quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Happy new year!
(Seja como for bom ano novo. Vou torcer por ti Sara e Su, não só neste ano mas em todos os anos)
Adeus 2008
Every beginnig means an end
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
The killers
Don't shoot me Santa Claus
I've been a clean living boy
I promise you
Did every little thing you asked me
I can't believe the things I'm going through
Well no one else around believes me
But the children on the block they tease me
I couldn’t let them off that easy
They had it coming
So why can’t you see?
I couldn't turn my cheek no longer
The sun is going down and Christmas is near
Just look the other way and I’ll disappear forever
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
when you forget her, don't you dare remember me
Porque o fim das coisas não chegam com um sorriso,
Nunca chegam com um sorriso.
E foi isso que eu te tentei dizer antes de tu virares as costas naquela presa que sempre foi tua.
Nunca minha, nunca eu tive presa de te fugir.
E nunca a tua presa foi minha, porque tu nunca ma deste.
Não que eu não te tivesse pedido, implorado á porta da tua casa que sempre, sempre esteve entreaberta.
Nunca aberta, nunca fechada.
- Fica.
E tu não ficavas, na tua pressa de correr, de viver o que não havia para viver.
- Fica.
E tu não ouvias, com o peito ausente.
Mas ás vezes choravas, choravas com as mãos na cabeça, com um berro mudo.
E eu:
- Pelo menos tens-me a mim.
E tinhas, e tens. Porque eu nunca te menti, eu nunca, nunca te menti.
- Eu sei.
Mas o teu saber nunca foi o teu querer.
Porque eu sempre te amei para além de ti, eu via-te para além de ti, e para mim isso era suficiente, mas não era para ti,
E eu lembro-me de chegares com os olhos cegos, com o corpo morto, chegares sem pontuação, sem frases completas, e eu lembro-me de não me importar, tu chegavas, no entanto não estavas mas não eu não me importava porque tu chegavas.
Tu chegavas.
E na insegurança com que tu me envenenavas o meu corpo partia-se,
Em dois, em três, em mil.
E eu cega de ti, faminta de ti.
Porque tu, por vezes, chegavas.
E quando tu chegavas o meu corpo deixava de doer,
Eu via-te para além de ti,
Gigante, tão maior, tão maior que eu.
A carne tua que eu te tentei mostrar, porque eu queria em troca da minha.
Eu olhei-a vezes sem conta, toquei-a vezes sem conta. A tua carne, a tua pele.
Mas para ti não era suficiente, simplesmente não era suficiente.
Não penses que eu não sabia, eu soube-o sempre.
Quando nós falávamos pelas 6 da manhã – as conversas pelas 6 da manha são sempre as verdadeiras – tu nunca dizias o meu nome, tu nunca dizias sentir a minha falta.
E eu dizia o teu nome, eu dizia a falta que me fazes e como o meu mundo é perdido.
Não penses que eu não sabia, e as coisas chegavam ao fim, a noite caía, sem um sorriso, sem um abraço – nem contra o invisível – e eu tentava-te dizer
- Eu não posso ficar assim.
E tu dizias:
- Só mais um bocadinho, eu talvez mude.
Eu talvez mude de voz, de corpo, de sangue.
E tu mudavas mas sempre para pior.
E eu mudava não contigo, mas para ti.
Na imensidão que tu eras em mim, as coisas chegavam ao fim.
Sem um elogio, sem um: obrigado pelo que me deste.
Nunca um obrigado, nunca um: não há ninguém como tu.
Nunca eu, sempre tu.
A noite caia nas luzes da rua, e os monte e vales eram areia, pó de ti.
E eu:
- Fica.
Comigo. Para sempre.
E tu ouvias o que ela dizia, tu sempre ouviste o que ela dizia, nunca eu, mesmo quando mo prometias.
Nunca eu e tu, sempre tu e ela.
Ás 6 da manha, era sempre o nome dela, a saudade dela, o quanto ela te doía. E era tudo tão presente de tão pouco que era.
Eu era pouco, simplesmente era pouco.
Mas eu sabia-me muito, no entanto sentia-me pouco.
E quantas vezes tu não choraste nos meus lençóis?
E eu sabia lá o que fazer, o que te dizer.
A tua dor senti eu vezes sem conta.
Sempre, vezes sem conta.
Mas mais ainda, eu sentia a minha dor porque tu nunca choraste por mim,
Pela minha falta.
- Pelo menos tens-me a mim.
E silencio, ocasionalmente um:
- Eu sei.
E um dia tu deixaste de chegar, e eu deixei de ver para além de ti.
E doía-me, porque eu nunca vi ninguém como (não) te via a ti.
Porque eu sei que nunca hei-de conseguir ver alguém da mesma forma.
Porque tu levaste essa parte de mim, nos teus nunca eu.
Nos teus nunca obrigado.
Nos teus nunca
- Fica.
Fica. Fica. Fica.
Até “ficar” já não ser um verbo, mas um suspiro.
Deixar de ser palavra, para ser som de alma.
Tu nunca ficaste, mesmo quando eu te dei a mão na tua doença.
Mesmo quando eu esgotei a voz para falar por ti.
E tu sempre:
- Que depressão.
E então:
- Pelo menos tens-me a mim.
O que me dói essa frase, que dor me traz a recusa do meu orgulho.
Que dor esta que me traz solidão, porque eu só queria que tu me amasses da mesma forma, com a mesma força que eu te amava.
Que tu nunca me tivesses mentido, como me mentistes, traído como traíste.
- Só mais um bocadinho, eu talvez mude.
Nunca chegam com um sorriso.
E foi isso que eu te tentei dizer antes de tu virares as costas naquela presa que sempre foi tua.
Nunca minha, nunca eu tive presa de te fugir.
E nunca a tua presa foi minha, porque tu nunca ma deste.
Não que eu não te tivesse pedido, implorado á porta da tua casa que sempre, sempre esteve entreaberta.
Nunca aberta, nunca fechada.
- Fica.
E tu não ficavas, na tua pressa de correr, de viver o que não havia para viver.
- Fica.
E tu não ouvias, com o peito ausente.
Mas ás vezes choravas, choravas com as mãos na cabeça, com um berro mudo.
E eu:
- Pelo menos tens-me a mim.
E tinhas, e tens. Porque eu nunca te menti, eu nunca, nunca te menti.
- Eu sei.
Mas o teu saber nunca foi o teu querer.
Porque eu sempre te amei para além de ti, eu via-te para além de ti, e para mim isso era suficiente, mas não era para ti,
E eu lembro-me de chegares com os olhos cegos, com o corpo morto, chegares sem pontuação, sem frases completas, e eu lembro-me de não me importar, tu chegavas, no entanto não estavas mas não eu não me importava porque tu chegavas.
Tu chegavas.
E na insegurança com que tu me envenenavas o meu corpo partia-se,
Em dois, em três, em mil.
E eu cega de ti, faminta de ti.
Porque tu, por vezes, chegavas.
E quando tu chegavas o meu corpo deixava de doer,
Eu via-te para além de ti,
Gigante, tão maior, tão maior que eu.
A carne tua que eu te tentei mostrar, porque eu queria em troca da minha.
Eu olhei-a vezes sem conta, toquei-a vezes sem conta. A tua carne, a tua pele.
Mas para ti não era suficiente, simplesmente não era suficiente.
Não penses que eu não sabia, eu soube-o sempre.
Quando nós falávamos pelas 6 da manhã – as conversas pelas 6 da manha são sempre as verdadeiras – tu nunca dizias o meu nome, tu nunca dizias sentir a minha falta.
E eu dizia o teu nome, eu dizia a falta que me fazes e como o meu mundo é perdido.
Não penses que eu não sabia, e as coisas chegavam ao fim, a noite caía, sem um sorriso, sem um abraço – nem contra o invisível – e eu tentava-te dizer
- Eu não posso ficar assim.
E tu dizias:
- Só mais um bocadinho, eu talvez mude.
Eu talvez mude de voz, de corpo, de sangue.
E tu mudavas mas sempre para pior.
E eu mudava não contigo, mas para ti.
Na imensidão que tu eras em mim, as coisas chegavam ao fim.
Sem um elogio, sem um: obrigado pelo que me deste.
Nunca um obrigado, nunca um: não há ninguém como tu.
Nunca eu, sempre tu.
A noite caia nas luzes da rua, e os monte e vales eram areia, pó de ti.
E eu:
- Fica.
Comigo. Para sempre.
E tu ouvias o que ela dizia, tu sempre ouviste o que ela dizia, nunca eu, mesmo quando mo prometias.
Nunca eu e tu, sempre tu e ela.
Ás 6 da manha, era sempre o nome dela, a saudade dela, o quanto ela te doía. E era tudo tão presente de tão pouco que era.
Eu era pouco, simplesmente era pouco.
Mas eu sabia-me muito, no entanto sentia-me pouco.
E quantas vezes tu não choraste nos meus lençóis?
E eu sabia lá o que fazer, o que te dizer.
A tua dor senti eu vezes sem conta.
Sempre, vezes sem conta.
Mas mais ainda, eu sentia a minha dor porque tu nunca choraste por mim,
Pela minha falta.
- Pelo menos tens-me a mim.
E silencio, ocasionalmente um:
- Eu sei.
E um dia tu deixaste de chegar, e eu deixei de ver para além de ti.
E doía-me, porque eu nunca vi ninguém como (não) te via a ti.
Porque eu sei que nunca hei-de conseguir ver alguém da mesma forma.
Porque tu levaste essa parte de mim, nos teus nunca eu.
Nos teus nunca obrigado.
Nos teus nunca
- Fica.
Fica. Fica. Fica.
Até “ficar” já não ser um verbo, mas um suspiro.
Deixar de ser palavra, para ser som de alma.
Tu nunca ficaste, mesmo quando eu te dei a mão na tua doença.
Mesmo quando eu esgotei a voz para falar por ti.
E tu sempre:
- Que depressão.
E então:
- Pelo menos tens-me a mim.
O que me dói essa frase, que dor me traz a recusa do meu orgulho.
Que dor esta que me traz solidão, porque eu só queria que tu me amasses da mesma forma, com a mesma força que eu te amava.
Que tu nunca me tivesses mentido, como me mentistes, traído como traíste.
- Só mais um bocadinho, eu talvez mude.
domingo, 21 de dezembro de 2008
i hope it's going to make you notice someone like me
Eram 8 da manha e chovia em todo o mundo, a minha alma era dura e eu era alguém que não chorava. Não chorava porque não precisava, o meu coração era inteiro e o meu peito não me pesava.
E tu dizias-me um génio, dizias-me a mulher da tua vida, dizias que tudo até ao dia em que me conheceste era nada.
E eu acreditei.
Eram oito da manha e chovia pelo mundo tudo quando eu me apercebi.
O amor é pesado quando é só meu.
Quando tu me o atiras em forma de pena pelo que eu te dou.
O amor é pesado quando tu me mentes,
Quando tu me dizias que me amavas para além da minha insegurança, da minha duvida.
E a minha duvida não doía, porque tu a adormecias,
E o meu ventre chorava as lágrimas da esterilidade com que tu me envenenaste,
Com os livros de auto-ajuda que tu me lias,
Com o aborto da minha confiança,
De quem eu fui.
Nos girassóis na mesinha de cabeceira.
Secos e podres nos dias que correm.
Paralisados na luz da noite que os mata,
E eu dizia-te:
- Vá lá, vem-te deitar.
E os teus lábios fechavam-se, e seja lá o que tu fumavas para esquecer, tu fumavas durante horas,
Até a tua alma ser só fumo e o teu beijo cinza.
Tu fumavas e tocavas guitarra com a ponta dos dedos,
Com uma distancia imposta por regras severas, como se viessem na bíblia.
Escrevias versos atrás de versos, coisas simples que nada diziam.
Falavas de Deus e da falta que Ele te fazia.
Ás vezes, falavas de mim, mas mais uma vez com uma distância rígida.
Como se me visses da janela do vizinho.
Do vizinho que começava a comentar os teus silêncios,
O velho dizia-me:
- Não se aflija, menina, que a culpa não é sua.
Ele era velho, e a velhice protegia-o de mim.
Mas as palavras dele faziam eco no meu ser,
E eu ouvia-lhe a voz:
- A culpa não é sua.
Mas a culpa tinha o meu sabor, tu nunca te deitavas a meu lado,
Tu não me dizias mais a mulher da tua vida,
E fumavas a alma para o tecto,
E o tecto era de um cinzento pálido, como os teus olhos eram, como as tuas palavras eram.
E aos poucos, eu era de um cinzento pálido.
Eram oito da manha quando eu vi as tuas malas junto da cama,
Os teus olhos vazios de mim.
Mas eu lembro-me de pensar que tinha de comprar girassóis novos,
Que os que jaziam na mesinha de cabeceira pareciam berrar de dor.
