sexta-feira, 13 de junho de 2008

Corpo, alma e mente


Houve uma altura em que eu realmente pensei que se pedisse o suficiente tu voltarias.
Mas tu não voltaste.
E eu pedi com toda a força do meu ser.
Corpo, alma e mente.
Houve uma altura, que tu estiveste aqui.
Nesta terra de ninguém.
Houve uma altura em que tu disseste que valia a pena.
Mas não valeu.
Não valeu pelo simples facto de ser eu.
E dentro de mim não haver verdades poéticas, história, tesouros.
E desde quando vale a pena um ser vazio?
Diz-me tu, sábio de dogmas, professor de vida.
Diz-me porque te foste embora.
Antes de me ensinares a fazer o luto pelo que decide partir.
Antes de me ensinares a esquecer, andar em frente, viver sozinha.
Diz-me quais foram os males que eu fiz.
Houve uma altura em que tu me sentavas numa estrela e me apresentavas as outras.
Tratava-as por “tu” e dizias-te rei de grandes cometas.
E eras. O mal era todo esse, tu sempre foste tudo aquilo que dizias ser.
Ainda o és.
O mal foi eu nunca ser, embrulhar-me, a mim e a ti, em farrapos de mentiras, em lençóis imorais.
Podia-te pedir desculpa, mas eu não o sei fazer.
Podia-te telefonar, mas não sei que nome tomas por estes dias.
Podia então, partir numa viagem individual, visitar a Grécia e a Itália, trazer de lá cheiros e saberes que Portugal nunca me poderá dar.
Podia, nesse tempo, conhecer-me a mim mesma, para assim nunca mais me desiludir comigo própria.
Podia depois voltar, voltar para ti.
E dizer-te, mudamente, tudo aquilo que o meu corpo vomita, berra e esperneia.
Podia dizer-te que a minha vida não tem sabor,
Que com o tempo, acredito que fiquei daltónica.
Que, resumidamente, te amo.
E talvez assim, tu percebesses professor, mestre, pai e avó meu.
Que tu significas mais para mim do que deveria ser humanamente possível.
Talvez assim eu te possa dizer exactamente onde me dói.
Eu te possa apontar o veneno que me corrói,
As palavras que eu não consigo perdoar,
As pessoas que eu não consigo esquecer.
Professor meu, deixa-me ensinar-te eu algo:
A saudade, combinada com o tempo, não mata, não queima. Nada faz, na verdade.
Forma, porém, rugas na pele mais jovem.
Lava a pigmentação dos olhos mais escuros.
Repara em mim, uma última ou primeira vez.
Mestre meu, o que eu sempre quis foi ser um bocadinho de ti.
O que eu sempre quis, sempre, foi ter o teu vulto como meu.
Leva-te daqui.
A tua memória, o teu cheiro.
Que eu não aguento, houve tempos, sim, em que eu me achei capaz de te esperar eternamente.
Mas não mais.
Adeus, meu todo, meu eu, meu riso.

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