Acordei ás 9 horas da manhã.
E quando entrei no teu quarto, ainda de pijama,
Tu perguntaste-me o que é que eu queria.
Mas hoje, o português não é a minha língua e tu não me pareces um ser humano.
Hoje acordei com um tremor de terra,
Um tremor de terra que só ocorreu debaixo da minha cama.
E quando dei conta de mim já estava atrasada, e tu continuavas a berrar:
“Para onde é que vais?” e “o que é que queres?”.
São 9 da manha, e ninguém devia ser obrigado a acordar assim de madrugada e muito menos ouvir alguém berrar numa língua estrangeira.
Quando chego ao pé dele, ele tem as mãos na cabeça e os ponteiros do relógio espetados nos olhos, ele sangra e sangra e sangra.
Mas não há sangue, só a ideia de que ele sangra.
E enquanto ele me diz que eu estou atrasada de uma forma bastante exagerada faz-me lembrar o meu avô.
Mas um avô que eu nunca tive ou vi.
E atrás deste avô, que não é meu, mas é velho, talvez demasiado velho, aparece um relógio gigante.
Um relógio sem ponteiros mas que se agita e canta.
Canta uma música que eu já conheci mas esqueci.
É a musica que este avô me cantava, antes de eu ser pessoa, animal ou alma.
E ele continua a avisar-me que eu estou atrasada num tom mecânico.
As duas mãos na cabeça e o cabelo castanho molhado. Inundado, até já não ser cabelo mas sim água castanha que escorre até aos meus pés.
E, repara, não é água, é fogo.
Ele agarra-me na mão e diz-me:
“Responde! Porque não respondes? Responde, responde, responde!”
Eco.
Mas como hoje a minha língua não é portuguesa, eu deixo-me estar calada, até ele entendes que eu não sei falar, escrever ou até ouvir.
E ele percebe.
Como, não sei, mas ele percebe-me.
E dá-me a mão, não a agarra, dá-me.
E eu aceito e ainda lhe dou a minha de volta.
E começamos andar, devagar.
Está silêncio. Ele entende-me.
E eu paro, e lembro-me de mim mesma ainda a dormir, a perder o toque da mão dele.
Coitada de mim mesma, ainda a dormir e com o terramoto debaixo da cama.
Ligo-me. Eu não atendo. Mas eu não fico preocupada e penso que sendo eu como sou, ainda nem sequer me devo ter ido deitar.
Afinal ainda são nove horas da manha.
E quando entrei no teu quarto, ainda de pijama,
Tu perguntaste-me o que é que eu queria.
Mas hoje, o português não é a minha língua e tu não me pareces um ser humano.
Hoje acordei com um tremor de terra,
Um tremor de terra que só ocorreu debaixo da minha cama.
E quando dei conta de mim já estava atrasada, e tu continuavas a berrar:
“Para onde é que vais?” e “o que é que queres?”.
São 9 da manha, e ninguém devia ser obrigado a acordar assim de madrugada e muito menos ouvir alguém berrar numa língua estrangeira.
Quando chego ao pé dele, ele tem as mãos na cabeça e os ponteiros do relógio espetados nos olhos, ele sangra e sangra e sangra.
Mas não há sangue, só a ideia de que ele sangra.
E enquanto ele me diz que eu estou atrasada de uma forma bastante exagerada faz-me lembrar o meu avô.
Mas um avô que eu nunca tive ou vi.
E atrás deste avô, que não é meu, mas é velho, talvez demasiado velho, aparece um relógio gigante.
Um relógio sem ponteiros mas que se agita e canta.
Canta uma música que eu já conheci mas esqueci.
É a musica que este avô me cantava, antes de eu ser pessoa, animal ou alma.
E ele continua a avisar-me que eu estou atrasada num tom mecânico.
As duas mãos na cabeça e o cabelo castanho molhado. Inundado, até já não ser cabelo mas sim água castanha que escorre até aos meus pés.
E, repara, não é água, é fogo.
Ele agarra-me na mão e diz-me:
“Responde! Porque não respondes? Responde, responde, responde!”
Eco.
Mas como hoje a minha língua não é portuguesa, eu deixo-me estar calada, até ele entendes que eu não sei falar, escrever ou até ouvir.
E ele percebe.
Como, não sei, mas ele percebe-me.
E dá-me a mão, não a agarra, dá-me.
E eu aceito e ainda lhe dou a minha de volta.
E começamos andar, devagar.
Está silêncio. Ele entende-me.
E eu paro, e lembro-me de mim mesma ainda a dormir, a perder o toque da mão dele.
Coitada de mim mesma, ainda a dormir e com o terramoto debaixo da cama.
Ligo-me. Eu não atendo. Mas eu não fico preocupada e penso que sendo eu como sou, ainda nem sequer me devo ter ido deitar.
Afinal ainda são nove horas da manha.
1 comentário:
Lendo só as primeiras linhas podia dizer-se que era a tua Titi xD
Escreves tão bem, Inês
:)
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