quinta-feira, 27 de agosto de 2009

I recognize your off-white lies, still, I lie beside you – and that’s what really hurts.

Se eu pudesse ser quem tu querias ter, talvez o meu corpo não rastejasse e sabe deus até se aguentava em pé. Eu lembro-me das tardes de verão, tu em minha casa mas como um peixe fora de água, sem saber onde por os pés, que ar respirar. Ás vezes queria voltar a um desses dias e parar-te:
- Tem calma. Já falta pouco.
E talvez assim tu me desses a mão e em vez de pele eu sentisse todos os nervos, cada pormenor da tua impressão digital, como da primeira vez. Me agarrasses as pernas num único movimento e me mandasses:
- Cala-te.
E os teus olhos a calarem-me a alma, ás vezes de um escuro embrenhado outras de cor de mel. E eu a dizer-te isto e tu a rir de mim. Tu em minha casa, e eu de uma felicidade imensa, quase ridículo. Se eu pudesse voltar a esses dias de verão em que o tempo de um cigarro era sempre demais, eu tocava-te no cotovelo e talvez com a gravidade na voz:
- Tem calma. Já falta pouco. Mais uns meses e deixas-me por ela.
E talvez tu te risses e então:
- Cala-te.
E os teus olhos nos meus e eu sem saber quem sou – sou o que tu quiseres que eu seja, tu sabes que sim – respondo pelo teu nome, porque ele sabe sempre melhor que o meu. E por favor, a tua mão na minha, até eu ser mulher dentro de ti e tu homem fora de mim. Se eu soubesse que tu decidirias morrer não dentro do meu ventre (imagina a verdade disso) mas do dela, eu:
- Tem calma. Já falta pouco.

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