sábado, 31 de janeiro de 2009

I can see right through you

and that is not a good thing


(I predict a riot na última noite do primeiro mês de 2009)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sigur Rós



Para além de ser um óptimo vídeo por si mesmo, merece o dobro do crédito por ter ganho o prémio de melhor videoclipe em 2001, quando estes prémios são só atribuídos a nomes mais conhecidos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Anthony and the Johnsons

We felt so differently then
So similar over the years
The way we laugh the way we experience pain
So many memories
But theres nothing left to gain from remembering
Faces and worlds that no one else will ever know
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
I want this for you
They're gonna come true

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Don't get lied to: love was always cruel

Só venho aqui para dizer em poucas palavras,
- Que nunca as são, porque as palavras não se contam pela quantidade,
Mas pelo que dizem. Nada se conta pela quantidade –
Que a minha força é estreita, que, ao contrario do que a (falta de) Sorte pensa,
Eu não aguento mais,
E a minha força é precária.
Que acordar é um sacrifício da alma e do corpo.
Que a força de vontade é imensa mas o espaço é pouco.
Que eu sou pouco e o espaço é imenso.
Ou o espaço não é, mas ilusão, fome de mim em outro lugar.
Ou outro alguém no meu lugar, por uma vez.
Só venho aqui dizer que o meu cansaço, é hoje, infinito.
Recai-me sobre os olhos que viraram cegos
- Como as coisas boas que morrem sem dizer –
(mas as coisas boas onde estão?)
Ou as saudades de outras marés,
Que parecem distantes de mais para serem reais,
A distância distrai-nos e rouba-nos qualquer coisa do que nos faz seres Humanos.
A Humanidade que me resta nas veias,
Mas não no peito, porque desse nada resta mas esta humilhação que me rouba o sono.
A humilhação de estar viva,
Que me tira mais que o sono, me tira o que me resta.
(E o que me resta?)
Se não a tua voz que eu nem sei se alguma vez foi minha.
E se foi, porque não ficaste? Porque me deixaste?
Eu pergunto não pelas respostas, mas pela liberdade que ao menos isso me dá.
(A liberdade deve ser mantida presa, não te esqueças.)
Talvez a vida melhore, talvez a vida dê voltas.
Talvez tu tenhas ido porque foste obrigado, talvez tu ainda te lembres de mim nas tardes que não escurecem.
Talvez tu nunca te tenhas esquecido e daquela vez, daquela derradeira vez, tu mentiste-me.
Ou talvez isto é isto, e seja culpa minha.
E talvez a vida não melhore, mas piore.
Talvez a vida não dê voltas, mas fique de pernas para o ar.
Talvez tu disseste a verdade.
A minha força – mãe, a minha força – é que talvez não seja a suficiente,
E nunca tenha sido eu, nunca eu. E sempre outro alguém que eu me esqueci de contar.
Talvez a minha paciência, sobrevivência ou força não seja que chegue.
Porque o tempo vai sem vir, e tu vens sem ficar.
Mas talvez um dia, eu tenha a força suficiente para ser fraca, e talvez nesse dia
Eu saiba o porquê das coisas nunca serem minhas.
Talvez a minha Sorte seja assim por um motivo que vai para além de mim (como os teus olhos sobre os meus, que foram sempre para além de mim)
E tu tenhas sido eterno nos declínios da alma.
- Que são sempre profundos demais –
Que humilhação a de estar viva quando não há por onde viver,
Que humilhação a de respirar,
Talvez eu seja um fantasma de um erro fatal,
E então eu (– o meu corpo, a minha alma –) não era suposta, e o ar e a vida que usa é só tempo perdido.


