domingo, 31 de maio de 2009

Para os que vieram do mesmo sitio.

Agora volta. Faz as malas, deixa a roupa suja para trás, deixa as saudades nesse sítio onde te escondeste. Agora volta e traz debaixo do braço o que me roubaste.
Desenterra-me que a terra come-me os olhos com uma ânsia devastadora, quase obscena. Desenterra-me que aqui ninguém me ouve. E o silêncio da minha voz é o que mais me queima. E se eu fugi um dia, foi por ti. Para tu vires atrás. Se eu fugi um dia, não foi, e deus me livre, por estas pessoas. Se eu fugi, e não admito que o fiz, não foi por nenhum deles, porque a barba deles é suja, e os olhos são baços. Não tem sabor, e quando falam não emitem som algum, como se fossem só corpo, só casca. Vazios por dentro, perdidos das mães e dos pais. Nunca foram crianças e nunca viram o Douro ao fim do dia. Nunca rezaram de olhos fechados e nunca cantaram de mãos dadas. Nunca perderam os amigos nos recantos da vida porque nunca tiveram amigos.
E vem desenterrar-me, tira o braço de cima dela, e vem desenterrar-me que eu sei que não pertenço aqui. Eu pertenço onde tu estás, ao cheiro da chuva no teu pescoço, aos nós dos teus dedos. Ela está a mais, eles estão a mais. Eles dizem-me triste, mas foi porque eles nunca viveram o que nós vivemos. Eles dizem que se amam, mas eles não se conhecem, eles não se olham de uma margem para outra, eles nunca sujaram as mãos no sangue, deitaram-se de barriga na lama e a lama crescia neles como só cresce em quem sofre, em quem é mulher antes do tempo. Elas não sabem o que é ser mulher, porque elas não vieram do mesmo sitio que nós, e elas abrem as pernas, mas elas não as sabem fechar. E, Deus, elas sofreram mas elas não aprenderam nada com isso. E eles não sabem ser homens, porque eles não vieram do mesmo sitio que nós, não cresceram mas acham-se de tamanho de homens feitos, e eles guiam com uma mão e fumam com a outra mas nenhum deles viu o tempo a estender-se pelos corredores, a deixar as paredes intactas por entre os anos, sem uma mossa, sem um risco. Como nós vimos.
Por isso tira o braço de cima dela e volta para mim, tosse o cheiro dela do teu hálito, e volta para mim. Tenho saudades tuas pelo meu corpo todo, e eles podem passar por mim – que vergonha admitir-te isto quando tu com a mão no bolso dela – mas eles não as conseguem abafar. E eles podem pesar-me no peito – admito-te isto – podem roubar-me o sono, roubar-me a vontade de acordar de manha, mas vez alguma eles me esvaziaram o peito, aconchegaram-me o sono ou tiraram-me da cama.
Por isso volta hoje, que eu tenho medo, a terra é fria, e a minha lápide nada diz. Volta para mim e encontra-me pelo cheiro, as saudades de ti foram fatais e eu não deixei nada ao mundo, não tinha nada para deixar. Mas eu lembro-me dos finais de tarde e o por do sol a reflectir-se no infinito do mar, dois sóis num só planeta, a queimar-me a pele dos braços e a cegar-me os olhos mas se eu contasse alguém eles diziam-me louca, com certeza. Mas tu não, tu viste com os mesmos olhos que eu, com a mesma pele que eu.

sábado, 30 de maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Dias não

Havia dias em que me amavas, outros em que não. Pegaste-me o hábito de amar dia sim, dia não, mas eu não sei dizer a quem dói mais: se aos outros, se a mim, porque a solidão dos “dias não” seca-me a voz, seca-me a alma. Que hábito horrível que foste, que ainda és.

Cat power - Still in love

I cant help it. Im still in love with you

(It hurts to know anothers lips will kiss you
And hold you just the way I used to do
Oh heaven only knows how much I miss you)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

