sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

human heart

Nunca pensei ser possível alguém aquecer-nos os pés durante um determinado tempo, desaparecer de um dia para o outro - só deixar o som da porta a bater como recordação - e mesmo assim, não obstante toda a falta de lógica da situação, aquecer-nos o peito para sempre, todos os dias.
A complexidade de quem sou, de quem tu és em mim como parte maior, é algo que vai para além da minha inteligência.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

It doesn't change the way I feel about you at the end of the day

Se estivesses aqui passava-te a mão pelo cabelo, muito inocentemente, dizias uma piada bem tirada e eu ria-me demasiado, muito inocentemente, eu contava-te uma história com um significado escondido para tu teres de procurá-lo na minha expressão de cara, muito inocentemente. Depois, quando chegasse a tua hora eu levava-te à porta e depois, chorava com um nó na garganta agarrada à almofada mas muito, muito inocentemente.

domingo, 6 de dezembro de 2009

18 anos

No que eu me tornei. É-me dificil gostar, mas relativamente fácil aceitar.

fear

Um dia acordei e o teu lado da cama não tinha sido desfeito.
(A verdade é que o meu medo nunca se baseou no que me iria acontecer de ali adiante, se me deixaste por outra ou porque eu te sufocava. O meu medo sempre foi tu esqueceres-me; o meu nome demorar a chegar-te à voz, não me mencionares nas tuas conversas sobre o passado. A tua partida foi um empurrão que a vida me deu, um balde de água fria, nunca mais fui ao sítio, sempre desmembrada, sempre com a voz aos tropeções. )

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

It's funny the things we finally learn

Existem pessoas que são lugares, e lugares que só existem pelas pessoas.

(Coisas antigas)


