segunda-feira, 1 de abril de 2024

Mensagem 298

 


Vêm aí,

Os soldados em formação.

Armados contra mim.

Abrem fogo enquanto eu durmo.

Um conflito prolongado pela minha subserviência,

vassalagem aos bons costumes.

Abrem fogo contra o meu coração.

Visto a armadura,

E subo ao meu cavalo.

Se eu controlar os meus medos,

Eles não vencem.

Se eu seguir o meu caminho eles não ganham.

As minhas muralhas erguidas,

A minha honra escriturada.   

Eles não ganham enquanto o mundo girar.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Mensagem 297

 


Quando eras meu,

- A vibrar no telemóvel e a descer a estação do oriente -

Eu queria-te escrever cartas de amor mas,

há qualquer coisa no amor que não gosta de um poema,

e fica-se pelas palavras à mesa,

Na cama.

 

Agora, agora, que deixaste de ser meu,

Faço cartas de amor até no supermercado,

há qualquer coisa no desgosto que só cabe no papel,

Por ser tão profundo.

Então eu pesquiso aulas de

jardinagem, bordado e de como ser,

na expectativa de não deixar o desgosto enraizar.

Eu tinha tanto, tanto, medo de te perder,

de te ouvir dizer o que disseste,

de te ver sair pela porta que saíste.

 

Agora, agora, eu tenho medo de que tudo te corra bem,

Desde que me deixaste,

que por um rasgo de sorte, todos os teus sonhos

se alinhem e encaixem,

todos os telefonemas são boas noticias,

todas as campainhas são para ti.

E que tu penses que foi porque eu me fui embora.

 

Sintomas de uma alma dorida,

cuja cura está longe.

E eu eu eu

desconfio que ficou nas cartas de amor que nunca te escrevi.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Mensagem 296

 


É esta a forma como tratas alguém que amaste?

Independentemente de para onde o teu amor foi.

Não vou negar que é sempre difícil terminar amores:

O medo do arrependimento,

De dizer ao amor:

- Eu desisto.

E de tudo ir,

Gargalo abaixo,

um amigo tão íntimo,

um corpo que nos abraça,

Mas que já nos chateia.

Magoar alguém que também tem uma faca na mão.

No entanto, há formas de o fazer:

até nos despedimentos, há formas de o fazer,

Missas para rezar,

Poemas para fechar.

Contas a fazer.

Não que faça diferença em mim,

Que os meus instintos sempre se iriam ativar,

A primata dentro de mim bater nas árvores,

A dor química da abstinência,

Deste método científico que somos todos feitos,

Da condição humana que não posso evitar,

Mas amadurecer.

Mas é esta a forma como tratas alguém que te ama?

Que a ti se deu, quando tu nos meus olhos pediste:

- Quero que sejas minha.

Porque deixas na alma dos outros esta tatuagem,

Esta assinatura mal feita num coração que foi teu,

Não corras quando te vais embora,

Porque assim não vês o que a tristeza tem para te ensinar.

E então sim, a sensação de um amor desperdiçado.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Mensagem 295

 


O amor é um bicho que pode ser domado,

Esfaimado,

Prendido.

E com este pensamento,

Pequenina diante de tal bicho,

Que se espuma e bafa à minha frente,

Nego este ímpeto de o montar,

De lhe colocar uma cela no dorso e uma trela na boca porque sei que ao fazê-lo,

É colocar uma cela e trela em mim.

Então viro as costas,

Fujo e fujo,

Corro e corro,

Escalo e escalo,

E aos poucos este bicho que é o amor,

Está longe, lá ao fundo,

Mal nutrido.

E eu tenho a impressão de que já não sou pequenina diante dele,

Mas não me chego perto para ter a certeza.


E no meio da fuga descobri outro que tão facilmente percebi que era também bicho,

Dei-lhe a mão a cheirar e ele não mordeu,

E ainda é homem, não bicho,

Mas eu vivo com medo de que ele se transforme,

Que me calque as mãos no meio da minha escalada,

Ou que eu não o saiba alimentar,

E ele não cresça saudável.

