quinta-feira, 29 de novembro de 2007


- Se eu disser que Deus
É um grande filho da puta
Que, tudo vê mas nada faz
Estou a cometer um pecado que me condene a um inferno diferente deste?
Tu foges com uma pressa doentia, quase comestível
E eu fico, como testemunha da tua presença.
Nesse inferno, aposto que existem três damas de companhia que me vão apaziguar as dores de costas com chagas ainda mais duras.
Aposto que, nesse inferno, me vão alimentar com mentiras iguais às tuas. E em dias de festa até me vão dar mesmo as tuas, como presente.
Como dói (oh, se dói) a espera a que me obrigas.
E eu nem sei porque espero.
Mas deixo-me ficar.
O que não me faz querer arrancar os olhos com as minhas próprias mãos
São a minha fé e paciência imensas,
Mas quando elas me faltam é como se me tirassem a alma
Ou simplesmente a consciência de que a tenho
Foge, porque se eu tivesse pernas também o fazia.
Foge, antes que eles te alimentem com as minhas mentiras.
(As minhas são as mais venenosas, e corroem qualquer corpo.)
Foge, porque o Deus do céu tem um sentido de humor enorme.
Ele ri-se e ri-se de mim.
Como se a minha falta de sorte fosse uma anedota celeste.
E talvez seja, mas não me alegra a mim
Porque ela comicha-me o ser e sufoca-me.
Tenho dores nas pernas que não tenho.
E elas sangram de uma hemorragia interna antiga.
Tão antiga.
Foge de mim!
Porque eu sou a anedota preferida de Deus.

- Mas eu amo-te
Amo-te apesar das doenças que trazes agarradas ás letras do teu nome.
Amo-te porque tu aqueces-me com o teu frio
Amo-te simplesmente porque tu não desapareces e tentas, tentas mesmo, fazer-me sentir bem com o que o filho da puta me deu.
Eu amo-te com todas as minhas forças,
Mas as minhas são pequeninas e apagam-se só com palavras
Por isso desculpa-me se te fujo,
Fujo com a pressa de um caracol filho de uma hiena.

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