O que me fode mesmo são as outras gajas, sabes Manel? É imagina-las: jovens e magras, ainda a receberem a mesada do papá e a estudarem para os exames de matemática. Isso sim, dá-me cabo da cabeça. Quando vou almoçar com as meninas, até nos rimos da tua cara. Literalmente. Da tua monocelha e do bigode – que apesar de eu ter pedido, chantageado – tu decidiste deixar crescer.
Também nos rimos da tua maneira de rir. Arranjaste cá uma maneira, parecias uma hiena, ou uma foca, ou o bicho que nascia se os dois bichos andassem no truca-truca. Realmente até me admira que tenhas conseguido cravar o dente naquelas miúdas, seu Bibi. Até chego a ter pena delas, menos da Raquel, a essa podia-lhe cair o Carmo, a santíssima trindade e ainda o mundo em cima que eu cá não tinha pena nenhuma, e ainda lhe cuspia em cima.
Pois é Manel, arranjaste-as bonitas agora: a trazer a miúda cá a casa, com o cu a abanar e as cuecas de fora, se aquilo não estivesse a acontecer comigo até me tinha rido. Mas o caso era para chorar, não para rir. Só naquele momento, em que o bisonte me entra pela casa, é que me apercebi que tu me tinhas deixado. Abandonado. Desamparado. Todas as palavras que rodeiam a solidão. E lá entrou ela, com a mostarda no nariz a apontar-me o dedo. A mim, e a todas as “merdas rafeiras” que temos cá em casa. Pois fica sabendo, meu querido, que estas “merdas” foram compradas com as melhores das intenções, escolhidas a dedo. Sempre quis que tu e os miúdos se sentissem bem na casa que nós construímos, sempre fiz tudo o que pude para isso. Se não temos coisas mais bonitas é porque passamos por tempos difíceis, como tu sabes, como os miúdos – infelizmente – sabem. Mas como a Raquel ou as outras nunca poderão saber. E sabes, eu também tenho muita pena em não ter coisas mais bonitas, em não me vestir com coisas mais alegres em vez destes trapos que comprei quando ainda era solteira, mas quando me casei contigo prometi-te amar eternamente, até que a morte (e não a Raquel) nos separe, e amar dessa forma significa fazer sacrifícios, e eu fi-los. Já lá vão anos que eu não compro uma coisinha bonita para mim, tudo o que eu compro é para os miúdos e para ti, e isso deixa-me muito triste; ter que ir almoçar com as meninas com uns sapatos velhos ou com uma roupa gasta. Ir para o trabalho e ver-me ser pisada por meninas iguais às tuas amigas só porque elas tem maquilhagem e roupa mais bonita. É um mundo frio aquele lá fora, sabes Manel? É esse mundo que eu tentei sempre deixar fora da nossa casa, para os miúdos crescerem e serem mais que senhores doutores, serem Homens com H grande, como tu já foste. Tanto trabalho para nada, porque um dia estou eu muito descansada, a arrumar a cozinha, e tu entras-me com esse mundo frio pela mão, com o fio dental a sair das calças. Que vergonha Manel, que vergonha. Que desilusão. Logo tu que sempre me fizeste agradecer a Deus por te deitares ao meu lado, que adormecias de olhos abertos quando o Ricardo era pequeno e tinha medo de tudo, que te levantavas ao domingo de madrugada para veres os desenhos na televisão com os miúdos.
Que fiz eu? Eu nunca fui o tipo de mulher que tem “dores de cabeça”, nunca fui fria, e até me dou bem com a tua mãe que é uma bela peça de senhora. Eu nunca gastei mais do que tínhamos, nunca te deixei à espera, menti, ou embirrei sem motivo. Sempre estive do teu lado e fui uma boa mãe. Se envelheci Manel, pois bem, tu também, e eu não te abandonei por causa disso. Eu tive dois filhos teus e uma vida a passar por dentro do meu corpo, que querias tu?
Aqui estou eu, às duas da manha na nossa casa vazia, escura e fria. Sempre pensei que íamos os dois envelhecer nela, juntos. A lutar todos os dias contra a injustiça da velhice, a relembrar-nos mutuamente a grandeza do que fomos. Mas parece que eu vou morrer sozinha numa casa grande de mais, que um dia já me pareceu pequena.
Fui tua mulher durante trinta e dois anos. Trinta e dois anos. Catorze, vivi eu com o teu bigode, que por mais ridículo que seja, eu sinto falta. Sinto também falta do teu cheiro, e de noite quando eu tenho a certeza que nem Deus está a ver, eu cheiro a tua almofada e choro. Choro e berro, num desespero que me é proibido. Trinta e dois anos. Isso é uma vida. Eu tenho uma vida para chorar e fazer luto. E enquanto eu faço esse luto tu andas-me às cambalhotas com as Raquéis. Isso sim, é que me fode mesmo a cabeça. E foi isso que me fez mudar as fechaduras, aqui não voltas a meter o pé. Que é para ver se aprendes e deixas de ser parvalhão. Deves achar que eu me chamo Raquel, não?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

San jose


The hands you were given just don't seem fair. You playin with what you given and your doing fine. But you try not to think about it most of the time, you just do what you have to, to make sure you get through. But sometimes it hurts. *


* Joe Purdy

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Mas não te vás embora, por favor. Obrigada.


Depois de tudo, encontrar-te é uma forma de Deus dizer:
- Vês? Eu bem te disse que sim.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Goodbye Alice in Wonderland