(mensagem numero 100, o que me faz lembrar que nada mudou só o ano no calendário)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

noventa e nove



Love me. I dare you

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Boys do cry












Crying Men é o conjunto de retratos de vinte e cinco actores que aceitaram chorar em frente à câmara de Sam Taylor-Wood.
A prova que os homens também choram

domingo, 18 de janeiro de 2009

It's typical to cling to memories you'll never get back again


E quando os olhos deixarem de serem janelas partidas,
Para as paisagens que afinal eram telas,
(Mas tu nunca te pareceste ralar)
Da tua herdade perdida,
Da casa dos pais dos teus avós e
Do cão que era cego de um olho.
O cão morreu nas contas dos dias,
Um dia chamaste por ele e ele não veio.
Ele vinha sempre.
Os pais dos teus avós passaram a olhar-te pelas fotografias aos cantos da casa,
Sempre a olhar-te mas nunca te falavam,
E tu eras pequeno o suficiente para achar que era de propósito.
Com os sorrisos que não eram sorrisos, mas primos afastados,
Sorriam pela eternidade, enjaulados em fotos mais idosas que eles mesmos.
E sorriam quando havia motivo e quando não havia, a mãe da tua avó com um lenço na cabeça e mão na anca, a sorrir para alguém que tu não vias.
E os teus avós nunca te fizeram a sopa,
Mas ensinaram-te a estar calado,
Como ensinaram ao cão que um dia não veio.
(um dia, também eu e tu)
E tu aprendeste a falar com as fotografias que te procuravam com o olhar perdido, estendido nas paredes.
E eram os pais dos teus avós que se faziam de amigos,
Mas eles mal te olhavam nos olhos,
Mas sabiam sempre o que dizer porque nunca diziam nada.
Eram amigos de cores acinzentadas, amareladas, que como tu, não podiam falar.
Mas riam-se de ti numa piada intemporal que tu nunca entendeste
(ainda hoje os olhas, sem entender)
Quando eras pequeno, pequeno o suficiente, rias-te tu deles, porque enquanto tu saias pela porta da casa da herdade, (a casa que eles ergueram) eles consumiam-se pela cor dentro das molduras, doentes de tédio, doentes da morte.
E o cão vinha contigo, sempre um passo á frente de ti, tu que aprendeste a falar sem ninguém te deixar, falavas com o cão e com as coisas. Fossem elas fotografias secas ou pedras do riacho.
E elas respondiam-te com a voz das coisas, mas não te faziam companhia,
Porque as coisas são invejosas, e preocupam-se com o durar delas e não mais ninguém.
Na forma em que nos fazem querer tê-las, mesmo quando não precisamos delas.
(e é tão raro precisarmos delas).
E as fotos ainda hoje te olham, da casa da herdade que deixou de ser tua quando partiste para o Porto.
E a casa não é tua, mas chama por ti,
E tu chamas por ela sem falar,
Pela tua avó que um dia também deixou de vir,
E pelo teu avô que morreu num hospital (ele que odiava hospitais)
A olhar para o tecto, proibido de falar pelo cancro na língua,
Mas sem ninguém para falar.
Tu seguraste no caixão e levaste-o de volta a casa,
Para debaixo da terra que era dele e dos pais dele.
Para junto dos pais dele.
E também ele passou a ser parte de uma foto, que vivia para além dele.
Ele sem sorrir, sério com o cão cego de um olho aos pés (bebé e com a vista perfeita).
O cão – o Camões, não era? – deixou de guardar a herdade e a herdade foi caindo na ausência de passos no soalho, nas portadas sempre fechadas, e nos pratos sempre guardados.
E o teu avô ás voltas na campa, e tu a descobrir a vida para além da herdade que te roubou a voz, o teu avô com os olhos perto dos teus que nunca um beijo de boas noites, nunca “o meu neto”, mas sempre com os olhos perto dos teus.
E é só isso que tu sabes, e quando fechas os olhos é isso que vês. Os olhos do teu avô.
Que agora é uma foto dentro de um baú debaixo da cama.
Que nunca te sorri mas observa-te por horas inteiras, á espera que tu descubras as verdades que ele nunca arranjou coragem para dizer mas que ainda estão perdidas na herdade esquecida.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Lista #1

The curious case of Benjamin Button For what its worth it's never too late, or in my case too early to be whoever you want to be. There's no time limit. Start whenever you want. You can change or stay the same. There are no rules to this thing. We can make the best or the worst of it; I hope you make the best of it. I hope you feel things that you've never felt before. I hope you meet people with a different point of view. I hope you live a life you are proud of. If you find that you're not, I hope you have the strength to start all over again.
Life isn't measured in minutes, but in moments
Changeling
Fuck you and the horse you rode in on.