Eu lembro-me de te olhar e pensar na merda dos girassóis que tu nunca quiseste saber.
E tu disseste - com uma voz profunda, aguada, que me deu a impressão de estar há muito, muito tempo á espera de ser ouvida –:
- A culpa não é tua.
E então eu vi. E então o meu coração congelou até estilhaçar. E então eu vi-te três anos antes, o homem da minha vida. Eu vi-te o fumo do cigarro e da alma sair-te pelas narinas. E então eu soube que a culpa era minha de não saber ser a mulher que a tua vida precisa.
Eu não me mexi, não podia, não conseguia. Tu engoliste em seco as palavras que te subiam a garganta. A chuva caía pelo mundo, e o mundo parecia não ver. Tu pegaste nas malas, três malas. Uma mala por cada ano. Elas pareciam leves, vazias. E saíste do quarto, eu ouvi os teus passos pelo corredor e cada um me parecia mais duro que o outro, e cada um me trincava a alma com mais força. Mas eu não me mexi, não podia, não conseguia. Eram oito e sete quando a porta da entrada bateu. E o quarto estava escuro, frio e cheirava a tabaco.
E eu juro-te que o meu coração não batia, que o meu sangue não corria. Eu juro-te que nesse dia algo em mim morreu, desapareceu, mas a morte de tal foi talvez a coisa mais dolorosa, mas sentida em mim.
Foi física, porque o meu corpo congelou, foi mental porque a minha alma apodreceu e o bolor foi doentio, como se eu fosse a raiz de todas as doenças deste planeta. E o planeta deixou de ser meu, e eu sempre me senti longe de casa.
Eu transformei-me no tipo de pessoa que nunca gostei, eu sou o tipo de pessoa que chora quando se riem de mim. Eu sou o tipo de pessoa que o peito dói se alguém se esquecer do meu nome. E o meu nome não me parece meu, como se os meus pais se tivessem enganado não no nome, mas na filha.
Eu ainda guardo os teus poemas debaixo da cama, nunca os leio porque os sei de cor, e de vez em quando, quando se riem de mim, eu ouço:
E tu dizias-me um génio, dizias-me a mulher da tua vida, dizias que tudo até ao dia em que me conheceste era nada.
E eu acreditei.
Eram oito da manha e chovia pelo mundo tudo quando eu me apercebi.
O amor é pesado quando é só meu.
Quando tu me o atiras em forma de pena pelo que eu te dou.
O amor é pesado quando tu me mentes,
Quando tu me dizias que me amavas para além da minha insegurança, da minha duvida.
E a minha duvida não doía, porque tu a adormecias,
E o meu ventre chorava as lágrimas da esterilidade com que tu me envenenaste,
Com os livros de auto-ajuda que tu me lias,
Com o aborto da minha confiança,
De quem eu fui.
Nos girassóis na mesinha de cabeceira.
Secos e podres nos dias que correm.
Paralisados na luz da noite que os mata,
E eu dizia-te:
- Vá lá, vem-te deitar.
E os teus lábios fechavam-se, e seja lá o que tu fumavas para esquecer, tu fumavas durante horas,
Até a tua alma ser só fumo e o teu beijo cinza.
Tu fumavas e tocavas guitarra com a ponta dos dedos,
Com uma distancia imposta por regras severas, como se viessem na bíblia.
Escrevias versos atrás de versos, coisas simples que nada diziam.
Falavas de Deus e da falta que Ele te fazia.
Ás vezes, falavas de mim, mas mais uma vez com uma distância rígida.
Como se me visses da janela do vizinho.
Do vizinho que começava a comentar os teus silêncios,
O velho dizia-me:
- Não se aflija, menina, que a culpa não é sua.
Ele era velho, e a velhice protegia-o de mim.
Mas as palavras dele faziam eco no meu ser,
E eu ouvia-lhe a voz:
- A culpa não é sua.
Mas a culpa tinha o meu sabor, tu nunca te deitavas a meu lado,
Tu não me dizias mais a mulher da tua vida,
E fumavas a alma para o tecto,
E o tecto era de um cinzento pálido, como os teus olhos eram, como as tuas palavras eram.
E aos poucos, eu era de um cinzento pálido.
Eram oito da manha quando eu vi as tuas malas junto da cama,
Os teus olhos vazios de mim.
Mas eu lembro-me de pensar que tinha de comprar girassóis novos,
Que os que jaziam na mesinha de cabeceira pareciam berrar de dor.
Eu lembro-me de te olhar e pensar na merda dos girassóis que tu nunca quiseste saber.
E tu disseste - com uma voz profunda, aguada, que me deu a impressão de estar há muito, muito tempo á espera de ser ouvida –:
- A culpa não é tua.
E então eu vi. E então o meu coração congelou até estilhaçar. E então eu vi-te três anos antes, o homem da minha vida. Eu vi-te o fumo do cigarro e da alma sair-te pelas narinas. E então eu soube que a culpa era minha de não saber ser a mulher que a tua vida precisa.
Eu não me mexi, não podia, não conseguia. Tu engoliste em seco as palavras que te subiam a garganta. A chuva caía pelo mundo, e o mundo parecia não ver. Tu pegaste nas malas, três malas. Uma mala por cada ano. Elas pareciam leves, vazias. E saíste do quarto, eu ouvi os teus passos pelo corredor e cada um me parecia mais duro que o outro, e cada um me trincava a alma com mais força. Mas eu não me mexi, não podia, não conseguia. Eram oito e sete quando a porta da entrada bateu. E o quarto estava escuro, frio e cheirava a tabaco.
E eu juro-te que o meu coração não batia, que o meu sangue não corria. Eu juro-te que nesse dia algo em mim morreu, desapareceu, mas a morte de tal foi talvez a coisa mais dolorosa, mas sentida em mim.
Foi física, porque o meu corpo congelou, foi mental porque a minha alma apodreceu e o bolor foi doentio, como se eu fosse a raiz de todas as doenças deste planeta. E o planeta deixou de ser meu, e eu sempre me senti longe de casa.
Eu transformei-me no tipo de pessoa que nunca gostei, eu sou o tipo de pessoa que chora quando se riem de mim. Eu sou o tipo de pessoa que o peito dói se alguém se esquecer do meu nome. E o meu nome não me parece meu, como se os meus pais se tivessem enganado não no nome, mas na filha.
Eu ainda guardo os teus poemas debaixo da cama, nunca os leio porque os sei de cor, e de vez em quando, quando se riem de mim, eu ouço:
Há que partir quando o homem se sente preso,
Porque o velho deixa de nos olhar nos olhos,
E a vontade de viajar se esconde na vontade fingida de ficar.
Perdoa-me amor, a alergia aos teus girassóis que nunca passaram disso.
Porque o velho cegou-me todo o amor quando disse,
Parte antes que seja tarde de mais,
E a morte do homem que és, seja culpa dela.
Porque o velho deixa de nos olhar nos olhos,
E a vontade de viajar se esconde na vontade fingida de ficar.
Perdoa-me amor, a alergia aos teus girassóis que nunca passaram disso.
Porque o velho cegou-me todo o amor quando disse,
Parte antes que seja tarde de mais,
E a morte do homem que és, seja culpa dela.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
(Ah, nevermind that outer space stuff, let's get down to earth!)
Eu sonho contigo de olhos abertos, e os sonhos assim não são sonhos mas desejos d’alma.
E os sonhos que são a distância entre mim e ti são fome do corpo.
Na ausência dos sonhos, as lágrimas são bebida minha,
Como penitencia da dor que eu sou,
Dor que eu não abro mão,
Porque por mais pesada que seja, leva-me a ver-te de olhos abertos,
Na ânsia quase exaustiva de te reencontrar nos precipícios,
Nos fins dos caminhos,
A rever-te por trás de muros, dentro de almas perdidas.
Quando eu sonho contigo a minha alma é viva,
E a tua alma é vida em mim.
E tudo faz sentido na realidade ilógica da vida.
E tudo está bem num mundo mal feito á nascença.
E é Outono, e o Outono fica-te bem,
No teu castanho escuro que perdura nas telas e nas paredes,
Como nódoas de sangue na pele,
Como promessas na língua.
Eu sonho contigo e tu não és tu, mas uma imagem de ti,
Como se eu te visse por um espelho gasto – porque quando os espelhos vêem de mais, gastam-se, tal como as pessoas –
E esta cidade não é esta, mas outra com o nome desta, mais quente, mais minha.
E eu não sou eu, mas a parte de mim que te vê com os olhos abertos mas cegos.
Com a alma cheia mas muda.
Com o coração a bater como quem está morto.
E os sonhos que são a distância entre mim e ti são fome do corpo.
Na ausência dos sonhos, as lágrimas são bebida minha,
Como penitencia da dor que eu sou,
Dor que eu não abro mão,
Porque por mais pesada que seja, leva-me a ver-te de olhos abertos,
Na ânsia quase exaustiva de te reencontrar nos precipícios,
Nos fins dos caminhos,
A rever-te por trás de muros, dentro de almas perdidas.
Quando eu sonho contigo a minha alma é viva,
E a tua alma é vida em mim.
E tudo faz sentido na realidade ilógica da vida.
E tudo está bem num mundo mal feito á nascença.
E é Outono, e o Outono fica-te bem,
No teu castanho escuro que perdura nas telas e nas paredes,
Como nódoas de sangue na pele,
Como promessas na língua.
Eu sonho contigo e tu não és tu, mas uma imagem de ti,
Como se eu te visse por um espelho gasto – porque quando os espelhos vêem de mais, gastam-se, tal como as pessoas –
E esta cidade não é esta, mas outra com o nome desta, mais quente, mais minha.
E eu não sou eu, mas a parte de mim que te vê com os olhos abertos mas cegos.
Com a alma cheia mas muda.
Com o coração a bater como quem está morto.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
by my side
Ao morrer bati-te a porta dos sonhos, mas os teus sonhos não me pertenciam e eu tive que esperar, eu tive que esperar que a minha ausência fosse sentida.
E quando finalmente foi, eu estava sentada a uma mesa de café quando tu entraste com o olhar perdido e me viste.
E todo o teu corpo estremeceu. Eu estava morta, mas parecia tão real. Com um sorriso pintado, a camisola verde que tu sempre gostaste, e até a forma como eu bebia o chá parecia-te certa de mais. E porque a imaginação tem destas coisas tu viste-me viva, o meu peito cheio de ar, os meus olhos aguados, os meus dedos vivos.
Tu viste e eu vi uma lágrima a molhar-te o lábio:
- Mas tu estás morta.
Foi assim. As primeiras palavras que eu ouvi na outra vida, com um tom de aceitação. Eu encostei-me ás costas da cadeira:
- Pois estou, já estava quando o médico me dizia viva, o meu peito não batia e não havia amor em mim.
Tu fingiste não ouvir, porque o sonho é teu e não meu.
- Como é morrer, como é estar morta?
- A morte é solitária, esfumada. E não temos mais nada para fazer que para além de pensar na vida que fizemos. Revemos tudo, até o que foi um dia invisível. Quando morremos o nosso corpo não mexe, não reage, nós dizemos “corre” e ele geme de preguiça, nós dizemos “foge” mas não há lugar nenhum para ir. A morte é redonda, e a nossa alma faz o papel de corpo, mas a grande diferença é que não se veste ou se maquilha a alma, ela é o que é, ela é os teus erros, o que tu deste de bom, o que tu roubaste, ela é quem tu foste em vida e está agora aos olhos de todos. E aqui, na minha morte, não há forma de não ter vergonha, não há comparação com almas alheias, os teus erros são o teu peso e a gravidade é de uma força absoluta.
- E o céu? E o céu que nos é prometido? E a eternidade pacifica que nos foi descrita?
Os teus olhos são de um vermelho isente, como se o medo da morte fosse uma dor consumida. Porque o sonho é teu, mas na verdade eu só te quero bem eu quero que tu tenhas a vida que me foi negada, eu digo-te com a mesma voz que tu ouvias:
- Não tenhas medo, porque no céu já tu estás. O teu corpo move-se, o teu riso ouve-se, as pessoas olham-te nos olhos. E mesmo que por vezes sintas o contrário, tu estás viva. E estar vivo significa ter hipótese. De ser, de ter, de ver, de tocar. Significa também sofrer, eu sei, mas por favor não te esqueças que o teu corpo é teu, que a tua vida é tua, foi-te oferecida a ti, e tu podes eleva-la ao que tu quiseres. Não te esqueças que a morte é certa, não tenhas medo de viver, de amar. Não sofras demasiado, não ignores demasiado, impõe-te.
A minha mão morta toca-te e é fria, a minha pele é dura mas não tem peso, e tu apercebeste que quase não a sentes.
- A tua mão está tão fria.
