segunda-feira, 16 de março de 2009

ode to


Sr. António quem me dera ter um bocadinho mais de si, do seu dom completo para as palavras de que nunca se orgulha. Quem me dera ter um bocadinho mais da sua forma de nunca incomodar, nunca chatear. Você que nunca ficou sozinho com a solidão, mas sempre fez dela uma amiga, mas ela não é amiga de ninguém e tudo o que diz é dor, é inveja. Não há solidão que não doa como não há amor que não queime. Mas o que ás vezes tendo a esquecer é que a solidão não faz parte do amor.
Sr. António que chama a Pessoa um “parvinho iluminado”, a mim também as palavras não lavam a alma, e eu também, não sei como a lavar. Talvez a velhice me leve a aceita-la como suja, ou talvez este meu ódio próprio seja o motivo de tanta sujidade. Talvez encontre nas suas frases que são memórias, algum espelho meu – não seria a primeira vez – que me mude a aparência dos meus defeitos, que não são mais do que três ou quatro mas que me pesam o peito.
Não me interprete mal – não seria o primeiro – não me acho portadora de poucos defeitos, mas o que acontece é que os conheço profundamente, sei-os de todos os ângulos, e os três ou quatro que eu falo são infinitos e duros, que vergonha que eu tenho de os carregar, mas a verdade é que o senhor também a tem, e mais ainda sabe-a descrever como ninguém. Por isso, quem me dera saber aceita-los dessa forma e não os culpar por todos os meus males, mas talvez a idade mos leve, ou talvez eles me levem a mim.
Sr. António que se considera, na teoria, melhor que Shakespeare diga-me que esplendor é aquele que o leva a escrever? Porque todos o procuram. Diga-me, vem de dentro de si, do mesmo sitio para onde vai morrer a juventude embrulhada nos farrapos da mesma?
Sr. António que diz o português como uma honra, diga-me se é preciso morrer para compreender o que você compreende? Esse humor que é esgotamento, diga-me Sr. António se a inteligência se vê nas radiografias dos olhos, como se vê a beleza.
A beleza que no fim vale de pouco, mas valerá sempre mais do que merecia, será que ela será algum dia suficiente?
Sr. António, escreva mais um ou dois livros para eu me perder mais uma ou duas vezes e deixar por um momentos esquecidos, os meus três ou quatro defeitos que me envenenam a vista.
Quem me dera ter um bocadinho mais de sim, da sua entrega completa ao que fica para além da morte e dura o tempo de uma vida.

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