Mas eu gostava de ter um bicho que nunca perdesse o pelo,

Que me ajudasse a ser,

Um espaço meu,

Onde eu possa abrir as janelas de manhã e ele as feche à noite.

E eu não sou de rezar,

Nem sei avaliar-me bem ao espelho ou nas pautas,

Mas eu peço a deus,

Que me permita ter um amor grande, não um monstro.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Mensagem 294

 


Há alguém novo,

Na minha cama,

Dentro do meu coração.

Tem a voz grossa e as mãos fortes,

ele pede-me que

- Fala comigo.

E eu não sei como lhe dizer que tenho medo que se eu falar,

Ele veja,

Que eu sou frágil.

 

Eu gostava de lhe dizer,

Que o meu coração treme sempre que ele aparece,

mas não encontro as palavras,

e tenho medo que ele se assuste,

e de repente,

eu sou um arrependimento.

Algo que ele esquece.


Os dias passam. Será que ele sabe?

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Mensagem 293


Pode ser que não seja mais que isto:

Eu e tu tivemos o amor,

na mão

E não soubemos o que fazer.

Mas quisemos e tanto.

Foi tão dolorosamente fácil,

como se nos tivessem dado um barco no meio de uma tempestade

e soubéssemos exatamente como remar.

Sem plano ou direções

mas com o instinto a ir para o lado certo.

E tu remaste sempre,

mesmo quando eu não via as ondas e

quando o nevoeiro me impedia a vista

tu apontaste-me o caminho.

E ás vezes, por vezes,

eu devo ter deixado entrar água

e tu com os pés encharcados sacaste de umas galochas.

E assim fomos indo a sítios,

vimos cidades

e comemos o mundo.

E eu acredito que também vesti as minhas galochas,

que as saquei de dentro de mim,

de então desse amor.

Que sempre ouvi falar,

e que agora sei o que é.

Contigo. Na tua barba e nos teus olhos.

E de repente, o nevoeiro chegou a ti.

E eu não sei, não sei,

uma onda talvez.

uma baleia então,

talvez foi o vento de norte.

Ou tudo. 

E o barco virou.

E as cidades que vimos agora estão em fotografias,

E eu tento-me lembrar do que foi ter os meus pés nas praças delas, 

Mas os meus pés doem porque não se lembram.

São fotografias de uns pés.


Então debaixo do barco,

numa bolha de oxigénio,

entramos em pânico.

Tu apontavas para cima.

Eu para o fundo.

Eu para a direita,

Tu para a esquerda.

E os teus olhos e a tua barba, 

menos meus.

E a verdade é que com isto da tempestade,

eu não tive o tempo que queria para te ver,

para me perder em ti.

Como merecia.


E na bolha de oxigénio,

vimo-nos pela primeira vez.

Naquilo que não gostamos de ver ao espelho,

a parte de nós que não é nossa,

que já estava aqui quando nascemos.


E como se tivéssemos sido resgatados,

fomos largados na praia

onde começamos.

E olhar para ti, 

a procurar quem tem mais cicatrizes,

não vai levar a lado nenhum.

Por isso, eu vou indo.

Eu lembro-me de ter uma cabana nesta praia,

não sei bem onde estão as chaves.

Eu gostava de te convidar a entrar,

mas eu sei que tens que ir.

Já é tarde, o sol já se pôs,

eu queria-te arranjar o cabelo,

puxar-te o lençol.

Mas parece-me a mim,

Que devo aceitar o naufrágio, e entender que o capitão vai ao fundo com o barco, porque não se pode ser capitão de um barco afundado.


Eu entendo que quisesses afundar o barco, não precisavas de o afundar comigo dentro.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Mensagem 292

 


No meio dos papéis dentro das tuas gavetas encontrei memórias de quando te fingias feliz. E como se fosse uma carreira de degraus, deparo-me com elas por um segundo.

Antes de avançar.

O meu coração partiu-se e ficou pesado como cimento, como uma barragem dentro do meu peito, em que nada fluía, nada passava.

Ao tentar impedir que o meu amor por ti fosse na corrente, encheu-se de entulho o meu espírito, os meus dias.