- Devias ver o meu coração.
- És mesmo tu, não és? Isto não é um sonho, és mesmo tu. Não é a minha necessidade de te saber bem, és mesmo tu que me respondes, és mesmo tu que me tocas.
- Eu serei sempre eu, morta ou viva. O que eu sou será sempre propriedade minha. Mas isso não te impede de me ver de outra forma, não te impede de me imaginar uma pessoa diferente, para o bem ou para o mal. Mas se fosse realmente eu que te dou a mão por cima desta mesa de café, eu teria de ter feito uma viagem imensa, ultrapassado anos, milénios da terra. Teria de ter visto tudo, porque sabes?; o mundo dos sonhos é vizinho do mundo dos vivos e o sitio que eu estou é longe, longe de tudo isso. Para te visitar eu teria de ter vindo das profundezas do universo, visto cada estrela e com a minha alma cansada batido á porta dos teus sonhos. Mas a verdade é que eu faria tudo isso para te ver só mais uma vez, por isso talvez seja realmente eu mas talvez não.
- Desculpa os males que eu te fiz, para não chorar tanto fiz-te chorar. Se eu pudesse dava-te vida de volta. Mas eu não posso e sei-o.
- A culpa não é tua, e nunca será, porque a culpa não muda de dono. Enquanto me continuares a abrir a porta dos sonhos eu venho-te dar a mão. Eu vou continuar a dizer-te que vai tudo ficar, mas com dias adversos. E que a morte é um fim de algo complexo, mas a continuação de algo muito mais complexo e necessário.
As lágrimas correm-te dos olhos, como vítimas perseguidas, mas as minhas lágrimas são abafadas pela dor da aceitação. Eu aceito.
- E essa complexidade passa por Deus?
- Esta complexidade começa em deus e na sua ausência. Porque apesar de parecer o contrário a morte não é silenciosa, e deus como Pai absoluto deseja ser surdo. Ouve-se tudo, todos os mínimos barulhos do universo. Mas mais que tudo ouve-se o choro da terra, as tempestades dos oceanos, as profundezas das raízes, o lamento pela sobrevivência. Tudo berra: as pedras, a areia, o vento e as folhas. E quase tão alto como o planeta berram os Homens, num berro que por vezes é uníssono. Eles berram “sexo”, eles berram “justiça”, eles berram “dinheiro”, eles berram “amor”. Todos querem ser amados, mas não sabem – e como podem saber se estão vivos? – que o amor também tem de ser dado. Que o amor é quase uma troca por troca e vem por todos os lados, os pais tem de saber que tem de amar os filhos para eles os amarem, o homem tem de amar a mulher para a mulher o amar. Mas se queres saber a verdade, eu vejo almas nuas e não há pecado mais duro que o trair de um amor verdadeiro, usar o amor incondicional para alcançar objectivos pessoais. O amor nunca será algo individual, se o for a tua vida será solitária. E por isso digo-te que Deus é ausente, porque mesmo Deus é pequeno para tanto mal, para tanta inveja, para tanta falta. Desculpa-O porque, na verdade, até Deus é pequeno.
E quando finalmente foi, eu estava sentada a uma mesa de café quando tu entraste com o olhar perdido e me viste.
E todo o teu corpo estremeceu. Eu estava morta, mas parecia tão real. Com um sorriso pintado, a camisola verde que tu sempre gostaste, e até a forma como eu bebia o chá parecia-te certa de mais. E porque a imaginação tem destas coisas tu viste-me viva, o meu peito cheio de ar, os meus olhos aguados, os meus dedos vivos.
Tu viste e eu vi uma lágrima a molhar-te o lábio:
- Mas tu estás morta.
Foi assim. As primeiras palavras que eu ouvi na outra vida, com um tom de aceitação. Eu encostei-me ás costas da cadeira:
- Pois estou, já estava quando o médico me dizia viva, o meu peito não batia e não havia amor em mim.
Tu fingiste não ouvir, porque o sonho é teu e não meu.
- Como é morrer, como é estar morta?
- A morte é solitária, esfumada. E não temos mais nada para fazer que para além de pensar na vida que fizemos. Revemos tudo, até o que foi um dia invisível. Quando morremos o nosso corpo não mexe, não reage, nós dizemos “corre” e ele geme de preguiça, nós dizemos “foge” mas não há lugar nenhum para ir. A morte é redonda, e a nossa alma faz o papel de corpo, mas a grande diferença é que não se veste ou se maquilha a alma, ela é o que é, ela é os teus erros, o que tu deste de bom, o que tu roubaste, ela é quem tu foste em vida e está agora aos olhos de todos. E aqui, na minha morte, não há forma de não ter vergonha, não há comparação com almas alheias, os teus erros são o teu peso e a gravidade é de uma força absoluta.
- E o céu? E o céu que nos é prometido? E a eternidade pacifica que nos foi descrita?
Os teus olhos são de um vermelho isente, como se o medo da morte fosse uma dor consumida. Porque o sonho é teu, mas na verdade eu só te quero bem eu quero que tu tenhas a vida que me foi negada, eu digo-te com a mesma voz que tu ouvias:
- Não tenhas medo, porque no céu já tu estás. O teu corpo move-se, o teu riso ouve-se, as pessoas olham-te nos olhos. E mesmo que por vezes sintas o contrário, tu estás viva. E estar vivo significa ter hipótese. De ser, de ter, de ver, de tocar. Significa também sofrer, eu sei, mas por favor não te esqueças que o teu corpo é teu, que a tua vida é tua, foi-te oferecida a ti, e tu podes eleva-la ao que tu quiseres. Não te esqueças que a morte é certa, não tenhas medo de viver, de amar. Não sofras demasiado, não ignores demasiado, impõe-te.
A minha mão morta toca-te e é fria, a minha pele é dura mas não tem peso, e tu apercebeste que quase não a sentes.
- A tua mão está tão fria.
- Devias ver o meu coração.
- És mesmo tu, não és? Isto não é um sonho, és mesmo tu. Não é a minha necessidade de te saber bem, és mesmo tu que me respondes, és mesmo tu que me tocas.
- Eu serei sempre eu, morta ou viva. O que eu sou será sempre propriedade minha. Mas isso não te impede de me ver de outra forma, não te impede de me imaginar uma pessoa diferente, para o bem ou para o mal. Mas se fosse realmente eu que te dou a mão por cima desta mesa de café, eu teria de ter feito uma viagem imensa, ultrapassado anos, milénios da terra. Teria de ter visto tudo, porque sabes?; o mundo dos sonhos é vizinho do mundo dos vivos e o sitio que eu estou é longe, longe de tudo isso. Para te visitar eu teria de ter vindo das profundezas do universo, visto cada estrela e com a minha alma cansada batido á porta dos teus sonhos. Mas a verdade é que eu faria tudo isso para te ver só mais uma vez, por isso talvez seja realmente eu mas talvez não.
- Desculpa os males que eu te fiz, para não chorar tanto fiz-te chorar. Se eu pudesse dava-te vida de volta. Mas eu não posso e sei-o.
- A culpa não é tua, e nunca será, porque a culpa não muda de dono. Enquanto me continuares a abrir a porta dos sonhos eu venho-te dar a mão. Eu vou continuar a dizer-te que vai tudo ficar, mas com dias adversos. E que a morte é um fim de algo complexo, mas a continuação de algo muito mais complexo e necessário.
As lágrimas correm-te dos olhos, como vítimas perseguidas, mas as minhas lágrimas são abafadas pela dor da aceitação. Eu aceito.
- E essa complexidade passa por Deus?
- Esta complexidade começa em deus e na sua ausência. Porque apesar de parecer o contrário a morte não é silenciosa, e deus como Pai absoluto deseja ser surdo. Ouve-se tudo, todos os mínimos barulhos do universo. Mas mais que tudo ouve-se o choro da terra, as tempestades dos oceanos, as profundezas das raízes, o lamento pela sobrevivência. Tudo berra: as pedras, a areia, o vento e as folhas. E quase tão alto como o planeta berram os Homens, num berro que por vezes é uníssono. Eles berram “sexo”, eles berram “justiça”, eles berram “dinheiro”, eles berram “amor”. Todos querem ser amados, mas não sabem – e como podem saber se estão vivos? – que o amor também tem de ser dado. Que o amor é quase uma troca por troca e vem por todos os lados, os pais tem de saber que tem de amar os filhos para eles os amarem, o homem tem de amar a mulher para a mulher o amar. Mas se queres saber a verdade, eu vejo almas nuas e não há pecado mais duro que o trair de um amor verdadeiro, usar o amor incondicional para alcançar objectivos pessoais. O amor nunca será algo individual, se o for a tua vida será solitária. E por isso digo-te que Deus é ausente, porque mesmo Deus é pequeno para tanto mal, para tanta inveja, para tanta falta. Desculpa-O porque, na verdade, até Deus é pequeno.
sábado, 6 de dezembro de 2008
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Why don't you remember my name?
O que as pessoas levam de ti não devolvem,
Nem agradecem.
Por vezes, se tiveres sorte, elas voltam.
Mas as pessoas que partem são sempre aquelas que tu queres mais. E essas nunca ficam.
Como o silêncio surdo com que tu me olhavas, como se fosse pecado e a culpa fosse minha.
Mas eu adorava esse olhar que era teu mas meu,
Como pássaros em cima das nossas cabeças,
Nos dias quentes de verão.
Em que tu sabias o meu nome, e o meu nome tinha sabor nos lábios, nos dias.
Mas isso foi antes, nos tempos em que os teus olhos me chamavam e as calçadas embranqueciam.
Isso foi antes de tu fechares os olhos, de adormeceres sem viveres.
Hibernares nas mentiras bebidas.
Na ignorância de mim, de quem eu fui, de quem eu sou.
O que as pessoas levam de ti não cabe na caixa de correio,
Nem pode ser discutido por telefone.
Uma vez roubado é atirado para um imenso buraco negro – para onde foi o meu nome – e não volta, e ninguém se lembra, e ninguém procura.
As memórias ficam como tatuagens escondidas na fisionomia perdida, mas um dia oferecida.
Na poesia que tu te esqueceste de me ler eu perdi-me em lágrimas,
Em soluços desmedidos, em loucuras femininas, em horas perdidas.
Eu sonhei com os teus olhos doces que pousaram nos meus.
Por momentos inalcançáveis, quase irreais, que se consumiram a eles próprios na minha ânsia de os reviver.
Na minha ânsia exaustiva de te ter. Na minha procura quase louca de ti. De quem tu foste, de quem tu és.
Mas eu tentei, e Deus, ou seja lá quem manda aqui, sabe. Eu tentei.
Para além do meu corpo, para além do meu domínio, para além das minhas forças, eu tentei ser-te. Ter-te.
Se eu não fosse quem sou: bêbeda da má sorte, prisioneira das vontades vagas, talvez o mundo girasse sempre para o mesmo lado e eu conseguisse acordar, um dia que fosse, com os pés dentro da cama e o teu cheiro na almofada.
Nem agradecem.
Por vezes, se tiveres sorte, elas voltam.
Mas as pessoas que partem são sempre aquelas que tu queres mais. E essas nunca ficam.
Como o silêncio surdo com que tu me olhavas, como se fosse pecado e a culpa fosse minha.
Mas eu adorava esse olhar que era teu mas meu,
Como pássaros em cima das nossas cabeças,
Nos dias quentes de verão.
Em que tu sabias o meu nome, e o meu nome tinha sabor nos lábios, nos dias.
Mas isso foi antes, nos tempos em que os teus olhos me chamavam e as calçadas embranqueciam.
Isso foi antes de tu fechares os olhos, de adormeceres sem viveres.
Hibernares nas mentiras bebidas.
Na ignorância de mim, de quem eu fui, de quem eu sou.
O que as pessoas levam de ti não cabe na caixa de correio,
Nem pode ser discutido por telefone.
Uma vez roubado é atirado para um imenso buraco negro – para onde foi o meu nome – e não volta, e ninguém se lembra, e ninguém procura.
As memórias ficam como tatuagens escondidas na fisionomia perdida, mas um dia oferecida.
Na poesia que tu te esqueceste de me ler eu perdi-me em lágrimas,
Em soluços desmedidos, em loucuras femininas, em horas perdidas.
Eu sonhei com os teus olhos doces que pousaram nos meus.
Por momentos inalcançáveis, quase irreais, que se consumiram a eles próprios na minha ânsia de os reviver.
Na minha ânsia exaustiva de te ter. Na minha procura quase louca de ti. De quem tu foste, de quem tu és.
Mas eu tentei, e Deus, ou seja lá quem manda aqui, sabe. Eu tentei.
Para além do meu corpo, para além do meu domínio, para além das minhas forças, eu tentei ser-te. Ter-te.
