domingo, 9 de novembro de 2008

I guess that your truth, is just the ghost of your lies


Os fantasmas.
Vou começar por te falar dos fantasmas que eu (ainda) vejo.
Não porque te vão trazer algum saber mas porque eu não consigo tirá-los da cabeça,
Não consigo evita-los, fugir-lhes ou esquece-los.
Isto porque os meus fantasmas não são lençóis com dois buracos ou tarados de machado (antes fossem),
Os meus fantasmas são de pele e osso,
Mais do que eu,
Os meus fantasmas têm sabor, calor e vida.
Os meus fantasmas um dia trouxeram-me vida.
Mas, também, um dia fugiram-me com ela.
Fugiram-me.
Para onde eu não sei, mas para longe,
Mais longe do que o corpo alcança ou a mente imagina,
Eles fugiram do que eu não lhes soube dar,
Não por não tentar, mas por não ter.
Eu nunca tive o que os meus fantasmas procuravam.
Talvez, hoje, tenha.
Porque com o tempo a minha alma transformou-se,
E então, talvez eu hoje tenha. Ou então a minha alma é também só mais um fantasma e nada tenha que se possa agarrar.
Mas os meus fantasmas dormem comigo, aos pés da cama, a fumar com a janela entreaberta.
E pela janela entra um frio de Novembro que não me deixa dormir.
Mas – fica sabendo – que os fantasmas têm vontade própria, não fecham janelas porque tu lhes pedes, não se vão embora porque tu choras, não deixam de sussurrar porque tu dormes.
Os fantasmas são seres cruéis, que te pregam partidas tais como deixar fotografias por ai espalhadas, cheiros a deambular ou cores que queimam.
Mas não os culpes, porque a culpa não lhes cabe, é para isso que eles existem, na verdade.
Os fantasmas são sombras de pessoas que te esqueceram por vias da consequência, sombras que têm dedos quentes e unhas afiadas. E quando mordem, quando mordem os fantasmas não largam.
Por isso, é que te falo deles, por saber, como certeza, que as pessoas que tu amas hoje, um dia serão também fantasmas.
Vão entrar na tua casa sem bater a porta,
Destapar-te nas noites frias,
E roubar-te o apetite.
As pessoas que tu amas um dia, vão passar por ti sem te olhar duas vezes, sem sorrir, sem te abraçar com os braços apertados.
E vai-te doer, numa dor afiada, fria e louca.
E vai-te doer até tu já não te sentires, até tu já não te quereres sentir.
Mas aprende, não os podes mandar embora, tens de os deixar ir embora.
Não vale a pena fechar a trinco a porta da entrada; mas encher a casa, encher a cabeça, encher a alma.
Mas não te enganes, tu até os podes esquecer, mas um dia eles voltam, em avalanche pelo teu corpo abaixo e como por magia a dor que tu achaste enterrar está debaixo das tuas narinas, entre os teus dentes e nos teus joelhos. Tudo te dói. A vida dói-te.
Em relação a isso, não te sei aconselhar, porque não há verdade maior que a saudade. E a saudade vem-lhes dentro, como o sangue vem em ti.
Mas a vida é assim, e tu tens de ser dura, agarrar-te ao que tens com unhas e dentes. Tens de ser dura, porque os fantasmas (sejam eles loiros ou morenos) devoram-te viva.
Ás vezes estão sentados numa esplanada, ao volante, a andar com as mãos nos bolsos, mas devoram-te viva. Primeiro as pernas, depois o peito. O peito congela. E dói, eu juro-te, dói.
Mas deixa-me dizer-te que dor não é sinónimo de estar viva, não te deixes enganar que tu nunca foste parva nenhuma, dor é mau sinal. Nunca te esqueças disso, não deixes que te doa só porque é mais fácil que lutar, a dor ocupa tempo e espaço no nosso ser. Espaço e tempo que não lhe pertence.
Levanta o queixo, endireita as costas, sê dura! Deixa-os passar por ti na rua. Deixa-os virar a cara.
Afinal eles são só fantasmas. Estão mais que mortos.

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