quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mensagem 262




Só agora percebi a complexidade da vida. Tudo o que temos como certo, até o que não é certo mas eternamente garantido com quem nós somos – não o que temos – mas o que somos nas entranhas, no momento das reacções, até isso altera-se.
E é no dia em que acordo e não reconheço um valor em mim, do que eu fui, quis ser e do que eu prometi nunca ser. No meu caso, e falo somente do meu caso, foi numa noite muito fria em que eu me apercebi que tudo o que sou – reparem na dor de não ser “tudo o que tenho” porque o acto de não ter é tão mais remediável do que o de não ser – não era, simplesmente, suficiente. Simples. Que eu posso tentar – e Deus sabe que eu tentei – eu posso lutar, que não muda o facto de eu não ser suficiente. Mas alguém que me diga como é que eu desisto da única coisa que alguma vez quis? Com que cara eu cedo o meu lugar a outros? Como é que eu deixo de pensar
- Foda-se, que raio sou eu?

sábado, 23 de outubro de 2010

Mensagem 261

Tenho um emaranhado de coisas a dizer-te que me sufocam. No entanto, dizer-te és a minha melhor amiga é tristemente infantil mas não é pior que dizer-te és a única amiga que me resta neste mundo, que é, por sua vez, terrivelmente verdade.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mensagem 260


São duas da manha e eu ligo-te a dizer que me sinto feia que nem um bicho. Tu dizes que eu sou disparatada e eu ouço uma gaja a rir-se no fundo. A culpa é minha, tu vinhas com “cabrão” escrito na testa mas presumivelmente também me devia sentir feia na altura.
Mas o verdadeiro problema da situação não é a gaja que se ri a roncar, ou tu seres um cabrão sempre com a barba por fazer, o problema é que são duas da manha, eu continuo a sentir-me feia e não tenho mais ninguém para ligar no mundo inteiro.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mensagem 259


Sempre fui eu sozinha, sozinha dentro da minha cabeça e junto da minha família. Sozinha nas decisões e nas mudanças. Sou sozinha no meio da multidão e sozinha no meio dos amigos. Sou sozinha quando acordo na tua cama e sou sozinha quando tu adormeces na minha. Sou sozinha quando alguém me toca e sou sozinha quando alguém me chama.
Não gosto de ser sozinha, estou farta de ser sozinha. Mas como posso eu deixar do ser? O que me falta aprender para sair deste sentimento tremendo de auto-exclusão, de auto-ódio que me consome? Porque esta solidão não é mais um sentimento mas uma acção, um princípio que se tornou constante, e o meu silêncio e o meu não ser ninguém traz-me este frio ao peito e eu quero saber, quero saber agora, o que é que eu faço? Eu quero que o culpado desta minha forma de ser e viver me diga agora - por favor, agora, antes que tanta dor, tanto esquecimento me roube o ar de vez - o que é que eu tenho que fazer?

Mensagem 258


De todos os pesos que eu carreguei ao peito, és tu o mais pesado. De todas as cicatrizes que eu levo no braço, és tu a mais profunda. Porque de todas dores que eu conheci, nenhuma foi maior que a dor tremenda de não ser suficiente. Eu dei tudo de mim e tudo me foi devolvido usado. Repara, não há nada mais em mim. É o mundo todo entrelaçado no meu peito, novelos do que nunca disse, arames farpados do que ouvi. Repara, não há mais nada em mim. De todos os pesos que eu carrego no peito, és tu o que me pesa mais. Qual é a sensação?