Never start a fight, but always finish it

Eternal sunshine of the spotless mind

I think your name is magical.

How happy is the blameless vestal's lot! / The world forgetting, by the world forgot / Eternal sunshine of the spotless mind! / Each pray'r accepted, and each wish resign'd.

- Am I ugly? When I was a kid, I thought I was. Sometimes I think people don't understand how lonely it is to be a kid, like you don't matter. So, I'm eight, and I have these toys, these dolls. My favorite is this ugly girl doll who I call Clementine, and I keep yelling at her, "You can't be ugly! Be pretty!" It's weird, like if I can transform her, I would magically change, too.

Atonemet

Dearest Cecilia: the story can resume. The one I had been planning on that evening walk. I can become again the man who once crossed the surrey park at dusk, in my best suit, swaggering on the promise of life. The man who, with the clarity of passion, made love to you in the library. The story can resume. I will return. Find you, love you, marry you and live without shame.

- Why're you crying?
- Don't you know?
- Yes, I know exactly.

Come back. Come back to me.

Candy


Here is the deepest secret nobody knows. Here is the root of the root and the bud of the bud and the sky of the sky of a tree called life; which grows higher than soul can hope or mind can hide. And this is the wonder that's keeping the stars apart. I carry your heart, I carry it in my heart.

When you can stop, you don't want to. When you want to stop, you can't.

We had a lot going for us. We'd found the secret glue that held all things together. In a perfect place, where the noise did not intrude, our world was so very complete.


Apocalypto
When the end comes, not everyone is ready to go

Juno

- I think I'm in love with you.
- You mean as friends?
- No... I mean for real. 'Cause you're, like, the coolest person I've ever met, and you don't even have to try, you know?
- I try really hard, actually.


I still have your virginity.

In the valley of elah They shouldn't send heroes to a place like Iraq

American Beauty

Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in.

I had always heard your entire life flashes in front of your eyes the second before you die. First of all, that one second isn't a second at all, it stretches on forever, like an ocean of time (...) And then I remember to relax, and stop trying to hold on to it, and then it flows through me like rain and I can't feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life... You have no idea what I'm talking about, I'm sure. But don't worry... you will someday.

Little Miss Sunshine


There's two kinds of people in this world, there's winners and there's losers. Okay, you know what the difference is? Winners don't give up.

You know what? Fuck beauty contests. Life is one fucking beauty contest after another. School, then college, then work... Fuck that. And fuck the Air Force Academy. If I want to fly, I'll find a way to fly. You do what you love, and fuck the rest. - I wish I could just sleep until I was eighteen and skip all this crap-high school and everything-just skip it.
-Do you know who Marcel Proust is?
-He's the guy you teach
- Yeah. French writer. Total loser. Never had a real job. Unrequited love affairs. Gay. Spent 20 years writing a book almost no one reads. But he's also probably the greatest writer since Shakespeare. Anyway, he uh... he gets down to the end of his life, and he looks back and decides that all those years he suffered, Those were the best years of his life, 'cause they made him who he was. All those years he was happy? You know, total waste. Didn't learn a thing. So, if you sleep until you're 18... Ah, think of the suffering you're gonna miss. I mean high school? High school-those are your prime suffering years. You don't get better suffering than that.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