Quando eu era pequenina ficava enrolada numa manta a ver a chuva bater na janela e talvez uma tia a mexer-me nos caracóis, a fazer-me uma trança com uma destreza incrível. E talvez a mesma tia, as mesmas mãos, na cozinha, e mais uma vez uma destreza incrível, pão com manteiga que me sabe hoje a saudade. A aquecer-me a pedra que sou, sem saber bem onde acabo porque já me sinto acabada faz tempo. Sem saber bem para o que tenho jeito, não tenho jeito para nada, como se fosse maneta, sem boca, sem vista. A acabar onde os outros começam. Sempre antes dos outros, ou a prolongarem-me o tempo, porque não me enervo com facilidade, não fico nervosa com o dia-a-dia. Que venha o que deus quiser, que eu não tenho mais sitio para ir.
Quando me roubaram as mantas e o som da chuva, roubaram-me a cor da alma e foi um sarilho nessa altura, porque ninguém me esperava e já nenhuma tia a elogiar-me os caracóis. E os caracóis a fazerem-me achar feia, porque já nenhuma trança no alto da cabeça e ninguém a pedir-me a mão nas passadeiras. Crescer é também deixar de ser amado. Ninguém a admirar-me a trança, e a minha mãe não mais a orgulhar-se de mim à porta dos gabinetes das colegas. E eu um pouco maior e tornar-me numa pedra por dentro, a fazer do meu corpo uma ilha, sei lá porquê que cresci assim, é a maneira que sou, não gosto que se cheguem, porque demoro a habituar-me aos cheiros, aos timbres da voz. Mas depois, quando me costumo não quero outra coisa, e é mais um sarilho, porque as pessoas tendem a aborrecer-se, sei lá porque, é a maneira que os outros são, a fazerem ruídos com os olhos (eu ouço sempre os ruídos dos olhos e põe-me louca, porque nada tem de semelhante com o som da chuva na vidraça, a força).
A força da chuva na vidraça, aquilo espantava-me, porque estava lá fora, e eu numa manta com uma tia a olhar por mim não fosse a menina magoar-se. Nunca fui de me magoar, mas mesmo assim, vai-se lá saber. Nunca fui de me magoar, e quando deixaram de olhar por mim, eu tornei-me numa pedra, porque não havia mais manta e não havia mais chuva na vidraça mas agora chuva no cabelo, na dobra das calças. E o pão com manteiga eu que o fizesse.
Não sei da tia, é estranho como perdemos as pessoas, num dia o corpo a abraçar-nos, noutro frio, calado. E ninguém a dizer-nos a verdade, a sussurrar por portas encostadas. E agora eu uma pedra, com medo do que os outros vão achar dos meus caracóis, acha bem tia? Talvez não seja assim tão pedra mas mais lama, com medo de crescer, com um medo de morte de envelhecer, ser a tia de alguém (difícil, porque falta-me a sua destreza de mãos) e depois o meu corpo frio, calado. E só um sussurro onde eu antes estava.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

walk away


Saber perder é uma virtude que eu nunca entendi. Nunca te soube perder, sempre a agarrar-te por um dedo, a guardar-te mais um dia. Mas foi num dia de chuva que eu te vi para além de meu, no teu todo que nunca me deixaste entrar. Foi num dia de chuva que eu fui dormir para o sofá. Foi, também, num dia de chuva que eu te dei espaço, mas agora não penses, nunca penses, que o fiz por ti, fi-lo porque acreditei que assim irias voltar, devagarinho, levar-me de volta para a cama, segurar-me no pescoço e
- Que disparate.
Saber perde-te foi um processo lento que me roubou demasiado, habituar-me à tua ausência, ao frio das tuas coisas esquecidas, às paredes vazias foi um mal maior. Mentiria se dissesse não te sentir a falta, sinto sempre, todos os dias. O mal está aí, na verdade.
Não penses, por um segundo que o fiz por ti, por altruísmo, fiz por mim. Tudo o que fiz foi por mim e pelo bocadinho teu que é meu. Perder-te foi algo que nunca pensei deixar-me fazer. Mas saber perder-te é, de certa forma, saber perder-me.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mumford & Sons

But tell me now where was my fault, in loving you with my whole heart?
You desired my attention but denied my affections

sábado, 7 de novembro de 2009

It was in love I was created and in love is how I hope I die.

But now my best friend, my partner in crime ,
I'm afraid it looks as though we're gonna have to go our separate ways,
Oh, you see, the thing is: I love you.
I love you. But you see, I resent you all the same and
All my other friends say you're just slowing me down.

Oh, but I should have known you'd turn to me and say,
Before you through too much of me away
Don't you remember watching the sun coming up easy
While the rain came tumbling down?

