quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mensagem 272


Tu passavas pela montra do talho sempre um quarto para as cinco. Eu esperava-te do lado de dentro e quando passavas eu calava-me, eu sustinha a respiração e olhava-te. Tu olhavas de volta. E só esse gesto, dos teus olhos nos meus, era inflamável.
Eram outros tempos, eram tempos mais silenciosos mas não menos sentidos. Tu andavas no liceu e usavas uma saia azul a baixo dos joelhos. Era bonita a saia. Eu trabalhava no talho duas ruas abaixo do liceu já fazia três anos e nunca nenhuns olhos nos meus como os teus.
Casei-me coisa de quatro anos depois de tu deixares de passar à montra do talho. Não eras tu no altar, não eras tu por detrás do véu. Mas não importa, só às vezes é que me lembro da saia azul, dos teus braços caídos e como, quando os teus olhos nos meus, o tempo parava. O tempo parava. Quando se é novo o tempo pára. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mensagem 271


Vamos fingir que é sábado. Vamos fingir que não passaram seis anos, que tu não me viste nos declives dos dias e dos anos, fingir que eu não vi o teu amor a olhar para outro lado.
Lembras-te da primeira vez que falamos? Nunca pensei, nunca acreditei, que o mundo pudesse dar tantas voltas. Vamos fingir que não deu. Vamos fingir que ainda somos adolescentes, que o coração ainda bate da mesma forma. Quem me dera que batesse da mesma forma.