sábado, 13 de janeiro de 2018

Mensagem 280



Leva-me a sério, mesmo nos meus piores dias. Não me ignores quando eu não faço sentido. Eu prometo melhorar, se quiseres eu deixo de fumar.

Eu perdi-me por aí, entre quem eu sou e quem tu és, o mal que lhe fizemos a ela, e nós. Todos sabem, meu amor. Eu que tanto fiz por esconder-me, todos sabem sobre mim.

Tu disseste:
- mostra-me quem és,

E eu afeiçoei-me à ideia, e na confiança de um navegador que enjoa nas ondas, ordenei que se abrissem as velas.
Sem mapa, sem tesouro, a tripulação duvidou-me:
- tu é que sabes,

Eu é que sei, braços no ar, e ai de quem de mim duvidar. O mundo é meu e eu sou capaz, sou capaz. Sempre fui boa, sempre fui meiga, ai de quem o dedo a mim apontar. Borda fora com todos, que o meu coração é bravo e morde.
O meu coração não sente, pedra rija mas pedra que mente. Até a mim me surpreende, sempre a cochichar-me enganos. Gosta de me dizer ninguém, e eu dizia-lhe,
- mentiras.

Até que tu largaste o leme.

Disseste que te magoava as mãos, era pesado de mais e bem feitas as contas, não te valia a pena:
- Não vale mais a pena.

E eu em alto mar, sem saber nadar. Foste embora num movimento que durou meses, de silêncios, de gritos, de dor num coração que nada sente e não gosta de falar.

Tu deixaste de me tocar e eu aflita, quem me agarra se eu cair ao mar?
Este navio está a afundar-se, meu amor, ajuda-me. Ajudem-me. É uma ordem, ninguém me respeita. Eu sempre fui boa, eu sempre fui meiga, só quando não fui. Agora eu sou a capita de um navio a encher de água salgada.

Diz-lhes que eu não fiz por mal, sem intenção. Fiz-lhes porque o meu amor por ti mandou-me. Com as duas mãos no meu pescoço ordenou-me tamanha maldade.

Quando este navio afundar e a pedra que é o meu coração me levar ao fundo, que as minhas pernas ganhem escamas, que os meus pés em vez de pés sejam barbatanas, que o cabelo que eu cortei sem tu aprovares, cresça outra vez. E eu encontre perdão pelas minhas decisões e possa ir, finalmente, para longe de ti, deste amor.

Nos meus sonhos, tu nunca eras tu.
E o amor é um empreendimento parvo, que nos faz loucos, e quando de repente desaparece, desaparece. Deixa dois loucos sem casa.

Nós não temos muito mais tempo, parece-me meu amor, eu consigo ver as paredes a abrirem-se.


Mas, no caso, de tudo o que eu digo ser uma profecia – contigo sempre me pareceu tal coisa,  o dia em que te vi já o tinha visto antes e sempre soube que o dia de hoje chegaria, somente me surpreendem os pormenores – espero que o dia chegue e reconsideres, te lembres de quem eramos. Eu e tu, tu e eu.

Todos me sabem, mas só tu me reconheces.