We watched the sun coming up easy *
*Paolo Nutini

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

500 days of summer

- I love her smile. I love her hair. I love her knees. I love how she licks her lips before she talks. I love her heart-shaped birthmark on her neck. I love it when she sleeps.
- I hate her crooked teeth. I hate the way she smacks her lips. I hate her knooby knees. I hate that cockroach shape splotch on her neck.

mensagem 201

O pior sentimento que tive a infelicidade de conhecer foi o arrependimento. Quando me lembro de ti, da tua caligrafia nos meus cadernos, dos teus dedos entrelaçados com os meus arrependo-me de cada um daqueles dias. E, foda-se, quem conheceu o arrependimento sabe que ele é primo da vergonha e melhor amigo do medo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009


Queria tanto dizer-te o que me fica no nó da garganta. Têm sido tempos difíceis, tu sabes, ninguém à minha espera, nenhuma voz que eu saiba minha. E o mal são os fins dos dias, o parar do tempo antes deste o ser, é o ver fotografias de outros tempos, e eu outra pessoa, e tu outra pessoa, de mão dadas. E quem sabe para onde esses tempos foram. E todos me perguntam, mas eu sem saber quem sou. A olhar pasmada para fotografias, e eu a parecer-me alguém que já faleceu, tão atenta, com os olhos presos, sem os mover. Nem um segundo, nem um milímetro. E o meu nome sem ser meu, e eu sem caber mais debaixo de ti, mas a insistir, a insistir. Até caber, até encolher ou crescer, sabe Deus o que me aconteceu. E eu a embirrar, a olhar para o que eu deixei fugir e agora tanta falta me faz, e a querer-los ainda como meus. Mas eu ao telefone
- Têm sido tempos difíceis.
E, de facto, não minto. São tempos difíceis. Contigo longe de mim, a olhar-me por cima dos óculos de sol e a dizer-me
- Fazes-me tanta falta.
E eu a lembrar-me das férias de verão, eu e tu a matar mosquitos com almofadas. E eu já a saber que um dia iria sentir a tua falta, só não pensei que tão cedo, tão forte. Queria-te dizer tudo o que me fica no nó da garganta, mas não sai, não me deixa e o meu mal é esse, ver que as coisas têm acerto quando me fogem. Agora chamam-te doutor e tu gabas-te do apelido, com a mão no peito. Mas e eu já naquele tempo - quando tu ainda de mão dada - a saber que te iria sentir a falta, que um dia me irias saber a cinza. E eu a falar e a voz a sair-me luto, de que falo eu que o passar das horas não levem? Queria tanto poder subir, bater-te á porta e talvez tu me soubesses receber outra vez, e eu, só mais uma vez, a ser eu por inteiro. Com nome, corpo, tudo. Sem me demorar nas fotografias e eu defunta em algum baldio. Nome, corpo, tudo. Alguém à minha espera, alguma voz que eu reconheça como minha. E o fim do dia chegar e um
- Até amanha.
E tu não me saberes mais a cinza, mas ao que sabias: a laranja e a sol nascente. E todas as minhas feridas lambidas, sem me doer o teu
- Fazes-me tanta falta.
Porque tu não mais na memória. Mas sim outros, e esses outros a gostarem de mim e não a virarem-me a cara, a olharem-me sem me verem, a gastarem-me o juízo quando eu nunca o tive.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

mensagem 199

Deus sabe que eu deixei de acreditar Nele há muito tempo.

domingo, 25 de outubro de 2009

mensagem 198


A vida dá umas voltas do caralho, não é verdade?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

pouco faz sentido hoje

E se algum dia eu me esquecer de ti, do teu cheiro em mim, será como perder um braço, um filho. Se algum dia eu não me lembrar da cor dos teus olhos, será o fim de uma vida perdida dentro deles, no negro da íris deles. E se algum dia eu falar de ti sem dor na voz, sem peso nas mãos é um fim da minha existência enquanto eu mesma. Se algum dia me esquecer dos dias de verão quando eu ainda era criança, de ti dentro da água, e eu sem saber, sem pensar no futuro será o fim de mil memórias feitas ao acaso.
Espero que não faça frio por aí, espero que não estejas sozinha, porque Deus me livre de saber que tu estás perdida, que eu vou ter contigo. Deus eu juro, eu vou ter contigo.