Se eu não fosse quem sou: bêbeda da má sorte, prisioneira das vontades vagas, talvez o mundo girasse sempre para o mesmo lado e eu conseguisse acordar, um dia que fosse, com os pés dentro da cama e o teu cheiro na almofada.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Maybe I haven't gone crazy, after all
Os passos subiram as escadas, e eu fiquei a ver o carro a arrancar na noite.
Com lágrimas secas e esquecidas,
Mas duras e espontâneas.
Porém, efémeras na vontade.
Credíveis sem o ser, porque eu sei que tu voltas.
Eu sei que tu não me esqueces.
Ao contrario do resto do país,
Este país não é meu, e eu muito menos sou dele.
Porque eu vomito-lhe nos cantos e calco-lhe as dores,
Como me fizeram a mim mais que uma vez,
Por isso este país não é meu, e eu não quero levar nada dele comigo.
Quando eu fugir, porque eu vou fugir, e no fundo, tu sempre soubeste.
Soubeste quando eu não te respondia ás perguntas, ás chamadas, ás lágrimas e ás necessidades,
Soubeste quando eu me disse doente ao teu lado e que precisava de respirar.
Soubeste que eu ia fugir na primeira vez que eu me sentei ao teu lado.
Foi por isso que me agarraste com tanta força?
Porque se foi, eu perdoo-te.
Perdoo-te o medo, porque eu também o tenho.
Mas não te perdoo, nem posso, a inveja ou as unhas afiadas,
Porque o meu corpo, tu encheste de cicatrizes
E a minha alma roubaste com mentiras.
Meteste-a ao bolso, e disseste que a tinhas encontrado no chão,
Mas é minha e eu nunca ta dei.
Eu nunca me dei de alma a ti e foi isso que te matou.
Mas a verdade, é que eu não me arrependo,
Eu nunca te amei, o que eu te dei foi compaixão, a ilusão de um amor que não se sente.
Não te vou pedir desculpa nas madrugas das noites,
Não te vou telefonar com a voz nostálgica no teu dia de anos,
Não te vou mandar um cartão no natal, nem brindar o olhar no ano novo.
E tu sempre soubeste, a mim nem tentes mentir.
Podes guardar as tuas mentiras para alguém que ainda não as ouviu.
Tanto eu como tu sabemos, que quem me fez perder foste tu.
Com lágrimas secas e esquecidas,
Mas duras e espontâneas.
Porém, efémeras na vontade.
Credíveis sem o ser, porque eu sei que tu voltas.
Eu sei que tu não me esqueces.
Ao contrario do resto do país,
Este país não é meu, e eu muito menos sou dele.
Porque eu vomito-lhe nos cantos e calco-lhe as dores,
Como me fizeram a mim mais que uma vez,
Por isso este país não é meu, e eu não quero levar nada dele comigo.
Quando eu fugir, porque eu vou fugir, e no fundo, tu sempre soubeste.
Soubeste quando eu não te respondia ás perguntas, ás chamadas, ás lágrimas e ás necessidades,
Soubeste quando eu me disse doente ao teu lado e que precisava de respirar.
Soubeste que eu ia fugir na primeira vez que eu me sentei ao teu lado.
Foi por isso que me agarraste com tanta força?
Porque se foi, eu perdoo-te.
Perdoo-te o medo, porque eu também o tenho.
Mas não te perdoo, nem posso, a inveja ou as unhas afiadas,
Porque o meu corpo, tu encheste de cicatrizes
E a minha alma roubaste com mentiras.
Meteste-a ao bolso, e disseste que a tinhas encontrado no chão,
Mas é minha e eu nunca ta dei.
Eu nunca me dei de alma a ti e foi isso que te matou.
Mas a verdade, é que eu não me arrependo,
Eu nunca te amei, o que eu te dei foi compaixão, a ilusão de um amor que não se sente.
Não te vou pedir desculpa nas madrugas das noites,
Não te vou telefonar com a voz nostálgica no teu dia de anos,
Não te vou mandar um cartão no natal, nem brindar o olhar no ano novo.
E tu sempre soubeste, a mim nem tentes mentir.
Podes guardar as tuas mentiras para alguém que ainda não as ouviu.
Tanto eu como tu sabemos, que quem me fez perder foste tu.
Because there's only four seasons, and I'm looking for something more
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Good news for those that love bad news
Quando dei por ti, estavas caído morto,
Sem te despedires ou dares uma explicação.
Eu toquei-te com o dedo mindinho mas o teu corpo estava frio e hirto.
Eu disse-te baixinho que já eram oito da manha, mas tu continuaste a dormir num silêncio profundo.
Eu liguei a televisão para calar o silêncio que me comia viva, mas na televisão tudo morria.
E um silêncio ainda maior subiu sobre mim.
A primeira vez que te vi tu sorrias devagarinho,
Como nos filmes a preto e branco,
Tu sorrias com o copo de brandy na mão,
E os teus olhos foram meus em promessas minhas.
Quando dei por mim, tu estavas sentado a meu lado.
E eu toquei-te com a palma da mão, para ter a certeza que tu não eras de borracha,
Eu toquei-te depois com a alma toda.
A ultima vez que te vi, foi antes de adormeceres,
Vinhas com a cara séria, como nos filmes de acção,
Deitas-te a meu lado e tocaste-me com o olhar e então disseste:
- Boa noite.
E eu disse com a voz seca,
- Até amanha.
O teu corpo está frio e o frio chega-me a pele,
Mas eu só me mexo para a ver a televisão,
O mundo é só desgraças, penso eu.
Eu agarro-me a ti, e peço-te desculpa pelo veneno na sopa,
Mas sabes, há males que vem por bem.
Sem te despedires ou dares uma explicação.
Eu toquei-te com o dedo mindinho mas o teu corpo estava frio e hirto.
Eu disse-te baixinho que já eram oito da manha, mas tu continuaste a dormir num silêncio profundo.
Eu liguei a televisão para calar o silêncio que me comia viva, mas na televisão tudo morria.
E um silêncio ainda maior subiu sobre mim.
A primeira vez que te vi tu sorrias devagarinho,
Como nos filmes a preto e branco,
Tu sorrias com o copo de brandy na mão,
E os teus olhos foram meus em promessas minhas.
Quando dei por mim, tu estavas sentado a meu lado.
E eu toquei-te com a palma da mão, para ter a certeza que tu não eras de borracha,
Eu toquei-te depois com a alma toda.
A ultima vez que te vi, foi antes de adormeceres,
Vinhas com a cara séria, como nos filmes de acção,
Deitas-te a meu lado e tocaste-me com o olhar e então disseste:
- Boa noite.
E eu disse com a voz seca,
- Até amanha.
O teu corpo está frio e o frio chega-me a pele,
Mas eu só me mexo para a ver a televisão,
O mundo é só desgraças, penso eu.
Eu agarro-me a ti, e peço-te desculpa pelo veneno na sopa,
Mas sabes, há males que vem por bem.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
the shape of things to come
Se o mundo desfilasse a minha frente como vidas inteiras,
Feitas de tecidos garridos,
Empilhadas de poucas palavras, silêncios abertos,
Talvez eu me pudesse dizer feliz.
Com a tua liberdade nua a dormir do meu lado,
E não a correr para alguém a apanhar.
Mas o teu olhar, olha-me sem chama,
E os meus dedos não sabem como a atear, sem me queimar.
Quem me dera que a tua chama te ardesse o corpo todo,
(como arde em mim)
Te ardesse os lábios e o peito.
Mas os teus olhos são só incêndios instintos.
E o meu corpo restos esquecidos,
Cinzas húmidas das lágrimas de madrugada.
Quem me dera que o teu olhar ardesse em ti,
E não só o ciúme em mim.
O ciúme das tuas mãos nos bolsos.
Do teu olhar atento.
Quem me dera que eu ardesse em ti,
Para assim me levares daqui.
Para longe daqui.
Feitas de tecidos garridos,
Empilhadas de poucas palavras, silêncios abertos,
Talvez eu me pudesse dizer feliz.
Com a tua liberdade nua a dormir do meu lado,
E não a correr para alguém a apanhar.
Mas o teu olhar, olha-me sem chama,
E os meus dedos não sabem como a atear, sem me queimar.
Quem me dera que a tua chama te ardesse o corpo todo,
(como arde em mim)
Te ardesse os lábios e o peito.
Mas os teus olhos são só incêndios instintos.
E o meu corpo restos esquecidos,
Cinzas húmidas das lágrimas de madrugada.
Quem me dera que o teu olhar ardesse em ti,
E não só o ciúme em mim.
O ciúme das tuas mãos nos bolsos.
Do teu olhar atento.
Quem me dera que eu ardesse em ti,
Para assim me levares daqui.
Para longe daqui.
domingo, 9 de novembro de 2008
I guess that your truth, is just the ghost of your lies
Os fantasmas.
Vou começar por te falar dos fantasmas que eu (ainda) vejo.
Não porque te vão trazer algum saber mas porque eu não consigo tirá-los da cabeça,
Não consigo evita-los, fugir-lhes ou esquece-los.
Isto porque os meus fantasmas não são lençóis com dois buracos ou tarados de machado (antes fossem),
Os meus fantasmas são de pele e osso,
Mais do que eu,
Os meus fantasmas têm sabor, calor e vida.
Os meus fantasmas um dia trouxeram-me vida.
Mas, também, um dia fugiram-me com ela.
Fugiram-me.
Para onde eu não sei, mas para longe,
Mais longe do que o corpo alcança ou a mente imagina,
Eles fugiram do que eu não lhes soube dar,
Não por não tentar, mas por não ter.
Eu nunca tive o que os meus fantasmas procuravam.
Talvez, hoje, tenha.
Porque com o tempo a minha alma transformou-se,
E então, talvez eu hoje tenha. Ou então a minha alma é também só mais um fantasma e nada tenha que se possa agarrar.
Mas os meus fantasmas dormem comigo, aos pés da cama, a fumar com a janela entreaberta.
E pela janela entra um frio de Novembro que não me deixa dormir.
Mas – fica sabendo – que os fantasmas têm vontade própria, não fecham janelas porque tu lhes pedes, não se vão embora porque tu choras, não deixam de sussurrar porque tu dormes.
Os fantasmas são seres cruéis, que te pregam partidas tais como deixar fotografias por ai espalhadas, cheiros a deambular ou cores que queimam.
Mas não os culpes, porque a culpa não lhes cabe, é para isso que eles existem, na verdade.
Os fantasmas são sombras de pessoas que te esqueceram por vias da consequência, sombras que têm dedos quentes e unhas afiadas. E quando mordem, quando mordem os fantasmas não largam.
Por isso, é que te falo deles, por saber, como certeza, que as pessoas que tu amas hoje, um dia serão também fantasmas.
Vão entrar na tua casa sem bater a porta,
Destapar-te nas noites frias,
E roubar-te o apetite.
As pessoas que tu amas um dia, vão passar por ti sem te olhar duas vezes, sem sorrir, sem te abraçar com os braços apertados.
E vai-te doer, numa dor afiada, fria e louca.
E vai-te doer até tu já não te sentires, até tu já não te quereres sentir.
Mas aprende, não os podes mandar embora, tens de os deixar ir embora.
Não vale a pena fechar a trinco a porta da entrada; mas encher a casa, encher a cabeça, encher a alma.
Mas não te enganes, tu até os podes esquecer, mas um dia eles voltam, em avalanche pelo teu corpo abaixo e como por magia a dor que tu achaste enterrar está debaixo das tuas narinas, entre os teus dentes e nos teus joelhos. Tudo te dói. A vida dói-te.
Em relação a isso, não te sei aconselhar, porque não há verdade maior que a saudade. E a saudade vem-lhes dentro, como o sangue vem em ti.
Mas a vida é assim, e tu tens de ser dura, agarrar-te ao que tens com unhas e dentes. Tens de ser dura, porque os fantasmas (sejam eles loiros ou morenos) devoram-te viva.
Ás vezes estão sentados numa esplanada, ao volante, a andar com as mãos nos bolsos, mas devoram-te viva. Primeiro as pernas, depois o peito. O peito congela. E dói, eu juro-te, dói.
Mas deixa-me dizer-te que dor não é sinónimo de estar viva, não te deixes enganar que tu nunca foste parva nenhuma, dor é mau sinal. Nunca te esqueças disso, não deixes que te doa só porque é mais fácil que lutar, a dor ocupa tempo e espaço no nosso ser. Espaço e tempo que não lhe pertence.
Levanta o queixo, endireita as costas, sê dura! Deixa-os passar por ti na rua. Deixa-os virar a cara.
Afinal eles são só fantasmas. Estão mais que mortos.
Vou começar por te falar dos fantasmas que eu (ainda) vejo.
Não porque te vão trazer algum saber mas porque eu não consigo tirá-los da cabeça,
Não consigo evita-los, fugir-lhes ou esquece-los.
