sexta-feira, 31 de julho de 2009

5:36 am


Já vai algum tempo desde a última vez que fizemos isto. Eu no banco de trás e tu a fingir-te concentrado na caixa de mudanças. Eu a engolir as palavras e o vómito, e tu calado. Já vai algum tempo, mas eu ainda me lembro do sabor das saudades, do teu riso a prolongar-me o corpo, e que saudades que eu tenho tuas. Eu sinto-te a falta todos os dias desde o dia em que parti. Sinto-te a falta nos dias de chuva, em que os cabelos gelados quase do mesmo tom, eu e tu deitados no tapete, ou sentados como pedras no sofá, tu a morrer de frio e eu a tentar chegar a ti. Sinto-te a falta nos dias de sol, das t-shirts e dos óculos de sol, do tempo ser sempre pouco, e de tão pouco quase que vão. Falso, tudo parte de um sonho. Sinto-te tanto a falta que ás vezes penso ser mentira, que nasci ao contrário, que morri antes do tempo (não morrem todos?), que nasci corcunda. E eu a sentir-te a falta nos poros da pele, nas coisas, nas ruas, nas praças. Eu a sentir-te a falta em Lisboa, e Lisboa debaixo dos meus pés mas eu sem a reconhecer, pois que de tantas saudades penso ter morrido, mas sem o ter feito de todo. Como quem morre sem avisar, sem se apresentar. Como quem morre – perdoem-me a repetição – antes do tempo. Tenho a certeza, acima de todas as outras certezas, que tu foste o homem da minha vida, que todos aqueles que eu conheci aos doze anos foram as pessoas da minha vida. Tenho a certeza que o que em falta em mim, estava em vocês. Mas – Deus! – vieram todos antes do tempo. Mais ninguém teve em mim a mesma força. De uma entrega tão completa que doentia. Já vai algum tempo, mas ter-te outra vez rouba-me as rugas.

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