19-10-2009

sábado, 17 de outubro de 2009

Novembro


Foi no primeiro dia de Novembro há tantos anos que eu já nem sei precisar mas eu lembro-me do teu olhar distante, quase perdido, a fitar-me por entre os lençóis. Faz-me comichão saber que o que tu viste nesse dia já não existe, como não existes tu, exactamente da mesma forma. Que o que tu viste de mim acabou por se transformar por entre outras cores, estas memórias de infância pesam-nos no corpo por entre a vida, e aprendemos a amar simplesmente quem as consegue entender. Foi há tantos anos que eu não sei precisar mas há coisas que nos apanham sempre de surpresa. Eu lembro-me que na esperança de algo te salvar eu ia com a senhora, que por aquela altura te fazia companhia, à igreja, fui lá mais vezes que ao teu jazigo, mas não me arrependo. Não quero ver o teu nome escrito a metal em parede alguma, espero que entendas. O que me toma o coração de assalto é saber que tudo o que é teu e que ficou já não é teu, tudo o que tu achavas verdadeiro transformou-se noutra coisa, ás vezes pergunto-me como é que o mundo continua a rodar depois de tanto tempo, depois de tanta perda, depois de ti a olhar para mim com o olhar tão perdido.

"2nd best song of the decade"


And if I made a fool on the road, there's always this.
And if I'm sewn into submission, I can still come home to this
And with a face like a dad and a laughable stand,
you can sleep on the plane or review what you said.
When you're drunk and the kids leave impossible tasks
you think over and over, "hey, I'm finally dead."
Oh, if the trip and the plan come apart in your hand,
you look contorted on yourself your ridiculous prop.
You forgot what you meant when you read what you said,
and you always knew you were tired, but then,
where are your friends tonight?
If I could see all my friends tonight. *
* Lcd Soundsystem - All my friends

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

my heart told my head: "this time no"

A última vez que te vi tu tinhas o cabelo molhado, foi a primeira e última vez que te vi assim, mas sempre que penso em ti imagino-te de cabelo molhado. Não sei porquê, é uma estupidez. É quase tão estúpido como eu ainda ter vontade de apanhar um comboio para Lisboa, ou ligar-te e perguntar
- Porque raio é que nunca ligaste de volta?
Ficava-te bem o cabelo molhado.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Don't let me into this year with an empty heart

Talvez seja isto de que toda a gente fala, esta necessidade de ser notado. Mas eu tenho que te confessar que não me importava de ter a tua mão no meu bolso, um cabelo teu no meu casaco ou saber o nome do teu gato. Talvez seja disto que toda a gente fala, esta necessidade que nasce no sangue. Mas se for, tenho que te confessar que não tenho jeito para a coisa, e que fico sempre a um canto calada. Se isto for então crescer, é de certa forma uma desilusão, mas o que não é nos dias de hoje? Talvez o que eu tenho que fazer é as malas e apanhar o comboio das 6 e vinte. E nem uma foto tua na minha carteira, nem um bilhete ou uma carta, nada para me afogar de novo. Só um beijo na testa da minha irmã e um adeus mais demorado a um ou a dois amigos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

No, I don't even care

Quem me dera poder-te dizer tudo sobre mim, sentar-me contigo e dizer “foda-se, caralho” sem me sentir menos por isso. Quem me dera que viesses comigo pelo corredor e depois fazíamos planos para almoço ou para um café. E quando eu olhasse para ti:
- Até amanha.
Era uma promessa.

sábado, 19 de setembro de 2009

Ocean Breaths Salty


Well that is that and this is this. You tell me what you want and I'll tell you what you get.
You get away from me. Collected my belongings and I left the jail.
Well thanks for the time, I needed to think a spell.
I had to think awhile.