Isto porque os meus fantasmas não são lençóis com dois buracos ou tarados de machado (antes fossem),
Os meus fantasmas são de pele e osso,
Mais do que eu,
Os meus fantasmas têm sabor, calor e vida.
Os meus fantasmas um dia trouxeram-me vida.
Mas, também, um dia fugiram-me com ela.
Fugiram-me.
Para onde eu não sei, mas para longe,
Mais longe do que o corpo alcança ou a mente imagina,
Eles fugiram do que eu não lhes soube dar,
Não por não tentar, mas por não ter.
Eu nunca tive o que os meus fantasmas procuravam.
Talvez, hoje, tenha.
Porque com o tempo a minha alma transformou-se,
E então, talvez eu hoje tenha. Ou então a minha alma é também só mais um fantasma e nada tenha que se possa agarrar.
Mas os meus fantasmas dormem comigo, aos pés da cama, a fumar com a janela entreaberta.
E pela janela entra um frio de Novembro que não me deixa dormir.
Mas – fica sabendo – que os fantasmas têm vontade própria, não fecham janelas porque tu lhes pedes, não se vão embora porque tu choras, não deixam de sussurrar porque tu dormes.
Os fantasmas são seres cruéis, que te pregam partidas tais como deixar fotografias por ai espalhadas, cheiros a deambular ou cores que queimam.
Mas não os culpes, porque a culpa não lhes cabe, é para isso que eles existem, na verdade.
Os fantasmas são sombras de pessoas que te esqueceram por vias da consequência, sombras que têm dedos quentes e unhas afiadas. E quando mordem, quando mordem os fantasmas não largam.
Por isso, é que te falo deles, por saber, como certeza, que as pessoas que tu amas hoje, um dia serão também fantasmas.
Vão entrar na tua casa sem bater a porta,
Destapar-te nas noites frias,
E roubar-te o apetite.
As pessoas que tu amas um dia, vão passar por ti sem te olhar duas vezes, sem sorrir, sem te abraçar com os braços apertados.
E vai-te doer, numa dor afiada, fria e louca.
E vai-te doer até tu já não te sentires, até tu já não te quereres sentir.
Mas aprende, não os podes mandar embora, tens de os deixar ir embora.
Não vale a pena fechar a trinco a porta da entrada; mas encher a casa, encher a cabeça, encher a alma.
Mas não te enganes, tu até os podes esquecer, mas um dia eles voltam, em avalanche pelo teu corpo abaixo e como por magia a dor que tu achaste enterrar está debaixo das tuas narinas, entre os teus dentes e nos teus joelhos. Tudo te dói. A vida dói-te.
Em relação a isso, não te sei aconselhar, porque não há verdade maior que a saudade. E a saudade vem-lhes dentro, como o sangue vem em ti.
Mas a vida é assim, e tu tens de ser dura, agarrar-te ao que tens com unhas e dentes. Tens de ser dura, porque os fantasmas (sejam eles loiros ou morenos) devoram-te viva.
Ás vezes estão sentados numa esplanada, ao volante, a andar com as mãos nos bolsos, mas devoram-te viva. Primeiro as pernas, depois o peito. O peito congela. E dói, eu juro-te, dói.
Mas deixa-me dizer-te que dor não é sinónimo de estar viva, não te deixes enganar que tu nunca foste parva nenhuma, dor é mau sinal. Nunca te esqueças disso, não deixes que te doa só porque é mais fácil que lutar, a dor ocupa tempo e espaço no nosso ser. Espaço e tempo que não lhe pertence.
Levanta o queixo, endireita as costas, sê dura! Deixa-os passar por ti na rua. Deixa-os virar a cara.
Afinal eles são só fantasmas. Estão mais que mortos.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
You are the smell before the rain
Os carros correm as estradas que não existem,
E correm os Países afundados há séculos,
Os carros são guiados por ninguém,
E ninguém lhes liga.
O meu nome vai escrito na mala, como uma promessa,
E o mapa em branco no lugar do morto.
Tu,
Deixaste-me.
Tu deixaste-me. Eu deixei-te ir.
Mas por vezes, quando a chuva cai em lágrimas no meu telhado eu lembro-me de ti,
De ti sentado num restaurante,
De ti a sorrir por um espelho,
De ti a olhar-me em silêncio, com os olhos cheios daquela inocência comedida, quase irremediável.
E de repente faz frio, a pele é de galinha, e o sopro é fumo.
Eu lembro-me de ti e de repente o mundo congela.
O tempo cai nas estações, e os ponteiros quebram como velhos corcundas.
Mas ninguém parece notar que a noite chegou em passos de lã,
Ninguém parece notar no machado em fogo atirado para lá do oceano,
E os carros não param, como fantasmas correm a Norte, perdidos no Sul,
As bússolas trocam-se em confusões banais,
E eu lembro-me do teu sorriso grotesco, que me comichava por dentro (e ainda o faz).
De como ele ecoava em mim como fiadas de raios de solar Outonais,
As saudades que o teu sorriso me traz não são reais, mas todas afigurarias,
Como os devaneios que escrevíamos nas cartas de amor já gastas.
Mas um dia essas cartas foram pintadas a ouro, quase mudas de calor, ensopadas em desejos mal planeados.
Vermelhas. Eram todas vermelhas, como coágulos de sangue esquecidos dentro das veias, um coração morto.
O meu coração não está morto.
O meu coração bate em mim como gritos em forma de prosa.
Mas tu,
Levas o meu coração a extremos, e de cansaço ele esquece-se de falar.
O meu coração está cansado.
Mas estamos todos, e isso não te serve de desculpa para os males que trazes no bolso.
Eu disse-te, por entre grãos de areia, que tu não querias bem a ninguém, que eras veneno, que não eras boa pessoa.
Eu disse-te porque é verdade.
Os carros corem as cidades esquecidas pelo terror das guerras,
Mas vão vazios, eles correm sem destino e vazios.
Mas ninguém lhes liga, ninguém lhes quer bem, afinal são só carros vazios.
E correm os Países afundados há séculos,
Os carros são guiados por ninguém,
E ninguém lhes liga.
O meu nome vai escrito na mala, como uma promessa,
E o mapa em branco no lugar do morto.
Tu,
Deixaste-me.
Tu deixaste-me. Eu deixei-te ir.
Mas por vezes, quando a chuva cai em lágrimas no meu telhado eu lembro-me de ti,
De ti sentado num restaurante,
De ti a sorrir por um espelho,
De ti a olhar-me em silêncio, com os olhos cheios daquela inocência comedida, quase irremediável.
E de repente faz frio, a pele é de galinha, e o sopro é fumo.
Eu lembro-me de ti e de repente o mundo congela.
O tempo cai nas estações, e os ponteiros quebram como velhos corcundas.
Mas ninguém parece notar que a noite chegou em passos de lã,
Ninguém parece notar no machado em fogo atirado para lá do oceano,
E os carros não param, como fantasmas correm a Norte, perdidos no Sul,
As bússolas trocam-se em confusões banais,
E eu lembro-me do teu sorriso grotesco, que me comichava por dentro (e ainda o faz).
De como ele ecoava em mim como fiadas de raios de solar Outonais,
As saudades que o teu sorriso me traz não são reais, mas todas afigurarias,
Como os devaneios que escrevíamos nas cartas de amor já gastas.
Mas um dia essas cartas foram pintadas a ouro, quase mudas de calor, ensopadas em desejos mal planeados.
Vermelhas. Eram todas vermelhas, como coágulos de sangue esquecidos dentro das veias, um coração morto.
O meu coração não está morto.
O meu coração bate em mim como gritos em forma de prosa.
Mas tu,
Levas o meu coração a extremos, e de cansaço ele esquece-se de falar.
O meu coração está cansado.
Mas estamos todos, e isso não te serve de desculpa para os males que trazes no bolso.
Eu disse-te, por entre grãos de areia, que tu não querias bem a ninguém, que eras veneno, que não eras boa pessoa.
Eu disse-te porque é verdade.
Os carros corem as cidades esquecidas pelo terror das guerras,
Mas vão vazios, eles correm sem destino e vazios.
Mas ninguém lhes liga, ninguém lhes quer bem, afinal são só carros vazios.
But I know I'm on a losing streak
'Cause I passed down my old street
And if you wanna show, then just let me know
And I'll sing in your ear again
domingo, 2 de novembro de 2008
My blueberry nights
- How do you say goodbye to someone you can't imagine living without? I didn't say goodbye. I didn't say anything. I just walked away.
- Sometimes even you have the keys. Those doors still can't be opened, can they? - Even if the door is opened, the person you're looking for may not be there.
- It took me nearly a year to get here. It wasn't so hard to cross that street after all, it all depends on who's waiting for you on the other side.
The reason why
I think about how it might have been
We'd spend out days travelin
'It's not that I don't understand you
It's not that I don't want to be with you
But you only wanted me
The way you wanted me
So, I will head out alone and hope for the best
So, I will head out alone and hope for the best
And we can hang out heads down
As we skip the goodbyes
And you can tell the world what you want them to hear
I've got nothing left to lose, my dear
So, I'm up for the little white lies
But you and I know the reason why
I'm gone, and you're still there
So, steal the show, and do your best
So, steal the show, and do your best
To cover the tracks that I have left
I wish you well and hope you find
Whatever you're looking for
The way I might've changed my mind,
But you only showed my the door
- Rachael Yamagata
terça-feira, 28 de outubro de 2008
For a minute there I lost myself
Há coisas que não se esquecem. Dizias tu, e dizias bem. Mas a ultima vez que o disseste foi há tanto tempo que as palavras são emaranhadas. São emaranhadas mas eu ouça-as na mesma, ouço-as quando os meus olhos se fecham. Os meus olhos que já não são os mesmos, mas pedaços de outrora. Eu sou um pedaço de outrora. De uma maior e mais larga, impermeável mas sem desertos. Eu era outrora quando tu eras outrora. Quando o teu cabelo era maior e as palavras mais vivas, mais cheias de nós. Lembrar-me de ti traz-me dor, como por arrasto, mas é uma dor que não é cheia, mas dormente. Invade-me e queima-me no peito. As saudades que eu tenho tuas são imensas, oceanos de memórias feitas que eu sei lá se são reais. Eu sei lá o que é real. Tu eras-me, tu sempre foste real em mim.
Passaram estes anos por mim, e estes anos passaram também por ti. Sem desculpas, ou intervalos, e a nossa juventude vai envelhecendo. O teu cabelo hoje é curto, e os teus lábios são mais largos hoje. Mas a vontade que eu tenho de ti é mais forte que isso, a vontade que eu tenho de ti é eterna e imortal. Tal como eu te prometi. Estes anos passaram por nós em diferentes formas e quantidades, mas com o mesmo peso. Estes anos foram dores em mim, cicatrizes na face, e eu vejo-te a ir, eu vejo o teu corpo a andar para longe mim, todos os dias. Eu vejo-te todos os dias.
Há coisas que não se esquecem, há coisas que deixam o sabor no nosso céu-da-boca, e tatuagens no umbigo. Há cartas que não são lidas mas lambidas, as palavras e o que vêem por detrás delas. O que vinha por de trás de ti, o que vinha agarrado a ti. Quem me dera, quem me dera ainda as conhecer.
Esta falta de direitos minha, tudo o que eu amei perdi, eu perdi-te porque nunca te soube ter, eu perdi os amigos que me descongelavam a alma, eu perdi-os. Perdi o que era meu por direito, e vê-los enrola-me a língua, quem me dera, quem me dera ainda os ter.
Volta do fundo da terra, do planeta que tu dizes teu mas é meu também. A loucura tomou o meu nome, e a dor o meu corpo. Volta e leva-me contigo no lugar do morto, de mão dada sobre as mudanças. Eu leio o mapa e vamos para Paris, esquecemos que o mundo é cheio de vazio, e que há pessoas, que são vazias, e que por isso me roubam a mim vida.
Desculpa-me, perdoa-me. Eu perdi-te a ti e perdi-me a mim, debaixo de cascatas e tempestades, o teu cabelo (ainda comprido) colado a tua face.
Volta e leva-me contigo. Eu vou sem fazer barulho, a dormir sobre os teus olhos cheios de uma inocência tardia. Dói, dói, dói não conseguir evitar. Leva-me contigo para o fundo da terra, onde o inferno é mito, e o céu parvoíce. Leva-me contigo e deixa-me dormir sobre os teus olhos cheios da inocência que eu te dei tirando-a. Do amor que eu sei ter dentro de mim.
