sábado, 21 de fevereiro de 2009

When everything is lonely I can be my own best friend

É ano novo mas é fim de ano,
É as duas coisas, porque as duas são uma,
E isso acorda-me a memoria,
Porque eu sei um pouco sobre coisas distintas que nasceram do mesmo ventre,
Um pouco sobre liberdade passada,
E o que já passou, já não nos sabe ao mesmo,
Ás vezes muito melhor, ás vezes muito pior,
Como os livros que eu já li e esqueci, as páginas que eu já virei mas perdi-me pelas palavras,
As palavras que algumas eu guardei, outras mandei embora,
Porque ás vezes as palavras doem onde não deviam.
Nunca nada deve doer.
Mas doeu, e os anos são-me cicatrizes na pele,
E a minha pele não é a mesma, porque o tempo não a deixa,
E o tempo não é o mesmo porque não me cabe na palma da mão,
E consequentemente a minha palma da mão não é mesma.
É ano novo, e eu não sei mais por isso,
Eu sei que vi a primavera e o verão,
E elas viram-me a mim,
Mas o Outono e o inverno viram-me com outros olhos,
E falta-me a coragem para lhes perguntar o que é feito deles,
E falta-lhes a vontade de me vir gelar as pontas dos dedos.
Talvez pergunte para o ano que vem,
Porque ao contrário das pessoas eles voltam sempre,
E quando dizem ‘adeus’ mentem.
É ano novo e eu sou quem nunca fui, quem nunca voltarei a serei.
É ano novo.

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