É assim que começa, um erro ortográfico numa tatuagem e depois tudo gira e gira, sugado pelo ralo da banheira, num vácuo de silêncio com as palavras na ponta da língua. Mas mesmo assim, sempre aquela impressão de faltar a palavra certa, uma fome pelo vocabulário exacto, qualquer coisa que traduzisse inteiramente aquilo que sinto. Acima de amor, acima de carência. Porque eu não sei bem o que fazer sem ti e como tal deixo-me cair nas saudades do teu cheiro a perceber desde quando é que as noites são escuras, nesta ausência de movimento e de luz. Como se as estrelas se tivessem isolado da minha presença, gritando: “chega!”, e o eco a propagar-se pelos corredores, nas lembranças de quem fomos enquanto heróis de nós mesmos. Naquele momento em que nos sentimos com razão de ser e tudo o resto tão pequeno, tão vulgar. Que falta de inteligência da tua parte a deixar-me nas esquinas só com um poema na planta do pé. E nem um poema dos verdadeiros, com alma e desespero, só mais um que escreveste enquanto enrolavas um cigarro deitado de barriga para cima. Mais que amor, mais que carência. Uma entrega exaustiva de quem sou eu na mais cruel das verdades, sem um véu, sem uma falta. Eu a conhecer o amor nas sua faceta mais dura, como uma tempestade, um raio bem no meio do peito, e o amor a corroer-me as veias enquanto eu sem confiança para o tratar por “tu”. E depois tudo gira e gira até cair num vácuo de silêncio, de pura ausência, da solidão na sua ostentação mais crua. E então o amor a olhar-me de lado, a queixar-se do meu cheiro. A girar e a girar, no começo de uma viagem sem destino, no palpitar do centro da terra. Mas eu a lembrar-me do sangue na língua, dos dentes ensanguentados, e eu a chorar ao telefone. Chorei tanto, tanto, mas tanto, até o telefone se afogar em mim, até eu engolir cada palavra que te disse, sem espaço para mais ninguém, numa saudade assassina, numa perda profunda. Nas tuas costas arranhadas e eu a querer voltar para o teu colo. Para sempre.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
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2 comentários:
TU nao fazes ideia de como escreves bem, nao fazes mesmo *
assim como não fazes ideia do que me conseguiste transmitir.
ha monstros. eu consegui estar um pouco dentro da vitima.
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