pior que as memórias venenosas daqueles que amamos, que um dia impostas, apagam todos os bons anos. Aquele:
- Que mais queres de mim?
A ocupar o espaço de ti nos meus lençóis e aos poucos eu a esquecer-me que nunca ninguém como tu, mais que tu.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

see you later

A pior mentira é aquela que achamos verdade. Como a nossa infância passada de mão dada. A minha paixão por ti foi avassaladora, um tornando, um tremor de terra. Mas falar dela é como acordar com o cabelo rapado. Não sei muito bem até que ponto tu não és uma doença em mim mas mesmo assim tenho que admitir as saudades tuas, do sol na tua pele, e a tua pele na minha. Não sei muito bem até que ponto tu não foste a pior coisa que me aconteceu nesta vida.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

comes but never goes around


Nas noites em que não estás, é uma dor profunda, amar torna-se um sacrifício, porque por mais que eu faça não te sou, ou fui alguma vez, suficiente. Amar é um acto de egoísmo puro, que de tão puro se torna altruísta.

...Se arranjares forma de o fazer, liga-me. O número é o mesmo.

Toda a gente tem um mau momento. Estes dois últimos anos foram o meu. Desculpa - do fundo de mim - ter-te usado pelo caminho.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

From your love,

Estávamos todos muito felizes, a fazer o que as pessoas da nossa idade e do nosso tipo fazem no cinema, estás a ver? Quando ela apareceu. Não gostei nada dela, porque primeiro, não gosto de loiras e segundo não gosto de loiras perto de ti. Tu mudaste logo o peso para o lado direito – eu sei que achas que é o teu melhor lado, mas sinceramente eu gosto dos dois igual, o que eu gosto mesmo, se queres realmente saber, é quando estás a ler concentrado com os óculos postos – e foste ao bolso buscar as mortalhas. Não gostei nada dela, e como somos mulheres, ela também não gostou nada de mim. Depois de dares a primeira passa, olhaste para ela e perguntas-te com aquela voz que eu já conheço bem:
- Queres?
Logo tu que nunca ofereces nada a ninguém, eu virei a cara, mas depois pensei “não” e olhei-a bem nos olhos, e como somos mulheres, ela passou a mão pelo cabelo e:
- Obrigada.
Fiquei à espera que ela tossisse, mas não, claro, gajas destas nunca tossem.

mensagem 221

Deitei-me por cima do teu edredão e deixei-me ficar, não sei quanto tempo passou. Na verdade, ainda sinto que estou lá. Em cima do teu edredão a olhar para as formas do fumo de um cigarro mal apagado. É disto que eles falam, quando falam em amores perdidos.

sad, sad

O amor prova-se nos maus dias. E no teu mau dia, quando a vida te deu um estalo, tu não pegaste no telefone para me ligar, tu não correste para debaixo de mim. A maior dor de todas é a hostilidade de saber que amamos de corpo todo quem nem se lembra do nosso nome. E por fim saber que, provavelmente essa é uma das razoes para amarmos tanto.

domingo, 3 de janeiro de 2010

H e B - 2009


Eu juro-te, eu ouvi as tuas entranhas a tossir, a chorar. O amor é um filho da puta quando aqueles que amamos nos morrem na alma. E a morte é a puta. Eu queria ver-te uma última vez, a ti, não ao teu corpo frio. A ti a seguir-me com os olhos. Não os teu olhar fixo numa fotografia. A ti a procurar-me a cara, não eu com medo de te tocar. Medo de te tocar. Realmente, não entendo. Todo o meu corpo ouviu as tuas entranhas a tossir, mesmo com o barulho da chuva, o teu cheiro nas minhas mãos, a tua ausência nos objectos, nos cantos da casa. A tua ausência no teu corpo. Nenhuma ausência se compara aquela que a morte obriga, nenhuma saudade se compara aquela que a morta obriga.