Há coisas que não se esquecem e tu és todas elas. Volta e diz-me que eu sou também, volta e diz-me que eu sou melhor que esta gente que me rouba vida por não ter nenhuma a respirar neles. Volta e tira-me a roupa suja, ilumina-me. Por dentro, por fora. Rouba-me o corpo e bebe-me a alma minha que derreteu. Porque por mais que tente, eu sinto-me sempre longe de casa. Sinto que tudo e todos são uma perda de tempo. (de ar, de pele, de amor, de dor, de vida) Volta e dá-me força para lhes dizer isso, para recuperar a minha vida roubada e fugir, fugir daqui. Não há nada aqui. Volta e leva-me contigo. Dá-me vida.
Passaram estes anos por mim, e estes anos passaram também por ti. Sem desculpas, ou intervalos, e a nossa juventude vai envelhecendo. O teu cabelo hoje é curto, e os teus lábios são mais largos hoje. Mas a vontade que eu tenho de ti é mais forte que isso, a vontade que eu tenho de ti é eterna e imortal. Tal como eu te prometi. Estes anos passaram por nós em diferentes formas e quantidades, mas com o mesmo peso. Estes anos foram dores em mim, cicatrizes na face, e eu vejo-te a ir, eu vejo o teu corpo a andar para longe mim, todos os dias. Eu vejo-te todos os dias.
Há coisas que não se esquecem, há coisas que deixam o sabor no nosso céu-da-boca, e tatuagens no umbigo. Há cartas que não são lidas mas lambidas, as palavras e o que vêem por detrás delas. O que vinha por de trás de ti, o que vinha agarrado a ti. Quem me dera, quem me dera ainda as conhecer.
Esta falta de direitos minha, tudo o que eu amei perdi, eu perdi-te porque nunca te soube ter, eu perdi os amigos que me descongelavam a alma, eu perdi-os. Perdi o que era meu por direito, e vê-los enrola-me a língua, quem me dera, quem me dera ainda os ter.
Volta do fundo da terra, do planeta que tu dizes teu mas é meu também. A loucura tomou o meu nome, e a dor o meu corpo. Volta e leva-me contigo no lugar do morto, de mão dada sobre as mudanças. Eu leio o mapa e vamos para Paris, esquecemos que o mundo é cheio de vazio, e que há pessoas, que são vazias, e que por isso me roubam a mim vida.
Desculpa-me, perdoa-me. Eu perdi-te a ti e perdi-me a mim, debaixo de cascatas e tempestades, o teu cabelo (ainda comprido) colado a tua face.
Volta e leva-me contigo. Eu vou sem fazer barulho, a dormir sobre os teus olhos cheios de uma inocência tardia. Dói, dói, dói não conseguir evitar. Leva-me contigo para o fundo da terra, onde o inferno é mito, e o céu parvoíce. Leva-me contigo e deixa-me dormir sobre os teus olhos cheios da inocência que eu te dei tirando-a. Do amor que eu sei ter dentro de mim.
Há coisas que não se esquecem e tu és todas elas. Volta e diz-me que eu sou também, volta e diz-me que eu sou melhor que esta gente que me rouba vida por não ter nenhuma a respirar neles. Volta e tira-me a roupa suja, ilumina-me. Por dentro, por fora. Rouba-me o corpo e bebe-me a alma minha que derreteu. Porque por mais que tente, eu sinto-me sempre longe de casa. Sinto que tudo e todos são uma perda de tempo. (de ar, de pele, de amor, de dor, de vida) Volta e dá-me força para lhes dizer isso, para recuperar a minha vida roubada e fugir, fugir daqui. Não há nada aqui. Volta e leva-me contigo. Dá-me vida.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Uma inocente inclinação para o mal
Pago os meus impostos, separo o lixo,
Já não vejo televisão há cinco meses,
Todos os dias rezo pelo menos duas horas
Com um livro nos joelhos,
Nunca falho uma visita à família,
Utilizo sempre os transportes públicos,
Raramente me esqueço de deixar água fresca no prato do gato,
Tento ser correcto com os meus vizinhos e não cuspo na sombra dos outros.
Já não me lembro se o médico me disse ser esta receita a indicada para salvar o mundo ou apenas ser feliz.
Seja como for, não estou a ver resultado nenhum.
Tenho uma estátua fluorescente da virgem Maria
Que me dá confiança e brilha à noite.
Tenho os joelhos magoados, o calvário dos fiéis devia ser menos árduo.
Tenho trezentos e sessenta e cinco santos numa caixa calendário,
Daquelas em que cada dia tem um chocolate.
Tenho um lencinho branco onde limpo as lágrimas enquanto assisto a uma vigília via tv
depois da minha última ceia de hoje.
Ás vezes quando o vapor é muito, tenho o salvador no espelho.
Deito-me de consciência limpa, não me esqueci das velinhas,
nem de deixar a moedinha na caixa,
e o meu "livro de orações" tem um delicioso cheiro a mofo.
Dormirei o sono dos justos e talvez não acorde quando o galo da minha vizinha cantar três vezes
e o meu senhorio o tentar apedrejar.
Sinto-me bem e Deus queira que consiga não me masturbar.
Ámen.
A NAIFA
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Sem sentido #2
Quero que imagines que o mundo vai acabar amanha. Quero que ponhas de lado os planos de fuga, o medo, o sangue. Quero que penses só em mim, que eu vou acabar amanha.
Pensando desta forma eu digo-te que te amo. Que te disse, em tempos, palavras que não são palavras, mas blocos de gelo e quero que me perdoes por isso. Que me perdoes as palavras que disse antes de pensar, e que te lembres só que eu te amo. Porque eu faço-o com verdade nos gestos e quando te peço para ficares comigo até a noite acabar é só porque assim o tempo não acaba. Começa tudo de novo.
Quero que saibas que eu sei até que ponto te trouxe dor por vezes, mas a dor vem agarrada às pessoas como pele, e se eu nunca te tivesse magoado é porque nunca tinha estado perto o suficiente. E eu estive, disso não há duvidas.
Eu quero que saibas que se o mundo acabar amanha a nossa memória perdura pela eternidade do que acabou, a pairar no ar como um grito abafado. Um pedaço de ar mais pesado, quando o mundo explodir, nós ficamos nas memórias dele como flores. Jardins inteiros. Jardins a perder de vista.
Como quando nós éramos crianças e eu saltava-te para as cavalitas e para o peito, como borboletas que a nossa voz foi. Como os compassos da canção que Deus nos fez esquecer. Eu cabia-te no colo, e tu cabias-me no regaço. E éramos um sem o ser pela lógica. E éramos um para o perder da razão. Mas hoje é o último dia do sol, das estrelas que nos rodeiam; é o último dia em que eu te sei meu. E esse dia vai para além da dor e corrói as almas dos passados e dos futuros como saudade do que ainda não se viu.
A saudade do que ainda não se viu é a saudade mais profunda. Porque começa fora de nós e acaba no mais profundo do nosso ser. Ecoa pelo vazio da nossa alma e dói sem dizer porquê. Entra nos nossos sonhos sem identidade e devora-nos a língua. É essa a saudade que nos enterra.
Mas o que eu te quero dizer não são as minhas teorias sem nome, mas é o meu amor com vida própria que, como insectos, pulsa no meu peito. Mas não dói, eu juro que não dói. Dói a ideia de ele não mais pulsar, dói a ideia de eu não mais o ver pulsar em ti. Se dói!
Quando tu saltaste da ponte do País que se afogou eu saltei num abismo sem fim. E uma dor sem limites saltou na distância entre nós. O mundo saltou. E ouvia-se na boca do mundo que o fim do mundo estava próximo. E via-se no olhar do mundo que o fim estava próximo.
E eu vi o teu corpo a saltar da ponte que não existe, no país que se afogou nas águas que nunca verteu. E o teu corpo caía e caía. Os teus braços – que são meus –, as tuas pernas – que se enrolam em mim –, e os teus olhos que são tempo na minha juventude esgotada. Tudo caía. Tu caías de mim.
Pensando desta forma eu digo-te que te amo. Que te disse, em tempos, palavras que não são palavras, mas blocos de gelo e quero que me perdoes por isso. Que me perdoes as palavras que disse antes de pensar, e que te lembres só que eu te amo. Porque eu faço-o com verdade nos gestos e quando te peço para ficares comigo até a noite acabar é só porque assim o tempo não acaba. Começa tudo de novo.
Quero que saibas que eu sei até que ponto te trouxe dor por vezes, mas a dor vem agarrada às pessoas como pele, e se eu nunca te tivesse magoado é porque nunca tinha estado perto o suficiente. E eu estive, disso não há duvidas.
Eu quero que saibas que se o mundo acabar amanha a nossa memória perdura pela eternidade do que acabou, a pairar no ar como um grito abafado. Um pedaço de ar mais pesado, quando o mundo explodir, nós ficamos nas memórias dele como flores. Jardins inteiros. Jardins a perder de vista.
Como quando nós éramos crianças e eu saltava-te para as cavalitas e para o peito, como borboletas que a nossa voz foi. Como os compassos da canção que Deus nos fez esquecer. Eu cabia-te no colo, e tu cabias-me no regaço. E éramos um sem o ser pela lógica. E éramos um para o perder da razão. Mas hoje é o último dia do sol, das estrelas que nos rodeiam; é o último dia em que eu te sei meu. E esse dia vai para além da dor e corrói as almas dos passados e dos futuros como saudade do que ainda não se viu.
A saudade do que ainda não se viu é a saudade mais profunda. Porque começa fora de nós e acaba no mais profundo do nosso ser. Ecoa pelo vazio da nossa alma e dói sem dizer porquê. Entra nos nossos sonhos sem identidade e devora-nos a língua. É essa a saudade que nos enterra.
Mas o que eu te quero dizer não são as minhas teorias sem nome, mas é o meu amor com vida própria que, como insectos, pulsa no meu peito. Mas não dói, eu juro que não dói. Dói a ideia de ele não mais pulsar, dói a ideia de eu não mais o ver pulsar em ti. Se dói!
Quando tu saltaste da ponte do País que se afogou eu saltei num abismo sem fim. E uma dor sem limites saltou na distância entre nós. O mundo saltou. E ouvia-se na boca do mundo que o fim do mundo estava próximo. E via-se no olhar do mundo que o fim estava próximo.
E eu vi o teu corpo a saltar da ponte que não existe, no país que se afogou nas águas que nunca verteu. E o teu corpo caía e caía. Os teus braços – que são meus –, as tuas pernas – que se enrolam em mim –, e os teus olhos que são tempo na minha juventude esgotada. Tudo caía. Tu caías de mim.
-
Eu também (Tu fazes-me ter nojo, sei lá de que, mas metes-me nojo. E se te fores embora, na verdade fazes-me um favor, não tens nada na cabeça ou no peito, só a (estúpida) ideia que mereces o mundo. - Mas coitado do mundo - Seja como for, não me interessa, porque me metes nojo e eu nunca te amei. Tudo o que eu fiz por ti se, não foi por pena foi por qualquer coisa parecida, bem pior que a pena. E quero lá saber se tu me amaste ou não.) gosto muito de ti.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Pontos finais
Não há forma de fugir,
E tu podes andar por onde andares,
Mudar de casa, de amigos, de país.
Mas não há verdade mais universal, mais dura, mais simples do que:
Tudo tem um fim.
Tudo tem um fim, até o próprio fim.
Até a verdade, porque a tua acaba onde a minha começa.
E tu podes andar por onde andares,
Mudar de casa, de amigos, de país.
Mas não há verdade mais universal, mais dura, mais simples do que:
Tudo tem um fim.
Tudo tem um fim, até o próprio fim.
Até a verdade, porque a tua acaba onde a minha começa.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Yes, I think we've met before
Neste país de velhos,
Eu visto o vestido que com que tu me vestiste quando eu ainda era nova.
O vestido já não me serve,
E eu não sirvo para ele.
Deus olha para nós com tempestades nos olhos,
Ele que chore, dizes tu.
Eu peço desculpa baixinho porque, por algum motivo, ainda sou a única que tenho medo.
Não me serve de muito, é verdade.
Os teus passos do lado de fora da porta,
Dizias-te poeta, mas só te vi mentiroso.
Dentro dos lençóis, nem uma coisa nem outra.
Como tu, vi muitos. Como eu, viste nenhuma.
A saudade que este pais me obriga está-me no sangue,
No fado que eu nunca pedi a ninguém.
Por isso sinto a tua falta nas estradas largas,
Nas fotografias por revelar.
A verdade é que tenho um cansaço pregado á língua.
E por isso quando chegas eu não te lambo ás lágrimas.
Palavras feias, estas que te digo,
Nisso, sou parecida com Deus.
Pelo menos nunca te pedi para fodermos,
Fazer amor é bem mais poético, bem mais presente neste país de velhos.
Como as princesas e os castelos que lemos.
Não te vi aliança no dedo ou no peito.
O vestido não me passa dos joelhos,
E as senhoras que beijaste perante os meus olhos,
Não sou minhas irmãs,
Mas por outro lado, tem vestidos novos.