Well that is that and this is this.
Will you tell me what you saw and I'll tell you what you missed,
when the ocean met the sky.
You missed when time and life shook hands and said goodbye.
When the earth folded in on itself.
And said "Good luck, for your sake I hope heaven and hell are really there, but I wouldn't hold my breath."
You wasted life, why wouldn't you waste death? *
* - Modest Mouse

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

If I could see all my friends tonight


E as tuas mentiras a acentuarem-me a corcunda, e de repente, eu não mais pessoa, mas uma outra coisa qualquer, feita sem medida, sem tamanho. Só um nome sem nenhum agrafo, porque nunca um sorriso no momento certo. Como a profecia que deixaste no dia em que partiste ou então parti eu, no teu regaço, no bolso do teu blusão. Como uma caneta ou um talão. E eu a afogar-me nos teus gestos que diziam
- Chega-te para lá.
Mas sem o dizer de todo e a minha cabeça uma confusão. E as minhas pernas partidas. E quem diria? Todos os homens que amei, a não serem mais que rapazes, mas sempre tanto, que nem pedras no coração, a racharem-me o peito, e a pele que mais uma imensa chaga a trazer-me dores ás duas da manha mas a voz no tom certo por isso tu a desviar a cara. E quem diria? Os amigos a encherem-me o olhar um dia e noutro, a trovarem-no. Mas alguns a puxarem-nos a manga em gestos que dizem
- Chega-te para cá.
Nunca aqueles que pensamos, mas alguns ficam, agarram-nos na manga da camisola e
- Não é assim tão mau.
E ás vezes até é pior. E ás vezes, não há nada a fazer mas mesmo assim a manga presa. E para esse sentimento, esse abanar de ombros, esse
- Não é assim tão mau.
Não sei por em palavras, colam-se ao nó da garganta. Só um agradecimento, apontar o dedo e talvez dizer-lhes
- Obrigada por hoje.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

I still believe that this heart will learn to love

Há cicatrizes que não se chegam a fechar. Isto, porque quando fecho os olhos ainda vejo as mãos do meu avô, o abanar da erva no cemitério de Viseu e, ás vezes, os teus olhos a procurarem os meus. E sinto a tua falta por todo o meu corpo, nos dedos dos pés, nas pontas dos cabelos. Nunca amei ninguém depois de ti e ficou sempre um sabor de ausência na minha boca, a prolongar-me as palavras. Deus, há cicatrizes que nunca se chegam a fechar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

wolf from the door

É assim que começa, um erro ortográfico numa tatuagem e depois tudo gira e gira, sugado pelo ralo da banheira, num vácuo de silêncio com as palavras na ponta da língua. Mas mesmo assim, sempre aquela impressão de faltar a palavra certa, uma fome pelo vocabulário exacto, qualquer coisa que traduzisse inteiramente aquilo que sinto. Acima de amor, acima de carência. Porque eu não sei bem o que fazer sem ti e como tal deixo-me cair nas saudades do teu cheiro a perceber desde quando é que as noites são escuras, nesta ausência de movimento e de luz. Como se as estrelas se tivessem isolado da minha presença, gritando: “chega!”, e o eco a propagar-se pelos corredores, nas lembranças de quem fomos enquanto heróis de nós mesmos. Naquele momento em que nos sentimos com razão de ser e tudo o resto tão pequeno, tão vulgar. Que falta de inteligência da tua parte a deixar-me nas esquinas só com um poema na planta do pé. E nem um poema dos verdadeiros, com alma e desespero, só mais um que escreveste enquanto enrolavas um cigarro deitado de barriga para cima. Mais que amor, mais que carência. Uma entrega exaustiva de quem sou eu na mais cruel das verdades, sem um véu, sem uma falta. Eu a conhecer o amor nas sua faceta mais dura, como uma tempestade, um raio bem no meio do peito, e o amor a corroer-me as veias enquanto eu sem confiança para o tratar por “tu”. E depois tudo gira e gira até cair num vácuo de silêncio, de pura ausência, da solidão na sua ostentação mais crua. E então o amor a olhar-me de lado, a queixar-se do meu cheiro. A girar e a girar, no começo de uma viagem sem destino, no palpitar do centro da terra. Mas eu a lembrar-me do sangue na língua, dos dentes ensanguentados, e eu a chorar ao telefone. Chorei tanto, tanto, mas tanto, até o telefone se afogar em mim, até eu engolir cada palavra que te disse, sem espaço para mais ninguém, numa saudade assassina, numa perda profunda. Nas tuas costas arranhadas e eu a querer voltar para o teu colo. Para sempre.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

