terça-feira, 22 de julho de 2008

Era uma vez...


E assim foi,
A injustiça da solidão,
Os parâmetros da indiferença,
A carne que seca ao sol,
E as palavras que secam os dias de chuva.
E assim foi e como se não tivesse de ser, ficou,
Lambeu o chão em que te arrastas e as feridas que te fazem sangrar,
As mesmas feridas que não cicatrizam sobre verões e Invernos.
E tu disseste que não, berraste e fizeste crer que não havia motivos para ficar.
Mas mesmo assim ficou.
Apesar das trovoadas, das tempestades, de Deus e dos mortais berrarem-lhe aos ouvidos que não.
Ela ficou.
E deitou-te a cabeça no colo que é ventre e falou-te de tempos vazios e de outros cheios. Mas sempre com uma tristeza presente na voz e nos olhos pretos.
Uma tristeza profunda e dorida.
Mais uma cicatriz.
Uma que tu nunca lambeste ou beijaste.
Mais uma, portanto, nos olhos pretos que te olharam e
Nas mãos compridas que te tocaram.
E depois, partiu.
E assim foi,
Mais uma história de amor.
Sem suspanse, sem morte, sem promessas.
Ela foi e tu ficaste, com saudades do riso agudo e triste,
Dos óculos de sol enormes na cara miúda.
Dos pulsos morenos e das pestanas escuras.
Ela foi, e com ela levou os fim de tarde debaixo do limoeiro.
Os sorrisos mútuos e os desenhos assinados por ti.
E assim foi,
A alegria de não estar sozinho,
A dor que nasce com a nossa alma,
Os odores distantes que são primos dos nossos conhecidos.
Os apelidos que ficam no ouvido.
Perdidos, escondidos.
E assim foi.

Sem comentários: