Sentou-se, de pernas cruzadas e de cara enfiada entre as grades da varanda. Escondida. Como se estivesse a cometer um crime, e talvez estivesse, sabe-se lá, nos dias de hoje.
Ele apareceu, de mochila pendurada no braço á espera de ser atirada para o chão. Ela apurou os sentidos, e escondeu-se melhor, como se estivesse à caça. E não estaria? Sofia sentia que estava, ou então sentiu que se transformou num lobo. Um lobo esfomeado, sem sentido do que estava certo ou errado.
Ele, a vitima, era bonito. Grosseiramente bonito, se existe esse tipo de beleza. O maxilar marcado, a pele tatuada pelo sol. Podia-se dizer sensual, mas ‘sensuais’ são as mulheres de cinquenta anos, não ele, ele era forte, duro, homem. Distante. Demasiado distante.
Sofia apoiou as mãos nas grades, era sempre assim, por aquela hora ele e os amigos apareciam por baixo do prédio dela e lá ficavam a fumar, a andar de bicicleta, a perder tempo, porque naquela idade tempo é coisa que nunca falta. Muito menos a Sofia, Sofia tinha tempo que chegue. Mas naquela meia-hora, em que ele e os meus ficavam ali à espera que o sol desistisse de os ver, o tempo parava para Sofia.
O tempo parava nele, nos olhos castanhos-escuros dele, daquele castanho que não muda, faça chuva ou sol, daquele castanho que é preto, que é branco, que é da cor da alma do ser humano, e a dele era sombria como a alma dos homens deve ser. E Sofia via-os, mais que isso sabia-os de cor. Sabia-lhes as rugas que ainda não eram rugas mas sim enfeites de artista, sabia-lhes as tempestades e as marés. É o milagre do olho humano, que pode ser uma verdadeira lupa, um telescópio, capaz de remexer nas profundezas de um ser que se esqueceu que era ser.
Ele, muitas vezes, limitava-se a escutar os amigos que falavam tão alto que Sofia os conseguia ouvir do segundo andar. Escutava de mãos nos bolsos, com a cabeça -imaginava ela – cheia de opiniões que fariam inveja a Einstein.
Ela sentia-lhe o cheiro como se ele fosse um jardim. Como se a volta dele não houvesse um mundo. Ele estava tão longe, mas ela sentia o cheiro dele. O cliché do “tão longe, mas tão perto”.
Ele devia ter a pele espessa como a de um pescador, meticulosa como a de um pai, morna, quente e fria como a de um amante. Sofia sabia que ele a tinha, e que melhor prova que o sexto sentido feminino?
O mesmo sentido que lhe berrava por entre o sangue que ele era feito para e por ela. O mesmo sexto sentido que lhe apurava os restantes, lhe roubava a respiração.
Quando ele fazia força trincava o lábio inferior, e quando a cor vermelha viva lhe voltava ao lábio, Sofia perdia a sua. Não só a cor, mas também a lei – a maldita lei – que diferenciava os humanos dos animais. Humanos de vampiros. Humanos de canibais. Sofia do rapaz.
Ela sabia a que é que ele sabia, sabia-o pela boca do olhar. Boca que ouvia o tom de voz dele ao longe e o saboreava, ele tinha qualquer coisa de oceano, um trago de conchego.
Ele era sinónimo de poder, com os braços cruzados sobre o peito, com os dedos morenos e largos, com o sorriso elástico.
O sol adormeceu, ele pegou na mochila atirada para o chão e foi-se embora. Partiu. Assim, simples. Sem sequer olhar para trás, sem olhar para o alto do segundo andar de Sofia. A torre que lhe aprisionava os sentidos, cenário dos seus sonhos e fantasias.
Ele foi, ela ficou.
Ele apareceu, de mochila pendurada no braço á espera de ser atirada para o chão. Ela apurou os sentidos, e escondeu-se melhor, como se estivesse à caça. E não estaria? Sofia sentia que estava, ou então sentiu que se transformou num lobo. Um lobo esfomeado, sem sentido do que estava certo ou errado.
Ele, a vitima, era bonito. Grosseiramente bonito, se existe esse tipo de beleza. O maxilar marcado, a pele tatuada pelo sol. Podia-se dizer sensual, mas ‘sensuais’ são as mulheres de cinquenta anos, não ele, ele era forte, duro, homem. Distante. Demasiado distante.
Sofia apoiou as mãos nas grades, era sempre assim, por aquela hora ele e os amigos apareciam por baixo do prédio dela e lá ficavam a fumar, a andar de bicicleta, a perder tempo, porque naquela idade tempo é coisa que nunca falta. Muito menos a Sofia, Sofia tinha tempo que chegue. Mas naquela meia-hora, em que ele e os meus ficavam ali à espera que o sol desistisse de os ver, o tempo parava para Sofia.
O tempo parava nele, nos olhos castanhos-escuros dele, daquele castanho que não muda, faça chuva ou sol, daquele castanho que é preto, que é branco, que é da cor da alma do ser humano, e a dele era sombria como a alma dos homens deve ser. E Sofia via-os, mais que isso sabia-os de cor. Sabia-lhes as rugas que ainda não eram rugas mas sim enfeites de artista, sabia-lhes as tempestades e as marés. É o milagre do olho humano, que pode ser uma verdadeira lupa, um telescópio, capaz de remexer nas profundezas de um ser que se esqueceu que era ser.
Ele, muitas vezes, limitava-se a escutar os amigos que falavam tão alto que Sofia os conseguia ouvir do segundo andar. Escutava de mãos nos bolsos, com a cabeça -imaginava ela – cheia de opiniões que fariam inveja a Einstein.
Ela sentia-lhe o cheiro como se ele fosse um jardim. Como se a volta dele não houvesse um mundo. Ele estava tão longe, mas ela sentia o cheiro dele. O cliché do “tão longe, mas tão perto”.
Ele devia ter a pele espessa como a de um pescador, meticulosa como a de um pai, morna, quente e fria como a de um amante. Sofia sabia que ele a tinha, e que melhor prova que o sexto sentido feminino?
O mesmo sentido que lhe berrava por entre o sangue que ele era feito para e por ela. O mesmo sexto sentido que lhe apurava os restantes, lhe roubava a respiração.
Quando ele fazia força trincava o lábio inferior, e quando a cor vermelha viva lhe voltava ao lábio, Sofia perdia a sua. Não só a cor, mas também a lei – a maldita lei – que diferenciava os humanos dos animais. Humanos de vampiros. Humanos de canibais. Sofia do rapaz.
Ela sabia a que é que ele sabia, sabia-o pela boca do olhar. Boca que ouvia o tom de voz dele ao longe e o saboreava, ele tinha qualquer coisa de oceano, um trago de conchego.
Ele era sinónimo de poder, com os braços cruzados sobre o peito, com os dedos morenos e largos, com o sorriso elástico.
O sol adormeceu, ele pegou na mochila atirada para o chão e foi-se embora. Partiu. Assim, simples. Sem sequer olhar para trás, sem olhar para o alto do segundo andar de Sofia. A torre que lhe aprisionava os sentidos, cenário dos seus sonhos e fantasias.
Ele foi, ela ficou.
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