sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


Enfio a cabeça fora da janela,
E deixo o vento cortar-me,
Deixo o ar tirar-me o oxigénio e,
Berro-te para acelerares,
Tirares-me deste mundo
Mas não fazes caso de mim.
E andas à velocidade que te é permitida por alguém que não está aqui,
Por alguém que ás vezes te faz companhia ao jantar, quando entra pela televisão.
O meu cabelo meio loiro, meio castanho chicoteia-me na cara.
Mas não dói. Não há dor.
Só existes tu que bates com os dedos no volante e sorris para as minhas costas
Não vês a minha face mas sabes que eu estou a rir.
E isso faz-te feliz, como não te fazia há muito tempo.
E isso faz-me feliz como não me sentia há muito tempo.
O rádio canta qualquer coisa, dá a sua opinião.
Mas não fazemos caso dele.
Só existo eu e os meus braços que se agitam contra o ar.
Uma guerra que eu nem tento ganhar.
Nem tento.
E estou feliz, mais feliz do que da primeira vez que te vi.
Eu, feliz.
A velocidade que nos é permitida não me basta.
Quero mais.
Mais felicidade,
Mas do teu sorriso que se forma simplesmente porque o meu nasceu.
Mais, mais, mais.
E telepaticamente, tu pões o pé no acelerador e não tiras.
Não tiras.
Sempre,
Já não andamos, estamos muito acima da estrada, dos códigos, estamos muito acima do mundo, do universo.
Nós não voamos, nós nem existimos.
Felicidade delicada.
Mas depois fica demasiado.
Demasiado.
Enfio-me dentro do carro, há mais silêncio, há mais oxigénio, há mais calor.
Reduzes.
A velocidade e o sorriso.
Continuas a bater com os dedos no volante e o rádio não se angra,
Não me olhas.
Fecho os olhos e deixo os raios de sol entrar.
Deixo-os entrar.

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