King if California

Catastrophe equals opportunity They searched all night, but they never did find Charlie's body. One of the cops asked me why Charlie jumped back into the hole. I told them it was where Charlie wanted to go. It was where he wanted to go all along. The cop looked at me like I was crazy, and stopped asking questions. What I didn't tell them was that if Charlie hadn't of tied me up, I probably would have followed him.

Kate Nash

I dont know how all people haven't got mental health problems, thinking is one of those stressful things i've ever come across

all the letters that I have never sent

Esta carta nada mais é que um pedido de perdão, ou se quiser ser honesta, de socorro. Tenho que te confessar que me é difícil falar de ti, agora que te foste embora. Tenho noites em que fico acordada a passar os olhos pelas horas e é aí que me lembro de ti e do tempo que ficou entre parênteses.
Esta carta não é mais que um roubar de consciência, um lugar-comum onde eu te posso encontrar por uma última vez e parar-te por um segundo ao dizer-te que me atacas em sítios que eu não sabia antes existir. Com isto não quero dizer que cresci com a tua fuga, porque sei que não o fiz. Envelheci; e sem o consolo da sabedoria. Sou jovem com o coração de velho. Partido de trás para a frente. A culpa não é tua, magoar os outros nunca está nos nossos planos. Se o fizeste foi porque não tiveste outra hipótese.
Esta carta não é mais que um beijo de despedida, uma forma de te dizer que te estou a esquecer, decidi ser senhora da minha alma, por mais velha que ela seja. Uma forma de te dizer que estou feliz por ti – enquanto possível – e que te sempre soube capaz de grandes feitos. Eu amei-te por entres os declínios das estações, por entre o queimar da pele, e as paisagens do país que é nosso. Que te amei nas estações de comboio, e no portão da escola. Amei-te da mesma forma impossível quando me disseste que isso não era suficiente. Mas amor como razão de ser é suficiente em todos os cantos do mundo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

I recognize your off-white lies, still, I lie beside you – and that’s what really hurts.

Se eu pudesse ser quem tu querias ter, talvez o meu corpo não rastejasse e sabe deus até se aguentava em pé. Eu lembro-me das tardes de verão, tu em minha casa mas como um peixe fora de água, sem saber onde por os pés, que ar respirar. Ás vezes queria voltar a um desses dias e parar-te:
- Tem calma. Já falta pouco.
E talvez assim tu me desses a mão e em vez de pele eu sentisse todos os nervos, cada pormenor da tua impressão digital, como da primeira vez. Me agarrasses as pernas num único movimento e me mandasses:
- Cala-te.
E os teus olhos a calarem-me a alma, ás vezes de um escuro embrenhado outras de cor de mel. E eu a dizer-te isto e tu a rir de mim. Tu em minha casa, e eu de uma felicidade imensa, quase ridículo. Se eu pudesse voltar a esses dias de verão em que o tempo de um cigarro era sempre demais, eu tocava-te no cotovelo e talvez com a gravidade na voz:
- Tem calma. Já falta pouco. Mais uns meses e deixas-me por ela.
E talvez tu te risses e então:
- Cala-te.
E os teus olhos nos meus e eu sem saber quem sou – sou o que tu quiseres que eu seja, tu sabes que sim – respondo pelo teu nome, porque ele sabe sempre melhor que o meu. E por favor, a tua mão na minha, até eu ser mulher dentro de ti e tu homem fora de mim. Se eu soubesse que tu decidirias morrer não dentro do meu ventre (imagina a verdade disso) mas do dela, eu:
- Tem calma. Já falta pouco.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Well, we can change our partners this is a progressive dance. But remember it was me who dragged you up to the sweaty floor. *


