quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mensagem 266

Acordei e a cama estava vazia. Admiti-lo é um passo em frente. Amores vêm e vão. Pelo menos, é o que eu ouvi dizer. A promessa era a eternidade, mais dia, menos dia.
Fotografias tuas, nenhuma comigo. E o teu olhar meigo, como nunca me olhou, o teu olhar saciado, como nunca me olhou a olhar para ela. E ela apaixonadíssima, e ela o oposto de mim. Ela saciada e sem vergonha de o dizer. Com os sentimentos sempre nos gestos, sem timidez, sem vergonhas. Não é bonita, mas tu não te importas muito. Antes importavas-te. Tu com o olhar saciado nela, quando a mim me viravas a cara, com um olhar de intriga, com um “porque que és assim? Tão sozinha.” Eu a dizer-te que os outros incomodavam-me, a culpa era dos outros, e tu a olhar para ela saciado e ela não te roubou, ela conquistou-te, deu-te o que eu não sabia dar-te, em meses fez mais que eu em anos. Eu a menospreza-la, a acha-la demasiado excitada, pouco madura, a achar que esta nuvem de clichés intelectuais e formas de ser fechados te tinham de ter prendido, tinham, porque repara era tudo o que eu tinha para te dar. Eu a ver os dias passar, um tic-tac-tic-tac a apertar-me o peito, mas confiante, tristemente confiante, que tu e eu queríamos o mesmo. Eu a ti, tu a mim. Eu a olha-la de lado, a acha-la, pronto, simpática. Ela a ser mais que eu, a fazer-te rir, eu a acha-la infantil, quem era ela e que sabia ela? Eu a dizer-te: “eu e tu” mas de repente era uma questão em ti “eu e tu?”. Tu calado a olhar-me intrigado, quem era eu e que sabia eu?

- Tao sozinha.
E já não uma pergunta, mas uma ânsia que eu não fosse. Tu a dizer que os meus amigos eram também eles sozinhos, e eu afastada, num canto. A achar-me estranha, mas só assim a sentir-me bem. São os outros, não entendes? A culpa é dos outros. Com os jogos mentais, e a fome de poder, a calcarem-me os sonhos e eu pequeninha a subir-te pelas costas, tu apanhado de surpresa, e eu a cravar-te as unhas na pele, tu a enxotares-me. Tic-tac-tic-tac. Os meus amigos a menosprezarem-na:

- Uma criança.
Mas ela em meses o que eu não fui em anos. A fazer-te rir e eu sem achar piada, a olha-la intrigada, e então finalmente, os ciúmes. A subir-te pelas costas a cima e tu a olhar-me com os teus olhos verdes por um segundo a mais e então:

- Porquê que és assim? Tao sozinha.

Eu parva, nunca ninguém me tinha dito sozinha, mas sim, suponho que sim. Nenhum “eu e tu” que relembrar porque tu já com o olhar saciado. Naquele amor que mais ninguém no mundo. Ela e tu. Sem questão no fim, só assim, ela e tu. Os meus amigos:

- Não entendo, juro-te que não entendo.

Porque tu de repente outro. E a minha cama vazia. Tu sempre tao áspero comigo, a enxotares-me a presença, a virar-me a cara. E depois tu sem te perguntares pelos outros, e depois tu e ela, apaixonadíssimos e o mundo parado.

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