quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mensagem 253


Quando o amor acaba – o amor, não a relação, não falo do acto de cortar o cordão umbilical mas a morte do cordão em si – tudo o que aconteceu torna-se um sacrifício sem sentido, as pessoas que amamos – sejam elas o nosso primeiro amor, a grande amiga ou o gajo que nos deus boleia sexta-feira – tornam-se, de repente, os culpados pela ausência do nosso sucesso.
Isto é, o amor tem a selvagem capacidade de nos fazer sentir não uma pessoa mas duas, mas a extinção do mesmo – e partindo do pressuposto que todo o tipo de amor acaba de uma forma ou de outra – tem a subtil capacidade de nos fazer ver o que teríamos sido sozinhos.
Será então justo afirmar que os actos de amor são, a longo prazo, desprovidos de sentido? Será justo afirmar que tudo o que eu fiz por ti, tudo aquilo que eu acabei por desistir ou tive que forçadamente encontrar por ti, não me trouxe nada de bom?

domingo, 20 de junho de 2010

Mensagem 252


Três meses. É a morte de um amor que se prometeu eterno em três meses, no banco da frente do carro, numa esplanada na Boavista. São outras pessoas a darem-me a mão e outras a acenderem-te o cigarro. E a chama a iluminar-te os olhos e depois noite escura outra vez.
Três meses de telefonemas tardios e silêncios de dias seguidos. A janela do teu quarto embaciada e eu sem saber o que estou ali a fazer, tu a mostrar-me uma cadeira e desde quando é que o teu quarto é tão frio?
Três meses e excertos de cartas antigas no e-mail e chaves debaixo da cama, esquecidas.
E eu ao telefone:
- Como vai a tua vida?
Como uma qualquer. E eu, realmente, uma qualquer, de mão dada com outro. Três meses em cascata, eu presa em ti a acenar-me do outro lado da vida. E, de repente, saudades, tantas saudades. Mas de quê? Se eu de mão dada com outro e tu ao volante a pedir para te acenderem o cigarro.
Três meses que enterraram cinco anos, e eu ao telefone:
- Pois, e com quem vais sair hoje?

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mensagem 251


Eu queria que fosse para mim esse beijo, esse jeito de cara. Eu gostava que fosse meu esse silêncio, esse sim, esse adeus mal sentido.
Eu queria como meu esse acordar, o lençol da tua cama e o leite na taça. Eu queria que fosse minha essa ironia, o timbre da tua voz. Eu queria que fossem meus os dedos que se entrelaçam nos teus. Por uma vez nesta vida, eu queria que fosse eu.