*Frightened rabbit

aptece-me um cigarro

Tu prometeste que ficavas comigo. Saber que acreditei nisso rouba-me mais o ar (uma estupidez de escolha de palavras, eu sei) do que ver-te com ela.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

but no time or energy to say it

E se beberes devagar o teu próprio veneno,
Não serás enquanto o fizeres, meu por inteiro.
Como foste em tempos cinzentos,
Mas que de tão breves quase efémeros.
Senão o teu nome ainda dentro dos meus lábios,
Esse sempre meu, porque tu mo deste numa noite dessas.
E nomes não podem ser roubados, só os corpos ou as palavras.
Esse guardo-o eu, podes dar-lhes tudo, mas o teu nome não beijara ninguém como me beijou a mim.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Time is contagious

Eventualmente, tudo se extingue. Enterra-se e nem sempre debaixo da terra. Fica á tona, ao nível dos olhos, e pessoas que dormiram com a cabeça na mesma almofada de repente não são mais que memórias, que bofetadas na cara. Nunca mais que isso. Ás vezes, doem onde não deviam, deixam cicatrizes nos cotovelos. Mas nunca mais isso. Tudo se extingue, muda de corpo, de substância. É química, é física. Quem me dera, poder dizer-te por outras palavras que vou ter saudades tuas quando partires de vez, mas são estas que me cobrem os dedos. Só tenho medo de morrer de tal doença, de um dia acordar e não sobrar mais nada. Só tu ao nível dos meus olhos e uma vontade louca de chegar até ti, de sermos outra vez parte maior de um segredo mal guardado.

I'm thinking back to the last day we had.

Não te sei dizer se é a ausência ou a noção da realidade que me faz olhar pelo retrovisor sempre que vejo um Golf cinzento.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

I really don't know why but


I loved you so much more when you were down on the floor

domingo, 9 de agosto de 2009

perda

São as pequenas coisas que nos levam a fazer as grandes loucuras – os maxilares salientes, a forma do cabelo cair, as pausas entres as palavras. São as pequenas coisas que nos levam aos grandes erros. E com grandes erros refiro-me ás situações que ainda não conseguimos imaginar mas que nos irão roubar o sono numa qualquer terça á noite.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

5:36 am


Já vai algum tempo desde a última vez que fizemos isto. Eu no banco de trás e tu a fingir-te concentrado na caixa de mudanças. Eu a engolir as palavras e o vómito, e tu calado. Já vai algum tempo, mas eu ainda me lembro do sabor das saudades, do teu riso a prolongar-me o corpo, e que saudades que eu tenho tuas. Eu sinto-te a falta todos os dias desde o dia em que parti. Sinto-te a falta nos dias de chuva, em que os cabelos gelados quase do mesmo tom, eu e tu deitados no tapete, ou sentados como pedras no sofá, tu a morrer de frio e eu a tentar chegar a ti. Sinto-te a falta nos dias de sol, das t-shirts e dos óculos de sol, do tempo ser sempre pouco, e de tão pouco quase que vão. Falso, tudo parte de um sonho. Sinto-te tanto a falta que ás vezes penso ser mentira, que nasci ao contrário, que morri antes do tempo (não morrem todos?), que nasci corcunda. E eu a sentir-te a falta nos poros da pele, nas coisas, nas ruas, nas praças. Eu a sentir-te a falta em Lisboa, e Lisboa debaixo dos meus pés mas eu sem a reconhecer, pois que de tantas saudades penso ter morrido, mas sem o ter feito de todo. Como quem morre sem avisar, sem se apresentar. Como quem morre – perdoem-me a repetição – antes do tempo. Tenho a certeza, acima de todas as outras certezas, que tu foste o homem da minha vida, que todos aqueles que eu conheci aos doze anos foram as pessoas da minha vida. Tenho a certeza que o que em falta em mim, estava em vocês. Mas – Deus! – vieram todos antes do tempo. Mais ninguém teve em mim a mesma força. De uma entrega tão completa que doentia. Já vai algum tempo, mas ter-te outra vez rouba-me as rugas.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Goodbye

I miss the faces. you can't erase. you can't replace it

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