sábado, 28 de fevereiro de 2009

After every party I die

E eu via-te a olhar para trás,
E todos te viam a olhar para trás,
Com o queixo a tocar o ombro,
E os olhos presos ao chão,
No infinito que o chão pode ser,
E tu a fazer o barulho que só as pessoas vazias conseguem,
E o eco desse barulho a correr pelo meu sono,
A rouba-lo, a envenena-lo,
E os teus olhos levantam-se e estão transformados,
Não sei bem como, nem onde,
A forma como me olham perdeu-se,
E os teus grandes olhos castanhos não piscam,
E olham-me sem me falar,
E os teus grandes olhos castanhos já não são olhos.
Mas foram quando eu chorava a alma na cadeira vermelha,
E eles olhavam-me sem me tocar,
Fixamente como a boa educação proíbe,
Até a minha alma deixar de doer e se esconder onde a boa educação não a vê.
E eu lembro-me de ti a olhar para trás,
A olhar o chão como se o chão pudesse ser olhado,
E tudo em ti me parecia transformado,
E todas as minhas memórias de ti transformadas por essa tua forma de olhar para trás.
A qual eu nunca fui apresentada,
E a cadeira vermelha sozinha, deixada ao canto,
E a tua cama com os lençóis puxados,
Tudo arrumado no quarto,
O tempo é um assassino.
De mim, de nós.
O tempo destruiu a cadeira vermelha mas a cadeira ainda tem a força para me aguentar a alma moribunda,
E os teus olhos ainda tem a força para me prender,
No meio dos óculos do sol enormes a prender-me a respiração,
E eu a convidar-te para um cinema sem dinheiro no bolso,
E tu a dizer que
- Talvez.
E o talvez a doer-me nos ouvidos.
E os teus olhos que se demoravam em mim,
E eu fingia não ver, e os teus olhos fingiam que não era nada com eles,
E depois, mais uma vez.
E a cadeira vermelha á minha espera, fria sem mim.
E eu dava conta das horas
-tenho que ir.
E tu davas conta de ti
- Já?
E eu sem vontade nenhuma
- Tem que ser.
E tu repetias
- Pois, tem que ser.
E a vontade a enganar-me as pernas e os teus olhos presos em mim, no meio da multidão, no meio do silêncio. E a minha imagem reflectida nos óculos de sol, e eu olhar-me sem me ver, mas a ver-te a ti.
E o silêncio e a multidão, a enganarem-se. Mas nunca nós.
E eu:
- Já não é a mesma coisa.
E tu olhaste para trás, com o queixo a tocar o ombro e os olhos presos no chão:
- Só notaste agora?
E aquele barulho, aquele barulho que só a gente vazia consegue a ecoar-me no meu sono.
E eu já com falta da cadeira vermelha, de ti na cadeira vermelha. A dizer-me
- Já?
E eu sem vontade nenhuma
- Tem que ser.

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