For you I'd bleed myself dry


Eu a escrever sobre ti, dos teus dedos, mas apaguei. Mas voltei a escrever sobre os teus dedos, as tuas mãos, a tocarem-me nas costas. E apaguei. Até que percebi não valer a pena apagar, muito menos esquecer. És como daquelas tatuagens que nos prometem
- Dura só uma semana, menina.
E nunca sai, fica um rabisco a envelhecer connosco, a perder o sentido. A gastar-se pelo tempo, como os teus dedos a procurarem os meus, a tocarem-me nas costas como quem não toca, mas a queimar-me a coluna, a parar-me o sangue.
Devia apagar, mas não vale a pena. És aquele tipo de tatuagem que vêm com doenças, que me fodeu o coração, me fodeu a cabeça. Porque eu fecho os olhos e vejo as tuas mãos, os teus antebraços, o corredor cheio, pessoas, depois só tu, corredor nenhum, pessoa alguma. E os teus ombros por baixo da camisola (de que cor era a camisola?) a chamarem por mim, vida própria. Devia apagar, mas não vale a pena, não é que seja mais forte que eu, mas sim eu. E o teu pescoço a latejar. Apagar.
Talvez fosse melhor eu ir atrás de ti, lutar por ti e não pelo que deixaste. Fazer-me gente como toda a gente, mas é o medo que eu tenho que os teus dedos me tenham tocado por engano e que a minha coluna tenha incendiado por motivo nenhum (já vi acontecer, juro, é uma dor de ver).
Tenho medo que os teus gestos fossem uma merda que me entrou para o olho. Uma merda que me tatou o corpo e me fodeu, de igual forma, a cabeça e o coração.

Era amarela, a camisola era amarela.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mensagem 149


Eles dizem que a terceira é de vez.
Mas eles não te conhecem, eles não entendem.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mensagem 148

Degausser

Take me, take me back to your bed.
I love you so much that it hurts my head, I don't mind you under my skin.
I'll let the bad parts in. Well you're my favourite bird and when you sing I really do wish you'd wear my ring, no matter what they say, I am still the king.
And now the storm is coming, the storm is coming in *
* - Brand New

quinta-feira, 14 de maio de 2009

I really don't care where you've been

Tu a misturar-te com a terra,
A cheira-la nos dedos, debaixo das unhas.
Que saudades de ti a dar sentido ao meu nome.
A chama-lo pela terra,
Pelos declives das pedras, do sol a bater no meu nome.
E o meu nome a ser mal tratado, aos pontapés na tua voz.
E eu
- Quero lá saber.
De cima das escadas o meu nome a soar a qualquer coisa, para além dele mesmo.
De ti a apanhar-me o cabelo, e a tua respiração na minha nuca,
Os teus dedos a cheirarem a terra.
E que vontade desses tempos,
De um maço numa tarde, os pulmões a tossirem,
Do vomitado no decote e eu
- quero lá saber.
E antes de eu dormir, tu a agarrar-me a mão,
E terra entre os meus dedos, na palma da minha mão.
E eu sem sono, sem fome, sem frio mas com nome.
E o meu nome não na tua voz, mas nos teus lábios.
E o meu cabelo sujo de terra, e um cigarro na tua orelha que roubaste á vizinha.
Que saudades desses tempos dos teus dedos entrelaçados nos meus.
Dos teus olhos postos nos meus, da fome que me davas sem saberes e se soubesses, eu
- quero lá saber.
E não queria porque nunca se quer quando se deve.
Não voltes porque eu já não sabia o que fazer de ti, dos teus antebraços a tremer, dos teus dedos feitos de terra que fizeram de mim lama, arrependimento que sabe a lama, e lama nas mãos, nos pés, na pele.
A tua barba a arranhar-me a orelha e eu mais uma vez
- quero lá saber.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Linda Martini

Não disse nada porque nada havia para dizer,
Eventualmente o peito deixa de doer.

I find a place where I feel I belong

E pela primeira vez reparei no teu defeito da íris, na tua falta de paciência, nas falhas da tua sobrancelha. E pela primeira vez não te prometi voltar amanha, não te prometi deixar a porta encostada, a chave ao peito. Disseste-me um dia que me ias ensinar a segurar o Porto na palma da mão e deita-lo ao rio, e eu imaginei-te a faze-lo mas já velho, com a sabedoria que só o tempo encontra. Não és velho mas eu fui-te descobrindo a velhice no corpo, como se a tua falta para mim fosse velhice. Quero-te pedir que não me esqueças, que não me deites a mim ao rio, quero que saibas que há amores mais fortes que nós, que há amores que nos apodrecem a alma de tão grandes, de tão secos.
Pela primeira vez não te soube esperar mais que o tempo de um cigarro e os olhos que ele atraiçoa. Tenho medo de te deixar, de morrer ao contrário, de um dia não te lembrares do meu nome, da minha presença e da minha ausência. De eu não estar lá, no sofá, no lado esquerdo da mesa. Tenho medo que me percas, que um dia entres num avião e não voltes. Tenho medo que encontres o que eu não te sei dar noutro lugar, naqueles lugares onde nunca chega quem quer lá chegar.
Não me deixes pelo caminho, que as noites quentes se findem, não me deixes ir e voltar outra, intratável, a examinar-te ao longe, sem um beijo, sem um toque. Não me deixes perder, não me largues a mão, não deixes que os cigarros atrás do muro se findem.

sábado, 2 de maio de 2009

Romeu e Julieta, séc. XXI

You want me? Well fuckin come and find me.