domingo, 23 de dezembro de 2007

Fala devagarinho
Porque a tua voz já não é a mesma
Leva-me para longe deste campo de guerra,
Que eu já perdi as mãos e as pernas.
Leva-me para longe desta cidade governada por fantasmas e lendas
Leva-me para perto de ti ou de alguém que signifique o mesmo que tu
Fala devagarinho
Porque a guerra levou-te a melodia das vogais
Leva-me para junto delas.
Leva-me para outros dias e outros sons,
Porque as explosões levaram-me a audição e a visão
E eu não sei quem sou, eu sou ninguém e ninguém me protege.
A guerra levou-me o pai e a mãe,
Leva-me para junto deles e adormece-me com as cores que eu já não distingo.
Traz-me a poesia que escondeste no teu bolso.
Eu preciso de rimas e palavras mudas. Traz-me o arco-íris que escondeste nas veias.
Protege-me desta guerra que dura á séculos.
Protege-me desta guerra que me tirou a serenidade.
Olha para ti, endoideces-te! Olha para ti, olha para nós.
Fala devagarinho que eu já não te entendo. Olha-me, eu sou cega e muda.
Eu sou de ninguém porque eu nada sou.
Não tenho pernas nem mãos, mas o meu coração continua aqui, a bater-me na boca.
Ele não cessa. Ele não se cala. Eu rezo, mas ele não se cala.

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