quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Why don't you remember my name?


O que as pessoas levam de ti não devolvem,
Nem agradecem.
Por vezes, se tiveres sorte, elas voltam.
Mas as pessoas que partem são sempre aquelas que tu queres mais. E essas nunca ficam.
Como o silêncio surdo com que tu me olhavas, como se fosse pecado e a culpa fosse minha.
Mas eu adorava esse olhar que era teu mas meu,
Como pássaros em cima das nossas cabeças,
Nos dias quentes de verão.
Em que tu sabias o meu nome, e o meu nome tinha sabor nos lábios, nos dias.
Mas isso foi antes, nos tempos em que os teus olhos me chamavam e as calçadas embranqueciam.
Isso foi antes de tu fechares os olhos, de adormeceres sem viveres.
Hibernares nas mentiras bebidas.
Na ignorância de mim, de quem eu fui, de quem eu sou.
O que as pessoas levam de ti não cabe na caixa de correio,
Nem pode ser discutido por telefone.
Uma vez roubado é atirado para um imenso buraco negro – para onde foi o meu nome – e não volta, e ninguém se lembra, e ninguém procura.
As memórias ficam como tatuagens escondidas na fisionomia perdida, mas um dia oferecida.
Na poesia que tu te esqueceste de me ler eu perdi-me em lágrimas,
Em soluços desmedidos, em loucuras femininas, em horas perdidas.
Eu sonhei com os teus olhos doces que pousaram nos meus.
Por momentos inalcançáveis, quase irreais, que se consumiram a eles próprios na minha ânsia de os reviver.
Na minha ânsia exaustiva de te ter. Na minha procura quase louca de ti. De quem tu foste, de quem tu és.
Mas eu tentei, e Deus, ou seja lá quem manda aqui, sabe. Eu tentei.
Para além do meu corpo, para além do meu domínio, para além das minhas forças, eu tentei ser-te. Ter-te.
Se eu não fosse quem sou: bêbeda da má sorte, prisioneira das vontades vagas, talvez o mundo girasse sempre para o mesmo lado e eu conseguisse acordar, um dia que fosse, com os pés dentro da cama e o teu cheiro na almofada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo, completamente *