Se houve algum dia palavras proibidas, hoje não há rasto delas. Há papel e uma esferográfica preta. Há uma grande cama com os lençóis puxados para trás, todos desgrenhados, num quarto que não é tão pequeno como me parece neste momento. A janela que está aberta deixa entrar uma brisa que beija e enlouquece as cartas e o lixo, espalhado pelo chão de madeira. Tu estás sentado no meu lado da cama, com os cotovelos sobre as pernas abertas e a cabeça baixa. Estás de costas para as minhas costas. Eu estou sentada no lado oposto da cama, no teu. Tu não falas, eu não falo, mas não há silêncio no quarto. Não tenho a certeza, mas acho que é disso que estás a procura, de silêncio. A janela está aberta e hoje não é um dia de verão, o quarto não está quente mas está sufocante. Não consigo respirar.
Ontem, quando me fui deitar, encontrei-te estendido no meio da cama, com os braços e as pernas abertas. Como precisavas de espaço, ocupaste-o tudo. Deitei-me sobre o teu corpo, com a cabeça na tua coluna e a sentir o teu corpo a respirar. Quando acordei, tu já estavas sentado dessa forma, a janela já estava aberta. Não me movi, não falei. Mas tu viraste a cabeça para me olhar como se tivesses sentido que eu já estava de volta a ti. Não foi preciso falar. Eu percebi que as cortinas se tinham fechado. Acabou enquanto eu estava a dormir. Não pude aplaudir, não pude ver os aplausos do público. Saltei logo para os bastidores depois do final. As diferenças são colossais desde a última vez que aqui estive, antes do espectáculo. Está tudo sujo, tudo usado e silencioso. Não há as borboletas na barriga, nem os olhares desmedidos. Nem me apercebi realmente que a encenação decorria, ás vezes esquecia-me das falas, mas tu acabavas por improvisar sobre os meus erros. Ás vezes dizias as falas erradas, mas eu fingia que não as ouvia e apagava-as do ar, tornando-as noutras.
Viro-me de frente para as tuas costas, tu demoras a virar-te para mim. Acabou. Nada dura para sempre. Não ouvi os aplausos, se calhar não os merecemos. Não recebi os parabéns, nem ninguém me pediu autógrafos. E pelos vistos, pela maneira como me olhas, tu também não.
Ontem, quando me fui deitar, encontrei-te estendido no meio da cama, com os braços e as pernas abertas. Como precisavas de espaço, ocupaste-o tudo. Deitei-me sobre o teu corpo, com a cabeça na tua coluna e a sentir o teu corpo a respirar. Quando acordei, tu já estavas sentado dessa forma, a janela já estava aberta. Não me movi, não falei. Mas tu viraste a cabeça para me olhar como se tivesses sentido que eu já estava de volta a ti. Não foi preciso falar. Eu percebi que as cortinas se tinham fechado. Acabou enquanto eu estava a dormir. Não pude aplaudir, não pude ver os aplausos do público. Saltei logo para os bastidores depois do final. As diferenças são colossais desde a última vez que aqui estive, antes do espectáculo. Está tudo sujo, tudo usado e silencioso. Não há as borboletas na barriga, nem os olhares desmedidos. Nem me apercebi realmente que a encenação decorria, ás vezes esquecia-me das falas, mas tu acabavas por improvisar sobre os meus erros. Ás vezes dizias as falas erradas, mas eu fingia que não as ouvia e apagava-as do ar, tornando-as noutras.
Viro-me de frente para as tuas costas, tu demoras a virar-te para mim. Acabou. Nada dura para sempre. Não ouvi os aplausos, se calhar não os merecemos. Não recebi os parabéns, nem ninguém me pediu autógrafos. E pelos vistos, pela maneira como me olhas, tu também não.
Sem comentários:
Enviar um comentário