Que falta de vida me saíste,
O verniz vermelho estalou-me das unhas e pintou-se nos teus dentes.
O fado deste meu país velho e farto de navios,
Entrou-me na alma, e hoje aguardo de xaile e luto.
Aguardo por ti, para te morder a orelha,
E chorar caída nos teus braços.
A saudade, a saudade de quem não sabe escrever cartas.
Fica em nós, mulheres, como marcas.
A minha inspiração vem dos gestos dos outros,
Daqueles que eu amo ou daqueles me dão encontrões na rua.
Palavras feias, aquelas que te escrevo.
Deixa lá, pelo menos não te ponho á espera.
Não sei fazer rimas,
Nem a minha vergonha vem de ti,
Mas dos teu vultos, das memórias que trazes guardadas em mim.
Como o vestido que me rodava nas ancas.
Minha besta.
Eu visto o vestido que com que tu me vestiste quando eu ainda era nova.
O vestido já não me serve,
E eu não sirvo para ele.
Deus olha para nós com tempestades nos olhos,
Ele que chore, dizes tu.
Eu peço desculpa baixinho porque, por algum motivo, ainda sou a única que tenho medo.
Não me serve de muito, é verdade.
Os teus passos do lado de fora da porta,
Dizias-te poeta, mas só te vi mentiroso.
Dentro dos lençóis, nem uma coisa nem outra.
Como tu, vi muitos. Como eu, viste nenhuma.
A saudade que este pais me obriga está-me no sangue,
No fado que eu nunca pedi a ninguém.
Por isso sinto a tua falta nas estradas largas,
Nas fotografias por revelar.
A verdade é que tenho um cansaço pregado á língua.
E por isso quando chegas eu não te lambo ás lágrimas.
Palavras feias, estas que te digo,
Nisso, sou parecida com Deus.
Pelo menos nunca te pedi para fodermos,
Fazer amor é bem mais poético, bem mais presente neste país de velhos.
Como as princesas e os castelos que lemos.
Não te vi aliança no dedo ou no peito.
O vestido não me passa dos joelhos,
E as senhoras que beijaste perante os meus olhos,
Não sou minhas irmãs,
Mas por outro lado, tem vestidos novos.
Que falta de vida me saíste,
O verniz vermelho estalou-me das unhas e pintou-se nos teus dentes.
O fado deste meu país velho e farto de navios,
Entrou-me na alma, e hoje aguardo de xaile e luto.
Aguardo por ti, para te morder a orelha,
E chorar caída nos teus braços.
A saudade, a saudade de quem não sabe escrever cartas.
Fica em nós, mulheres, como marcas.
A minha inspiração vem dos gestos dos outros,
Daqueles que eu amo ou daqueles me dão encontrões na rua.
Palavras feias, aquelas que te escrevo.
Deixa lá, pelo menos não te ponho á espera.
Não sei fazer rimas,
Nem a minha vergonha vem de ti,
Mas dos teu vultos, das memórias que trazes guardadas em mim.
Como o vestido que me rodava nas ancas.
Minha besta.
domingo, 12 de outubro de 2008
Well, maybe i'm just too young to keep good love from going wrong
As verdades que me incutiste não são de todo verdades,
Disseste que me amavas perante tempestades e idades de dúvidas
Mas nunca o fizeste, preciso que te esqueças de ti
E depois que te lembres só de mim.
Como fogo entre lagos,
Ou segredos entre amantes,
Não sabes o mal que me fazes,
Ou pior, o mal que nem me fazes.
A tua desconfiança sobre a minha sombra,
A tua falta de tacto pelas palavras, os outros e Deus,
Não me fazem falta em altura alguma,
Mas quando partires eu sei que vou chora-las.
A tua falta de capacidade em estar (ser) só,
Não é – como disseste ser – má a mim, mas a ti.
Porque quando eu partir, tu vais perceber que na verdade sempre o estiveste.
E nessa Era que se aproxima, tu irás chorar-me.
É um destino já traçado, traçado por mim no topo dos céus.
Eu sei a força que guardo no peito, porque já a vi vezes demais.
Vi a tua também, ou o relance dela, não brilha nem assusta,
É um princípio de uma chama que não queima, congela ou mata.
É aí que reside o meu medo: na minha ausência.
O teu corpo não sabe nadar, voar ou andar.
Por vezes, esquece-se até de respirar
Eu seguro-te pelos braços frágeis mas mesmo assim, contra toda a lógica, és tu que me deixas cair.
Os antigos chamavam-lhe amor, mas o amor é cada dia mais cinzento,
O que tu guardas para mim não é amor, mas ciúme
Que um dia vá sem dizer para onde e por quem,
De quem eu sou que tu não és (-me).
Disseste-me amar, não uma vez, mas todos os dias durante os últimos anos,
Disseste que o teu coração era cheio de mim,
E que me olhavas não de baixo para cima, ou de cima para baixo, mas de fora para dentro.
A minha sorte foi, nunca ter acreditado numa das tuas palavras.
Nem uma em mim entrou,
E quando eu me ajoelho não é por ti que eu rezo, mas pelo que resta de mim.
E quando tu me deixas cair, eu nem pisco os olhos.
Mas há-de chegar o dia, em que eu realmente me levanto dou-te um pontapé e vou-me embora.
Para sempre,
Faço-me da criança que tu sempre foste e serás,
Mudo de cidade, de nome e mentiras,
E nunca mais me pões a vista em cima.
Pode ser que assim, aprendas que ouvir não é sinónimo de acreditar.
Que entendas o mapa da anatomia dos Outros,
O mapa da anatomia das palavras e de Deus.
Que as lágrimas da chuva não são tuas, mas de quem fizer por elas.
No dia em que vires uma carta minha na tua cabeceira,
Em que a infância seja passado, e não mais presente,
Entendas que eu nunca fui a mulher que tu achaste,
Porque eu nunca – apesar de bem ter fingido – acreditei nas linhas das tuas mãos.
O mal é teu (quero eu acreditar),
A perda é tua embora a ausência seja minha,
Enche o corpo de pensamentos, de sentimentos e não de esboços.
Um dia a velhice bate-te a porta e tu não tens nada para lhe dar em troca.
Disseste que me amavas perante tempestades e idades de dúvidas
Mas nunca o fizeste, preciso que te esqueças de ti
E depois que te lembres só de mim.
Como fogo entre lagos,
Ou segredos entre amantes,
Não sabes o mal que me fazes,
Ou pior, o mal que nem me fazes.
A tua desconfiança sobre a minha sombra,
A tua falta de tacto pelas palavras, os outros e Deus,
Não me fazem falta em altura alguma,
Mas quando partires eu sei que vou chora-las.
A tua falta de capacidade em estar (ser) só,
Não é – como disseste ser – má a mim, mas a ti.
Porque quando eu partir, tu vais perceber que na verdade sempre o estiveste.
E nessa Era que se aproxima, tu irás chorar-me.
É um destino já traçado, traçado por mim no topo dos céus.
Eu sei a força que guardo no peito, porque já a vi vezes demais.
Vi a tua também, ou o relance dela, não brilha nem assusta,
É um princípio de uma chama que não queima, congela ou mata.
É aí que reside o meu medo: na minha ausência.
O teu corpo não sabe nadar, voar ou andar.
Por vezes, esquece-se até de respirar
Eu seguro-te pelos braços frágeis mas mesmo assim, contra toda a lógica, és tu que me deixas cair.
Os antigos chamavam-lhe amor, mas o amor é cada dia mais cinzento,
O que tu guardas para mim não é amor, mas ciúme
Que um dia vá sem dizer para onde e por quem,
De quem eu sou que tu não és (-me).
Disseste-me amar, não uma vez, mas todos os dias durante os últimos anos,
Disseste que o teu coração era cheio de mim,
E que me olhavas não de baixo para cima, ou de cima para baixo, mas de fora para dentro.
A minha sorte foi, nunca ter acreditado numa das tuas palavras.
Nem uma em mim entrou,
E quando eu me ajoelho não é por ti que eu rezo, mas pelo que resta de mim.
E quando tu me deixas cair, eu nem pisco os olhos.
Mas há-de chegar o dia, em que eu realmente me levanto dou-te um pontapé e vou-me embora.
Para sempre,
Faço-me da criança que tu sempre foste e serás,
Mudo de cidade, de nome e mentiras,
E nunca mais me pões a vista em cima.
Pode ser que assim, aprendas que ouvir não é sinónimo de acreditar.
Que entendas o mapa da anatomia dos Outros,
O mapa da anatomia das palavras e de Deus.
Que as lágrimas da chuva não são tuas, mas de quem fizer por elas.
No dia em que vires uma carta minha na tua cabeceira,
Em que a infância seja passado, e não mais presente,
Entendas que eu nunca fui a mulher que tu achaste,
Porque eu nunca – apesar de bem ter fingido – acreditei nas linhas das tuas mãos.
O mal é teu (quero eu acreditar),
A perda é tua embora a ausência seja minha,
Enche o corpo de pensamentos, de sentimentos e não de esboços.
Um dia a velhice bate-te a porta e tu não tens nada para lhe dar em troca.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
stay awake
Os corpos mortos enterrados em mágoas, em fome.
As tuas memórias minhas ainda, livres no ar, sem forma ou corpo,
Mas com necessidades humanas a roçar o divino.
As tuas memórias que me passeiam na pele,
O teu sorriso inteiro e por partes, a sorrir porque sim, sem motivo,
Para não o perderes.
As tuas mãos quentes, escuras de calor, na minha pele fria, no meu sorriso inteiro ou por partes,
Tu escolhes.
As ruas longas, sem fim, mas finitas – dizem os velhos – onde nós fizemos casa, abrigo,
É nosso porque sim, sem motivo, sem precisar de ser dito.
A tua altura de gigante sobre o meu mundo,
Mas sem sombras ou escuridões,
Sem medos ou prisões,
A tua altura de gigante, de pai, de amante sobre o que eu acredito ser o meu mundo, o meu corpo, o meu poço.
Tudo perdido no espaço,
A fazer de conta que são planetas, sóis e cometas.
Tudo perdido no imenso que é o universo,
Como corpos mortos deitados ao oceano,
Enterrados no próprio fim, resignados com os olhos abertos.
Á espera. Á espera de Deus que nunca veio. Á espera dos avós que nunca beijaram.
Dos amores que nunca tocaram. Dos cigarros que nunca apagaram.
Tristes, dizem os vivos.
O mesmo destino os espera, e eles com os olhos abertos vão se afogar na morte dos amigos que deixaram ir,
Dos ciúmes que deixaram queimar, das mentiras que não souberam calar.
E nós, nas ruas sem fim mas finitas, damos a mão e fechamos os olhos,
Beijamos o que vai para além da alma. E esquecemo-nos que os oceanos estão cheios de corpos mortos, que os cigarros estão todos acessos, que os nossos avós são como as tuas memórias, que Deus tem a memória curta, e principalmente, os amores que vimos mas não tocamos.
És infinidade em mim, e se algum dia partires, o meu corpo vai ser atirado ao oceano,
Vai pairar no universo, perdido e confundido com uma rocha, á deriva.
As tuas memórias minhas ainda, livres no ar, sem forma ou corpo,
Mas com necessidades humanas a roçar o divino.
As tuas memórias que me passeiam na pele,
O teu sorriso inteiro e por partes, a sorrir porque sim, sem motivo,
Para não o perderes.
As tuas mãos quentes, escuras de calor, na minha pele fria, no meu sorriso inteiro ou por partes,
Tu escolhes.
As ruas longas, sem fim, mas finitas – dizem os velhos – onde nós fizemos casa, abrigo,
É nosso porque sim, sem motivo, sem precisar de ser dito.
A tua altura de gigante sobre o meu mundo,
Mas sem sombras ou escuridões,
Sem medos ou prisões,
A tua altura de gigante, de pai, de amante sobre o que eu acredito ser o meu mundo, o meu corpo, o meu poço.
Tudo perdido no espaço,
A fazer de conta que são planetas, sóis e cometas.
Tudo perdido no imenso que é o universo,
Como corpos mortos deitados ao oceano,
Enterrados no próprio fim, resignados com os olhos abertos.
Á espera. Á espera de Deus que nunca veio. Á espera dos avós que nunca beijaram.
Dos amores que nunca tocaram. Dos cigarros que nunca apagaram.
Tristes, dizem os vivos.
O mesmo destino os espera, e eles com os olhos abertos vão se afogar na morte dos amigos que deixaram ir,
Dos ciúmes que deixaram queimar, das mentiras que não souberam calar.
