A cadeira vazia balançava, era o único movimento na sala. Numa sala cheia de fotografias, tapetes e coisinhas que não tinham bem um propósito. A parede verde tropa fechava a sala em sim mesma, tornando-a fria mas, no entanto, dando-lhe ar de casa, de lar. Dois opostos que se atavam ali.
Do sofá castanho torrado tu sorrias-me. Com um sorriso simples mas teu. Ajeitaste-te para eu caber e convidaste-me silenciosamente. Eu sentei-me no cadeirão ao lado sem te olhar.
Como as coisas mudam, tudo muda, mais cedo ou mais tarde. É inevitável. As pessoas mudam, crescem, envelhecem, nascem, morrem. Tu apodreces-te.
Voltas a desajeitar-te no sofá, ignorando a minha falta e tentando mostrar-te indiferente.
O que eu acho mais piada é que eu sempre te achei conhecer, e mesmo quando tu mudaste eu continuei a reconhecer-te. A única vez que me surpreendi contigo foi quando disseste que me amavas acima de tudo e todos, porque me mentiste.
Continuas a olhar para a televisão como se ela estivesse, realmente, a falar contigo. Continuas a ignorar-me como se eu, realmente, não estivesse aqui.
Nós fomos uma grande bola de neve: eu estive do teu lado sempre que tu caíste, eu protegi-te, amparei-te, apoiei-te, amei-te. Tu serviste-me de escudo protector, a ideia da tua existência foi o suficiente para eu continuar em pé. Hoje, vivemos sobre o que passado confessou e isso não é suficiente. Pois não?
Tu desvias o olhar para mim e perguntas-me o que se passa de forma cansada e ofensiva. Eu respondo-te o famoso e original “nada”. Tu passas a mão pelo cabelo e encolhes os ombros brutamente.
Nós costumávamos andar de mão dada, de braço dada, de alma e mente dada. Tu costumavas-me mandar mensagens de bom dia, telefonavas só para a minha voz te acalmar, nós costumávamos rir como loucos, dançar como loucos, beber como loucos, amar como loucos. Mas tudo muda, certo? Tu começaste a ter muito que pensar e eu comecei a ter tanto com que me preocupar. Tu berravas comigo, eu berrava contigo. Nasceram em ti ideais que não eram teus e eu comecei a ver coisas que não devia ver.
Esticaste para alcançar o comando, desligas a televisão, e atiras o comando para cima da mesa. Esticas as pernas, pousas os cotovelos em cima delas e baixas o tronco. Olhas para mim.
Na tua forma de olhar. Quando tu olhas para mim o meu corpo pesa, as minhas pernas doem, os meus pulmões ressacam.
Perguntas-me se eu vou continuar assim, se eu acho que sou justa para ti. Dizes-me que estás farto, que tens problemas e que eu não te ajudo.
Eu ainda me lembro quando tu me puxavas para o teu colo e nós não falávamos sobre nada, mas falávamos durante horas e horas. Nunca, nessa altura, pensei que algum dia pudéssemos estar sentados em cadeiras diferentes e tu me pudesses dizer que eu não era o que tu precisavas. Nunca, em dia algum, eu pensei que nós não éramos feitos um para o outro. Que os nós dos teus dedos, os fios do teu cabelo não seriam para sempre só meus. Meus.
Eu respondo-te que tu estás sempre cheio de problemas, que não são problemas nenhuns, e que a teu ver, mais ninguém os tem.
Eu levanto-me e bato com a porta da sala, que mesmo que pareça um lar, já não é o meu.
Do sofá castanho torrado tu sorrias-me. Com um sorriso simples mas teu. Ajeitaste-te para eu caber e convidaste-me silenciosamente. Eu sentei-me no cadeirão ao lado sem te olhar.
Como as coisas mudam, tudo muda, mais cedo ou mais tarde. É inevitável. As pessoas mudam, crescem, envelhecem, nascem, morrem. Tu apodreces-te.
Voltas a desajeitar-te no sofá, ignorando a minha falta e tentando mostrar-te indiferente.
O que eu acho mais piada é que eu sempre te achei conhecer, e mesmo quando tu mudaste eu continuei a reconhecer-te. A única vez que me surpreendi contigo foi quando disseste que me amavas acima de tudo e todos, porque me mentiste.
Continuas a olhar para a televisão como se ela estivesse, realmente, a falar contigo. Continuas a ignorar-me como se eu, realmente, não estivesse aqui.
Nós fomos uma grande bola de neve: eu estive do teu lado sempre que tu caíste, eu protegi-te, amparei-te, apoiei-te, amei-te. Tu serviste-me de escudo protector, a ideia da tua existência foi o suficiente para eu continuar em pé. Hoje, vivemos sobre o que passado confessou e isso não é suficiente. Pois não?
Tu desvias o olhar para mim e perguntas-me o que se passa de forma cansada e ofensiva. Eu respondo-te o famoso e original “nada”. Tu passas a mão pelo cabelo e encolhes os ombros brutamente.
Nós costumávamos andar de mão dada, de braço dada, de alma e mente dada. Tu costumavas-me mandar mensagens de bom dia, telefonavas só para a minha voz te acalmar, nós costumávamos rir como loucos, dançar como loucos, beber como loucos, amar como loucos. Mas tudo muda, certo? Tu começaste a ter muito que pensar e eu comecei a ter tanto com que me preocupar. Tu berravas comigo, eu berrava contigo. Nasceram em ti ideais que não eram teus e eu comecei a ver coisas que não devia ver.
Esticaste para alcançar o comando, desligas a televisão, e atiras o comando para cima da mesa. Esticas as pernas, pousas os cotovelos em cima delas e baixas o tronco. Olhas para mim.
Na tua forma de olhar. Quando tu olhas para mim o meu corpo pesa, as minhas pernas doem, os meus pulmões ressacam.
Perguntas-me se eu vou continuar assim, se eu acho que sou justa para ti. Dizes-me que estás farto, que tens problemas e que eu não te ajudo.
Eu ainda me lembro quando tu me puxavas para o teu colo e nós não falávamos sobre nada, mas falávamos durante horas e horas. Nunca, nessa altura, pensei que algum dia pudéssemos estar sentados em cadeiras diferentes e tu me pudesses dizer que eu não era o que tu precisavas. Nunca, em dia algum, eu pensei que nós não éramos feitos um para o outro. Que os nós dos teus dedos, os fios do teu cabelo não seriam para sempre só meus. Meus.
Eu respondo-te que tu estás sempre cheio de problemas, que não são problemas nenhuns, e que a teu ver, mais ninguém os tem.
Eu levanto-me e bato com a porta da sala, que mesmo que pareça um lar, já não é o meu.
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