One year


Talvez um dia voltes,
Já que foste sem te despedires,
Talvez um dia eu te veja para além dos teus passos nas escadas
E as tuas costas a olharam-me sem me verem,
Talvez um dia eu te veja para além da tua pele fria no fim de Janeiro,
A tua pele vermelha, na chuva miudinha que não caía em ninguém mais que eu.
Talvez tu voltes, porque nunca deixaste um bilhete um ‘tenho que ir, desculpa-me’ rabiscado num guardanapo.
Uma fotografia para eu esconder debaixo da almofada.
Esconder de mim e das saudades venenosas que eu tenho tuas,
Não dos teus passos nas escadas ou das tuas costas,
De ti. De quem tu foste antes dos passos nas escadas, antes das tuas costas cegas e vazias de mim.
Talvez tu voltes,
Talvez um dia me batas á porta, e os passos nas escadas sejam para norte,
Ou para sul, ou sei lá, para mim e não de mim.
Talvez eu te veja os olhos cheios desta vontade que me come,
E não ausentes, como se me tentassem dizer o que não existe.
Não em mim, pelo menos.
Ou o meu nome dito nos ecos dos vales, dos montes, das serras.
Dos declínios da terra onde eu brincava quando ainda sabia brincar.
E a minha irmã vinha comigo, para este ou oeste,
E eu recordo-me da minha irmã, e também ela ainda sabia brincar.
Tudo o que eu hoje sei são os teus passos nas escadas,
Que eu vi pela janela, porque não tive coragem para mais.
E tu viste-me sem me ver, sem vontade de o fazer,
Que é o mesmo que não ver.
Talvez tu voltes, com uma desculpa credível,
Talvez tenhas ido salvar o mundo,
Que tanto precisa,
Talvez um dia voltes,
E venhas a tempo de ver tudo o que morre,
O que já morreu, dentro das casas que são feitas para morrer,
E que os defuntos não deixam, porque estão em casa,
E nunca se deixa a casa quando é nossa.
E, quem sabe, talvez tu voltes.
De onde não sei, se do oceano, se de Espanha.
Talvez nem sequer tenhas partido.
E simplesmente te perdeste dentro desta casa morta feita para nos matar.
Matar não, roubar a vida.
Como quando eu te disse:
- não confio em ti.
E o eco dos vales, dos montes e das serras estalou por um pouco,
Só um pouco, mas as palavras são memórias e sempre que te lembras do:
- não confio em ti.
O meu nome morria um pouco, só um pouco. Mas tu não conseguiste esquecer, e o meu nome foi também para uma daquelas casas de onde ninguém volta.
Foi para morrer, ouvi dizer.
E deixou-me com os teus passos nas escadas, a porta a bater, e a luz do candeeiro da rua a tremelicar. E era noite e era dia.
E eras tu para mim, e não ao contrário:
- não confio em ti.
E eu a encolher os ombros.
E talvez o meu encolher de ombros seja o mesmo que os teus passos nas escadas.
Tiros certeiros. Frieiras no peito.
Talvez um dia voltes, porque eu ainda te espero.
Ainda olho pela janela, e vejo o vizinho e o cão, e vejo os carros sem alma, e os sacos das pessoas, e as pessoas dos sacos. Mas nunca a ti, nunca tu. Eu olho pela janela, para além dela, e espero por ti.
Espero que voltes. Espero que o carteiro me traga uma carta dee longe, como se tivesses ido para a guerra.
E se morreres por lá, voltas para junto de mim dentro de uma caixa, que eu vou amar como se o teu corpo fosse, que eu vou chorar como se as tuas mãos fossem. E vais ser enterrado junto dos soldados de outros séculos, com a terra a cobrir-te os ossos que já não prestam, e a erva vai nascer sobre o que antes era vida. E eu visito-te todos os domingos com as cartas que nunca fui a tempo de te enviar.
E eu vou imaginar-te com a espingarda ao ombro, e o inimigo sem apelido ou nome próprio.
Talvez tu voltes.
Talvez no funeral do meu nome tu tragas a aliança que levaste contigo.
Talvez ainda voltes.
(you.)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Give up


