A esperança de ter tudo, roubou-me o que eu tinha. Roubou-te de mim, e tenho de confessar que achava tal impossível, porque melhor que outra coisa eu sabia de ti, do teu cheiro na fronha e o teu olhar cansado. De certa forma, é bem merecido. Fui infiel a ti, a nós. Mas acima de tudo fui infiel a mim e ao que eu jurei ser. Tenho que te admitir que me dói acordar na solidão e sentir este peso de inutilidade, ser jovem e ser inútil é doentio, um paradoxo.
Gostava que voltasses, mas eu sei que se o fizesses não serias mais tu, mas outra pessoa no teu corpo. A sentar-se ao meu lado, e a comer com o meu garfo. E sabes que eu sou incapaz de comer do prato dos outros, tirando o teu.
Sabes que eu sinto a tua falta, mas estas saudades tuas não são como as outras, são baças e negras. Fazem-me doer as articulações dos dedos e dos joelhos e comem-me o coração. Porque eu achei impossível perder-te, roubarem-te de mim, deixares-me. Eu não te queria magoar e quando sofrias a tua dor doía em mim. Que coisa estúpida de dizer, aposto que te rias (rias não, sorrias para dentro) se chegasses de facto a ler. Quem me dera poder por em palavras a falta que me fazes e vais fazer. Quem me dera por numa frase, numa palavra. Eu já tentei e sai-me torto, quem me dera que estivéssemos onde estávamos há dois anos e então eu não precisaria de dizer nada porque tu ouvias-me, e talvez olhasses para mim por um segundo, mãos nos bolsos e um sorriso calado. Talvez não o fizesses e mesmo assim eu saberia que entendeste. Talvez por isto, por te saber de forma tão absoluta (inexplicável) pensei com certeza nunca te perder, chegar outra (odeio o nome dela, recuso-me a dizer o nome, as sílabas, o tom do nome. Não digas mais o nome dela, peço-te) e fazer de ti o que quer. E ela é ridícula, mete-me impressão só de olhar. Quem me dera que visses isso e voltasses, meu amor, mas tu e não outro alguém com o teu nome. Fosse tudo igual. Volta para mim, fica comigo. Tenho vergonha de dizer mais, tenho vergonha de pegar no telefone, porque talvez tu estejas com ela, meu amor, meu. Tenho vergonha de precisar de ti, de ouvir por entre as palavras que tu te esqueceste de mim. Dela na tua casa, a cheirar o perfume da tua mãe, a tocar nos troféus do teu pai. A ser eu em ti. Diz-me que, tal como eu, tu sabes que fomos feitos um para o outro – tudo, cada fio de cabelo, cada dedo – diz-me que te lembras de mim quando te deitas com ela, que me preferes a mim. Jura-me que eu sou mais doce, por mais loira, mais magra, mais alegre que ela seja. Jura-me que, tal como eu, tu vês-me como se vê a família, que é eterno e intenso, duro e indolente. Tenho vergonha de te ver, que tu me vejas, tu de mão dada com ela, a dançar com ela e alguém ligue a luz por amor de deus.
Eu queria ter tudo, e fiquei sem nada. Com um vazio no peito. Perdoa-me, porque deus me livre eu não quero morrer sem ti do meu lado.
Gostava que voltasses, mas eu sei que se o fizesses não serias mais tu, mas outra pessoa no teu corpo. A sentar-se ao meu lado, e a comer com o meu garfo. E sabes que eu sou incapaz de comer do prato dos outros, tirando o teu.
Sabes que eu sinto a tua falta, mas estas saudades tuas não são como as outras, são baças e negras. Fazem-me doer as articulações dos dedos e dos joelhos e comem-me o coração. Porque eu achei impossível perder-te, roubarem-te de mim, deixares-me. Eu não te queria magoar e quando sofrias a tua dor doía em mim. Que coisa estúpida de dizer, aposto que te rias (rias não, sorrias para dentro) se chegasses de facto a ler. Quem me dera poder por em palavras a falta que me fazes e vais fazer. Quem me dera por numa frase, numa palavra. Eu já tentei e sai-me torto, quem me dera que estivéssemos onde estávamos há dois anos e então eu não precisaria de dizer nada porque tu ouvias-me, e talvez olhasses para mim por um segundo, mãos nos bolsos e um sorriso calado. Talvez não o fizesses e mesmo assim eu saberia que entendeste. Talvez por isto, por te saber de forma tão absoluta (inexplicável) pensei com certeza nunca te perder, chegar outra (odeio o nome dela, recuso-me a dizer o nome, as sílabas, o tom do nome. Não digas mais o nome dela, peço-te) e fazer de ti o que quer. E ela é ridícula, mete-me impressão só de olhar. Quem me dera que visses isso e voltasses, meu amor, mas tu e não outro alguém com o teu nome. Fosse tudo igual. Volta para mim, fica comigo. Tenho vergonha de dizer mais, tenho vergonha de pegar no telefone, porque talvez tu estejas com ela, meu amor, meu. Tenho vergonha de precisar de ti, de ouvir por entre as palavras que tu te esqueceste de mim. Dela na tua casa, a cheirar o perfume da tua mãe, a tocar nos troféus do teu pai. A ser eu em ti. Diz-me que, tal como eu, tu sabes que fomos feitos um para o outro – tudo, cada fio de cabelo, cada dedo – diz-me que te lembras de mim quando te deitas com ela, que me preferes a mim. Jura-me que eu sou mais doce, por mais loira, mais magra, mais alegre que ela seja. Jura-me que, tal como eu, tu vês-me como se vê a família, que é eterno e intenso, duro e indolente. Tenho vergonha de te ver, que tu me vejas, tu de mão dada com ela, a dançar com ela e alguém ligue a luz por amor de deus.
Eu queria ter tudo, e fiquei sem nada. Com um vazio no peito. Perdoa-me, porque deus me livre eu não quero morrer sem ti do meu lado.