Houve um tempo que tu me amavas mais, paravas nas portas a
olhar-me como quem:
-vens comigo?
E nesse tempo que tu me amavas mais, eu nem sempre queria
ir, mas ia sempre. Tu escrevias-me cartas, eu perdi-as, sei lá porquê, nuca por
mal. Tu não gostavas de falar ao telefone, mas ficavas do outro lado da linha. Tu
não gostavas dos meus amigos, mas pedias-me sempre para vir comigo. E eu nem
sempre queria, mas tu sempre vinhas.
Depois houve o tempo que eu te amei mais, parava ao teu lado
como quem:
- e eu?
E nesse tempo que eu te amava mais, tu não me respondias, davas-me
a mão só quando bebias, e nunca me atendias o telefone. E eu triste, eu destruída, eu iludida. Eu
amuava, chateava-me. Depois acabou, comigo a amar-te mais. E hoje eu já não paro
ao teu lado como quem:
- e eu?
A questão está no ar sempre que tu entras na sala, sempre
que tu passas de carro.