segunda-feira, 11 de maio de 2009

I find a place where I feel I belong

E pela primeira vez reparei no teu defeito da íris, na tua falta de paciência, nas falhas da tua sobrancelha. E pela primeira vez não te prometi voltar amanha, não te prometi deixar a porta encostada, a chave ao peito. Disseste-me um dia que me ias ensinar a segurar o Porto na palma da mão e deita-lo ao rio, e eu imaginei-te a faze-lo mas já velho, com a sabedoria que só o tempo encontra. Não és velho mas eu fui-te descobrindo a velhice no corpo, como se a tua falta para mim fosse velhice. Quero-te pedir que não me esqueças, que não me deites a mim ao rio, quero que saibas que há amores mais fortes que nós, que há amores que nos apodrecem a alma de tão grandes, de tão secos.
Pela primeira vez não te soube esperar mais que o tempo de um cigarro e os olhos que ele atraiçoa. Tenho medo de te deixar, de morrer ao contrário, de um dia não te lembrares do meu nome, da minha presença e da minha ausência. De eu não estar lá, no sofá, no lado esquerdo da mesa. Tenho medo que me percas, que um dia entres num avião e não voltes. Tenho medo que encontres o que eu não te sei dar noutro lugar, naqueles lugares onde nunca chega quem quer lá chegar.
Não me deixes pelo caminho, que as noites quentes se findem, não me deixes ir e voltar outra, intratável, a examinar-te ao longe, sem um beijo, sem um toque. Não me deixes perder, não me largues a mão, não deixes que os cigarros atrás do muro se findem.

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