Eu juro que chorei a noite toda,
Mas apareci no trabalho de cara maquilhada.
Eu juro que vomitei no canteiro,
Mas sentei-me no banco a beber cerveja com outro.
Fico-me sem saber se te diga o que se passa aqui dentro,
Se tu não vais entender,
E ia só te pesar na culpa, e quem quer um homem que fica, mas
só atado?
Desenlaço-te as mãos com um nó na garganta e digo-te
- Vai lá.
Mas juro-te que tinha muito mais para dizer – Podia falar-te do sol nos teus ombros, de chegar a casa para ti, do desespero de saber que foste sempre fingido –
O futuro há de chegar,
Isso é certo,
E tenho a sensação que um dia haverás de saber o que sinto
em primeira mão,
Mas por outro lado,
Nem sempre é assim, pois não Deus?
A solidão só é destinada a alguns, e porque é assim Deus?
Talvez esteja em mim, criada por mim e que como uma premonição,
ataca-me quando menos espero.
Estes sonhos.
Os outros dizem-me que eu não falo muito,
Que guardo para dentro,
Mas a verdade é que eu não sei o que contar,
Porque dói como literatura, mas quando abro a boca parece uma
novela.
E o meu amor por ti, que eu pensei merecer um hino, recebe caretas.
Como sempre.
e de repente, tu chegas a casa e dizes,
(ai, como dói admitir)
- Eu dou-me muito bem com ela.
Com a tua mão a agarrar a minha,
E a minha mão branca da força que fazes,
Mas lá largas.
E eu fico a ver o amanhecer às voltas na cama,
A pensar na tua mão a agarrar a minha com força e:
- Eu dou-me muito bem com ela.
E toda a gente te elogia a honestidade,
e dizem-me calada, mas se eu abrisse a boca diria que não vejo
a honestidade,
só a tua mão a largar a minha.
Com intenção, com decisão.
E a honestidade, afinal era um pedido para sair da sala.
E já agora, de casa.
Para poderes bater com a porta sem eu ter que perguntar:
- Quando voltas?
Porque já sabia.