segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

when you forget her, don't you dare remember me


Porque o fim das coisas não chegam com um sorriso,
Nunca chegam com um sorriso.
E foi isso que eu te tentei dizer antes de tu virares as costas naquela presa que sempre foi tua.
Nunca minha, nunca eu tive presa de te fugir.
E nunca a tua presa foi minha, porque tu nunca ma deste.
Não que eu não te tivesse pedido, implorado á porta da tua casa que sempre, sempre esteve entreaberta.
Nunca aberta, nunca fechada.
- Fica.
E tu não ficavas, na tua pressa de correr, de viver o que não havia para viver.
- Fica.
E tu não ouvias, com o peito ausente.
Mas ás vezes choravas, choravas com as mãos na cabeça, com um berro mudo.
E eu:
- Pelo menos tens-me a mim.
E tinhas, e tens. Porque eu nunca te menti, eu nunca, nunca te menti.
- Eu sei.
Mas o teu saber nunca foi o teu querer.
Porque eu sempre te amei para além de ti, eu via-te para além de ti, e para mim isso era suficiente, mas não era para ti,
E eu lembro-me de chegares com os olhos cegos, com o corpo morto, chegares sem pontuação, sem frases completas, e eu lembro-me de não me importar, tu chegavas, no entanto não estavas mas não eu não me importava porque tu chegavas.
Tu chegavas.
E na insegurança com que tu me envenenavas o meu corpo partia-se,
Em dois, em três, em mil.
E eu cega de ti, faminta de ti.
Porque tu, por vezes, chegavas.
E quando tu chegavas o meu corpo deixava de doer,
Eu via-te para além de ti,
Gigante, tão maior, tão maior que eu.
A carne tua que eu te tentei mostrar, porque eu queria em troca da minha.
Eu olhei-a vezes sem conta, toquei-a vezes sem conta. A tua carne, a tua pele.
Mas para ti não era suficiente, simplesmente não era suficiente.
Não penses que eu não sabia, eu soube-o sempre.
Quando nós falávamos pelas 6 da manhã – as conversas pelas 6 da manha são sempre as verdadeiras – tu nunca dizias o meu nome, tu nunca dizias sentir a minha falta.
E eu dizia o teu nome, eu dizia a falta que me fazes e como o meu mundo é perdido.
Não penses que eu não sabia, e as coisas chegavam ao fim, a noite caía, sem um sorriso, sem um abraço – nem contra o invisível – e eu tentava-te dizer
- Eu não posso ficar assim.
E tu dizias:
- Só mais um bocadinho, eu talvez mude.
Eu talvez mude de voz, de corpo, de sangue.
E tu mudavas mas sempre para pior.
E eu mudava não contigo, mas para ti.
Na imensidão que tu eras em mim, as coisas chegavam ao fim.
Sem um elogio, sem um: obrigado pelo que me deste.
Nunca um obrigado, nunca um: não há ninguém como tu.
Nunca eu, sempre tu.
A noite caia nas luzes da rua, e os monte e vales eram areia, pó de ti.
E eu:
- Fica.
Comigo. Para sempre.
E tu ouvias o que ela dizia, tu sempre ouviste o que ela dizia, nunca eu, mesmo quando mo prometias.
Nunca eu e tu, sempre tu e ela.
Ás 6 da manha, era sempre o nome dela, a saudade dela, o quanto ela te doía. E era tudo tão presente de tão pouco que era.
Eu era pouco, simplesmente era pouco.
Mas eu sabia-me muito, no entanto sentia-me pouco.
E quantas vezes tu não choraste nos meus lençóis?
E eu sabia lá o que fazer, o que te dizer.
A tua dor senti eu vezes sem conta.
Sempre, vezes sem conta.
Mas mais ainda, eu sentia a minha dor porque tu nunca choraste por mim,
Pela minha falta.
- Pelo menos tens-me a mim.
E silencio, ocasionalmente um:
- Eu sei.
E um dia tu deixaste de chegar, e eu deixei de ver para além de ti.
E doía-me, porque eu nunca vi ninguém como (não) te via a ti.
Porque eu sei que nunca hei-de conseguir ver alguém da mesma forma.
Porque tu levaste essa parte de mim, nos teus nunca eu.
Nos teus nunca obrigado.
Nos teus nunca
- Fica.
Fica. Fica. Fica.
Até “ficar” já não ser um verbo, mas um suspiro.
Deixar de ser palavra, para ser som de alma.
Tu nunca ficaste, mesmo quando eu te dei a mão na tua doença.
Mesmo quando eu esgotei a voz para falar por ti.
E tu sempre:
- Que depressão.
E então:
- Pelo menos tens-me a mim.
O que me dói essa frase, que dor me traz a recusa do meu orgulho.
Que dor esta que me traz solidão, porque eu só queria que tu me amasses da mesma forma, com a mesma força que eu te amava.
Que tu nunca me tivesses mentido, como me mentistes, traído como traíste.
- Só mais um bocadinho, eu talvez mude.

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