Nos ventos que tu fingiste sempre não sentir,
Eu fui, perdida ou por perder.
Como se o meu corpo não fosse corpo, mas casca,
De uma alma que nunca acertou,
Nunca escreveu na mesma linha.
E tu sempre fingiste não me ver,
Até o sempre ser tempo demais até para ti,
Ser tempo de trazer rugas, olhos cansados, tempo estagnado.
Em que as horas passavam por ti, por mim, e quando foi o meu tempo tu não me deixaste tocar.
A tua inveja que me roubou vida,
Mas o que é que isso interessa agora?
Tu não me podes dar de volta, e as desculpas não servem de nada ao fim do dia.
Nem se quer me entram no bolso, nem se quer me aquecem o meu peito gelado.
Que boa forma de começar um ano,
Um ano que eu não quero, porque não vai ser meu
- Porque nunca nada é meu –
Que não me vai caber na palma da mão, porque vai ser sempre dor a mais.
Que falta de espírito, de atenção que eu carrego,
Como se o meu corpo, que afinal é casca,
Como se a minha alma, que afinal é agua,
Fossem parte de algo esquecido.
Pior, nunca lembrado.
Por ti, por todos.
Erro, por todos não, porque o meu pai nunca me esqueceu e sempre me disse:
- Fofinha.
E eu sempre me soube como
- Fofinha.
Mas eu não sei onde a
- Fofinha
Dele está. Porque eu deixei de a ser, porque os anos nunca são meus, eles passam por mim e eu vejo-os nos rostos que nunca quiseram ser meus. Mas os anos nunca são meus, e este nunca há-de ser algo bom, porque o bom nunca tem o meu nome assinado.
A insónia que tu foste em mim, manteve-me viva, nas ilhas em que tu me fizeste, nas marés, oceanos e dores em que me perdeste, porque talvez nunca me tenhas encontrado.
E sejas só mais uma das minhas mentiras.
Mas o meu pai nunca se esqueceu do
- Fofinha
Que carrega na voz. E nesta nação de dor, em que a bandeira sou eu, estamos todos de luto, não pelo passado, mas pela falta dele. De eu ter de sobreviver, sempre, sobreviver. Nunca viver.
Talvez, pai, fosse mais fácil se te esquecesses do
- Fofinha
Porque é a única coisa que me mantém viva. A única que eu ainda sei como minha.
Mas não há ninguém por aqui, porque sou uma ilha, onde nada acontece, que ninguém se lembra. E por vezes alguém naufraga em mim, e as feridas que eu lambo, as dores que eu curo são esquecidas pela vontade de fugir. De viver.
Vontade que eu um dia tive, (talvez quando eu era na verdade a
- Fofinha
Que tu me dizias) mas desapareceu-me das veias, e quando o meu coração se recorda de mim, bate com a dor que a falta de uso o obriga.
E quando um dia ele adormecer, esquecido da insónia que só tu uma vez – há tempo demais – me deste, quando ele adormecer numa ausência completa, num fim deserto, sem retorno, sem respostas, a minha casca seja deixada aos bichos, ignorada porque de nada vale. A minha alma não irá a lado algum, presa nos contornos que nunca viu. Nos erros que o amor deu, no ditado que ela nunca ouviu bem, porque estava na última fila. Sempre na última fila.
E talvez, com o tempo tu também, pai meu, te esqueças da
- Fofinha.
(porque na verdade ela também já se esqueceu) e talvez assim eu encontre a solução que eu já conheço faz séculos. E talvez assim a minha ilha se afunde, mas não faz mal, porque nunca ninguém se quer soube que ela existiu.
É ano novo, mas não vai ser meu, porque nunca é. Porque eu sou uma ilha num oceano virado para o infinito. Sou uma ilha minúscula, onde a minha dor bate nas rochas, noite e dia.
Mas ninguém se lembra de me vir habitar, ninguém se lembra de vir amar. É ano novo, mas eu tenho medo. Eu tenho medo e não é, juro-te que não é, porque tenho alguma coisa a perder. É só medo. No estado mais puro, mais sentido.
É ano novo, merda.
Pai, por favor, é ano novo, e eu não sei se tenho mais forças, não sei se a minha pele aguenta mais chagas. Pai por favor, deixa onde estava a
- Fofinha
Que eu já não sou.

(No entanto a minha gratidão é eterna, não penses que a culpa foi ou alguma vez será tua.)