sábado, 17 de outubro de 2009

Novembro


Foi no primeiro dia de Novembro há tantos anos que eu já nem sei precisar mas eu lembro-me do teu olhar distante, quase perdido, a fitar-me por entre os lençóis. Faz-me comichão saber que o que tu viste nesse dia já não existe, como não existes tu, exactamente da mesma forma. Que o que tu viste de mim acabou por se transformar por entre outras cores, estas memórias de infância pesam-nos no corpo por entre a vida, e aprendemos a amar simplesmente quem as consegue entender. Foi há tantos anos que eu não sei precisar mas há coisas que nos apanham sempre de surpresa. Eu lembro-me que na esperança de algo te salvar eu ia com a senhora, que por aquela altura te fazia companhia, à igreja, fui lá mais vezes que ao teu jazigo, mas não me arrependo. Não quero ver o teu nome escrito a metal em parede alguma, espero que entendas. O que me toma o coração de assalto é saber que tudo o que é teu e que ficou já não é teu, tudo o que tu achavas verdadeiro transformou-se noutra coisa, ás vezes pergunto-me como é que o mundo continua a rodar depois de tanto tempo, depois de tanta perda, depois de ti a olhar para mim com o olhar tão perdido.

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