terça-feira, 6 de julho de 2010

Mensagem 255


Agora já não sei dizer se o termo foi “ele morreu” ou se “ele faleceu”. É estranho porque sempre pensei que estes tipos de palavras ficassem queimadas no precipício do meu ser. No entanto, não ficou. O que ficou, foi uma cicatriz no meu coração, e pode ser extremo dize-lo, mas juro que é verdade. Uma cicatriz num evidente órgão que bombeia sangue, uma cicatriz maior que ele próprio. E o que não faz sentido é como é que uma palavra pode doer num órgão? Mas se formos a ver bem as coisas, tu também eras, no fundo, só um conjunto de pele, órgãos, sangue e músculos comandados por um cérebro, contudo e indo para além do óbvio, o cheiro da tua decomposição nos lençóis nunca conseguiu vencer o cheiro do teu cabelo na fronha da almofada, e ambos doem-me no coração, numa dor igual e absoluta.
E isto tudo, porque hoje, quando acordei, lembrei-me do gatinho que tínhamos que morreu ainda pequenino no escritório. Ficamos a noite toda acordados para ele não morrer sozinho e quando ele deixou de respirar eu encostei os meus dedos ao peito dele para sentir o bater do coração, e ainda batia, o gatinho não respirava mas o coração ainda batia. Ainda depois de o coração deixar de bater eu sentia-o tremer debaixo da minha pele. Por vezes, eu ainda sinto o bater do coração dele nos meus dedos, como um relógio que funciona sabe lá deus de quê.

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