O abismo agora nos meus pés ou os meus pés no abismo. As cartas
que nunca te escrevi, eu sei que tu as chegaste a ler, mas nunca lhes recebi
resposta. Agora parece-me tarde de mais. Tudo agora parece tarde de mais. O abismo
dos meus pés. Eu e tu no teu carro, no banco de trás. E agora os meus pés no
abismo. Quando amamos com a certeza que é para sempre, amamos com calma. E depois
acaba e é tarde de mais. E eu tinha a certeza que era para sempre. A tua mãe a
chamar por ti, eram dez da manha. São três da manha agora, mas eu não voltava
atras. Porque voltar atras era ilusão, eu a achar que era para sempre. Que mania
de achar que tudo é para sempre. Agora nada me parece para sempre, e o medo que
isso é. O abismo que são os meus pés. Sempre a virar-me a cara quando eu com
coragem para olhar.
Os amigos não prestam a esta hora, não há amigos que nos
valham a esta hora.
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