Na tentativa de não te perder as memórias, ergui muralhas dentro da minha própria alma.

E na tentativa de entender as tuas ações, quem és, perdi-me em apontamentos e equações. E por dias, perante os cálculos, acho que o meu coração parou de bater.

Na distância que vai do mundano do dia-a-dia e do que o meu coração quer ser, fiquei retida.

Partiste-me o coração em fevereiro. Agora é julho. E com o passar das estações a barragem transbordou, e que nem uma inundação o sangue começou a correr, e ali, na corrente, eu vi correrem as memórias de um futuro contigo. E apesar de arder, não doeu entender que o amor é uma decisão. Sou mulher agora que sei.

E vás onde fores, eu não quero ir. E o futuro que se perdeu, nunca existiu. Tu não és um capitão integro para os mares da minha alma. E não podes ficar com nada do que é meu. Coração incluído.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Mensagem 291


Eu tenho tentado agarrar-me a ti,

Com as unhas nas tuas costas,

Os dentes nos teus braços.

E pergunto-me o que tu pensas,

E se tu não me dizes eu:

- O que estás a pensar?

- Em nada.

Mas os teus olhos estão perdidos.

E o meu peito pesado.

Eu tenho tentado agarrar-me a ti,

Com o meu corpo sobre o teu,

A minha mão sempre em ti.

E entre desejar saber o que a tua cabeça te diz

há momentos em que eu ouço uma voz na minha que:

- Deixa.

 

Disse-te que me ia embora,

Viver na cidade, e tu ficaste tão feliz.

Que não foi preciso perguntar para saber o que estavas a pensar.

O que sempre pensaste. 

 

Lembrei-me de quando íamos às compras,

Tu levavas os sacos e eu pedia-te sempre para dividir,

Só para poder andar de mão dada contigo.

E neste movimento do adeus, eu pergunto no ar se vou amar mais alguém,

Se alguém, um dia, me vai amar de verdade.

E o ar:

- Deixa.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Mensagem 290


Eu juro que chorei a noite toda,

Mas apareci no trabalho de cara maquilhada.

Eu juro que vomitei no canteiro,

Mas sentei-me no banco a beber cerveja com outro.

 

Fico-me sem saber se te diga o que se passa aqui dentro,

Se tu não vais entender,

E ia só te pesar na culpa, e quem quer um homem que fica, mas só atado?

Desenlaço-te as mãos com um nó na garganta e digo-te

- Vai lá.

Mas juro-te que tinha muito mais para dizer – Podia falar-te do sol nos teus ombros, de chegar a casa para ti, do desespero de saber que foste sempre fingido –

 

O futuro há de chegar,

Isso é certo,

E tenho a sensação que um dia haverás de saber o que sinto em primeira mão,

Mas por outro lado,

Nem sempre é assim, pois não Deus?

A solidão só é destinada a alguns, e porque é assim Deus?

Talvez esteja em mim, criada por mim e que como uma premonição, ataca-me quando menos espero.

Estes sonhos.

Os outros dizem-me que eu não falo muito,

Que guardo para dentro,

Mas a verdade é que eu não sei o que contar,

Porque dói como literatura, mas quando abro a boca parece uma novela.

E o meu amor por ti, que eu pensei merecer um hino, recebe caretas.

Como sempre.

e de repente, tu chegas a casa e dizes,

(ai, como dói admitir)

- Eu dou-me muito bem com ela.

Com a tua mão a agarrar a minha,

E a minha mão branca da força que fazes,

Mas lá largas.

 

E eu fico a ver o amanhecer às voltas na cama,

A pensar na tua mão a agarrar a minha com força e:

- Eu dou-me muito bem com ela.

E toda a gente te elogia a honestidade,

e dizem-me calada, mas se eu abrisse a boca diria que não vejo a honestidade,

só a tua mão a largar a minha.

Com intenção, com decisão.

E a honestidade, afinal era um pedido para sair da sala.

E já agora, de casa.

Para poderes bater com a porta sem eu ter que perguntar:

- Quando voltas?

Porque já sabia.