E nós, nas ruas sem fim mas finitas, damos a mão e fechamos os olhos,
Beijamos o que vai para além da alma. E esquecemo-nos que os oceanos estão cheios de corpos mortos, que os cigarros estão todos acessos, que os nossos avós são como as tuas memórias, que Deus tem a memória curta, e principalmente, os amores que vimos mas não tocamos.
És infinidade em mim, e se algum dia partires, o meu corpo vai ser atirado ao oceano,
Vai pairar no universo, perdido e confundido com uma rocha, á deriva.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
True love waits
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê? ... Ah, como é vão!
Que tudo isso, amor nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca
(And true love waits in haunted attics)
Just so you know why
Nunca te pedi mais do que tinhas para me dar,
E para ser justa comigo mesma, nem sequer o que tinhas eu pedi.
Vivi em função do que me davas por iniciativa e não o que eu merecia.
Isso nunca me doeu, até hoje.
No dia em que tu te esqueceste que eu não estou do teu lado, mas faço parte de ti.
Como um braço, uma perna ou uma irmã.
No dia em que não só te esqueceste disso, como o disseste com a voz toda, quase rouca.
Disseste-o, nos meus ouvidos, no meu peito.
Ambos sangraram mas ambos tu tiveste a coragem, a secura, de ignorar. Quase rir das lágrimas que eram sangue, das lágrimas que eram tuas.
Tuas porque minhas eram e eu tua sempre fui e era.
Era, até hoje.
Pois fica sabendo que a minha alma que tanto te amou – devo confessar que num amor incondicional – secou.
Não mais te ama. Não mais se abre.
Quero-te dizer que me magoaste, não sei porquê, mas quero que tu saibas que me trouxeste dor.
Não dor desprendida – daquela que um dia, bem ou mal, acaba por desaparecer – a dor que tu me trouxeste é sólida e venenosa.
Quero que saibas disso, que encares as consequências que tal noticia te possa trazer.
Quero-te dizer que foram anos maus, estes que passaram, mas que a tua presença os acalmou.
Quero que saibas que o que tu pensas estar a ser fácil para mim dizer é mais difícil, mais doente, do que tu imaginas. Quero que saibas que eu nunca te menti, enganei ou deixei de amar.
Quero-te dizer, para o caso de eu morrer hoje, que tu me magoaste de uma forma imperdoável.
Confundiste o meu amor com estupidez.
E esse é um erro que eu não posso, enquanto pessoa, desculpar.
Posso, enquanto amiga, esquecer-me de ser pessoa e amar-te para além dos meus limites.
Mas se o fizer, terei de pedir desculpa a mim própria todas as noites, terei de chorar pela morte do meu próprio nome.
Para te continuar amar, terei de deixar de me amar.
A ti, tu, que nem me soubeste amar quando era tua obrigação.
Não é justo eu perder-me em ti quando tu me fizeste perder no mundo.
Eu continuar a ser-te enquanto tu não me conheces.
E para ser justa comigo mesma, nem sequer o que tinhas eu pedi.
Vivi em função do que me davas por iniciativa e não o que eu merecia.
Isso nunca me doeu, até hoje.
No dia em que tu te esqueceste que eu não estou do teu lado, mas faço parte de ti.
Como um braço, uma perna ou uma irmã.
No dia em que não só te esqueceste disso, como o disseste com a voz toda, quase rouca.
Disseste-o, nos meus ouvidos, no meu peito.
Ambos sangraram mas ambos tu tiveste a coragem, a secura, de ignorar. Quase rir das lágrimas que eram sangue, das lágrimas que eram tuas.
Tuas porque minhas eram e eu tua sempre fui e era.
Era, até hoje.
Pois fica sabendo que a minha alma que tanto te amou – devo confessar que num amor incondicional – secou.
Não mais te ama. Não mais se abre.
Quero-te dizer que me magoaste, não sei porquê, mas quero que tu saibas que me trouxeste dor.
Não dor desprendida – daquela que um dia, bem ou mal, acaba por desaparecer – a dor que tu me trouxeste é sólida e venenosa.
Quero que saibas disso, que encares as consequências que tal noticia te possa trazer.
Quero-te dizer que foram anos maus, estes que passaram, mas que a tua presença os acalmou.
Quero que saibas que o que tu pensas estar a ser fácil para mim dizer é mais difícil, mais doente, do que tu imaginas. Quero que saibas que eu nunca te menti, enganei ou deixei de amar.
Quero-te dizer, para o caso de eu morrer hoje, que tu me magoaste de uma forma imperdoável.
Confundiste o meu amor com estupidez.
E esse é um erro que eu não posso, enquanto pessoa, desculpar.
Posso, enquanto amiga, esquecer-me de ser pessoa e amar-te para além dos meus limites.
Mas se o fizer, terei de pedir desculpa a mim própria todas as noites, terei de chorar pela morte do meu próprio nome.
Para te continuar amar, terei de deixar de me amar.
A ti, tu, que nem me soubeste amar quando era tua obrigação.
Não é justo eu perder-me em ti quando tu me fizeste perder no mundo.
Eu continuar a ser-te enquanto tu não me conheces.
Tudo o que aconteceu antes de ti, não é vida mas distancia.
domingo, 5 de outubro de 2008
The saddest part of a broken heart
Não entendo a minha necessidade (que é mais tua que minha) em ser rainha.
Porque sabes? De rainha tenho pouco, o meu berço era de madeira,
E a minha coroa uma autêntica farsa,
E por falar de farsas, já reparaste no teu olhar vazio?
Um olhar que me esvazia a mim – porque tudo se resume a memórias – um olhar que me queima e mata como se tivesse vida própria.
Um olhar que me faz sentir a falta dos amores de antigamente,
Da tua alma de antigamente, sem pecados e com um sorriso, oh um sorriso de alma capaz de pôr a fim a guerras, pôr fim á fome, e fim a esta necessidade estúpida com que acordei hoje.
Oh, o teu sorriso de alma era a razão do meu.
E agora que ele desapareceu (nem Deus sabe para onde),
A minha alma não sorri, dorme ou vive. Vazia.
Vazia como o olhar que tu sustentas,
Como a guerra que tu comandas, ou a fome que alastras.
O teu olhar não mais me pertence,
E eu aceito isso com uma dor profunda,
Com uma revolta abafada.
As tuas unhas arranham-me a pele,
A tua voz engole-me,
E ris (as rainhas não riem) da minha solidão,
Quando a tua é mais sinónimo de podridão.
Podridão de alma. A tua alma é podre e cheira.
Oh, se ela cheira, cheira do outro lado do mundo, cheira dentro da tua casa, que já não tem espaço para a minha companhia,
Cheira dentro da minha casa.
Dentro do meu corpo,
E cheira até, quando eu não cheiro.
Eu lembro-me de quem tu foste, de quem tu eras para mim e em mim e comicha-me por dentro ver quem és hoje.
A tua alma podre, o teu cabelo pintado de nada e as tuas palavras venenosas.
Quando tu tinhas uma alma que era casa para mim,
Quando tu tinhas um cabelo que era deus em mim,
Quando tu tinhas palavras que eram cura em mim.
Assim, não entendo a minha necessidade de ser rainha tua,
Quando nada mais tens para meu ser.
A verdade é que nem tu sabes o pouco que és ao tentares ser mais do que foste,
Mas diz-me, vais sentir a minha falta quando – depois de pôr o santo dinheiro na mesa – eu partir?
Vais sentir a minha falta quando a minha ausência for eterna?
Porque sabes? De rainha tenho pouco, o meu berço era de madeira,
E a minha coroa uma autêntica farsa,
E por falar de farsas, já reparaste no teu olhar vazio?
Um olhar que me esvazia a mim – porque tudo se resume a memórias – um olhar que me queima e mata como se tivesse vida própria.
Um olhar que me faz sentir a falta dos amores de antigamente,
Da tua alma de antigamente, sem pecados e com um sorriso, oh um sorriso de alma capaz de pôr a fim a guerras, pôr fim á fome, e fim a esta necessidade estúpida com que acordei hoje.
Oh, o teu sorriso de alma era a razão do meu.
E agora que ele desapareceu (nem Deus sabe para onde),
A minha alma não sorri, dorme ou vive. Vazia.
Vazia como o olhar que tu sustentas,
Como a guerra que tu comandas, ou a fome que alastras.
O teu olhar não mais me pertence,
E eu aceito isso com uma dor profunda,
Com uma revolta abafada.
As tuas unhas arranham-me a pele,
A tua voz engole-me,
E ris (as rainhas não riem) da minha solidão,
Quando a tua é mais sinónimo de podridão.
Podridão de alma. A tua alma é podre e cheira.
Oh, se ela cheira, cheira do outro lado do mundo, cheira dentro da tua casa, que já não tem espaço para a minha companhia,
Cheira dentro da minha casa.
Dentro do meu corpo,
E cheira até, quando eu não cheiro.
Eu lembro-me de quem tu foste, de quem tu eras para mim e em mim e comicha-me por dentro ver quem és hoje.
A tua alma podre, o teu cabelo pintado de nada e as tuas palavras venenosas.
Quando tu tinhas uma alma que era casa para mim,
Quando tu tinhas um cabelo que era deus em mim,
Quando tu tinhas palavras que eram cura em mim.
Assim, não entendo a minha necessidade de ser rainha tua,
Quando nada mais tens para meu ser.
A verdade é que nem tu sabes o pouco que és ao tentares ser mais do que foste,
Mas diz-me, vais sentir a minha falta quando – depois de pôr o santo dinheiro na mesa – eu partir?
Vais sentir a minha falta quando a minha ausência for eterna?
sábado, 4 de outubro de 2008
My salvation lies in your love
Well I had a dream I stood beneath an orange sky
With my brother standing by I said:
Brother, you know you know
It’s such a long road we’ve been walking on.
And I had a dream I stood beneath an orange sky
With my sister standing by I said:
Sister, here is what I know now goes like this...
In your love, my salvation lies
But sister you know I’m so weary
And you know sister
My hearts been broken
Sometimes, sometimes
My mind is too strong to carry on
Too strong to carry on
When I am alone,
When I’ve thrown off the weight of this crazy stone
When I've lost all care for the things I own
That's when I miss you,
You who are my home
And here is what I know now
Here is what I know now
Goes like this..
In your love, my salvation lies
Well I had a dream I stood beneath an orange sky
Yes, I had a dream I stood beneath an orange sky
With my brother and my sister standing by
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
won't you, please, back off?
Silencio dentro de nós, como pássaros a voar.
Eu perdi-te.
Eu perdi-te.
Eu perdi-te.
Silencio entre nós, como pássaros a voar num fim de tarde.
Quem me dera ser mais do que sou,
Não para mim, mas para ti.
Para ser-te enquanto sou.
Porque metade de mim desapareceu,
E o que resta morreu.
Perdi a chave.
Perdi a chave.
Perdi a chave.
Da tua casa, da tua alma, da tua voz.
Mas principalmente perdi a chave
Da minha casa, da minha alma, da minha voz.
E, estou sozinha.
Eu estou sozinha no mundo.
Há pássaros a voar enquanto não existe nada, nada, entre nós.
Flores brancas nos cabelos escuros,
E eu disse-te:
- Odeio-te.
E a palavra ecoou e secou as flores nos teus cabelos.
Eu disse-te isso há dois anos.
E ainda hoje eu sinto o mesmo.
Odiar dói mais que amar.
Mas querer-te cadáver, é mais forte que eu.
- Eu perdi-te.
- Eu perdi-te.
- Eu perdi-te?
E tu disseste, berraste que sim. E eu feliz da vida.
O fim da tarde caiu, e os pássaros levantaram voo.
E um silêncio chegou.
Foi há dois anos, mas tu finges que não te lembras.
Porque hoje tu continuas aqui,
E eu continuo-te a odiar,
E tu continuas a morder-me o calcanhar.
Dois anos.
Eu sozinha no mundo durante dois anos.
Longos mas vazios.
Contigo sempre ao lado nas fotos,
Com a tua cabeça na minha almofada.
Só por vezes, antes de eu adormecer, eu ouço-te:
- Eu é que te odeio, odeio-te tanto que me faz querer te amar.
Não é justo, não é justo.
Dois anos. Faz hoje dois anos que eu fui feliz.
Eu perdi-te.
Eu perdi-te.
Eu perdi-te.
Silencio entre nós, como pássaros a voar num fim de tarde.
Quem me dera ser mais do que sou,
Não para mim, mas para ti.
Para ser-te enquanto sou.
Porque metade de mim desapareceu,
E o que resta morreu.
Perdi a chave.
Perdi a chave.
Perdi a chave.
Da tua casa, da tua alma, da tua voz.
Mas principalmente perdi a chave
Da minha casa, da minha alma, da minha voz.
E, estou sozinha.
Eu estou sozinha no mundo.
Há pássaros a voar enquanto não existe nada, nada, entre nós.
Flores brancas nos cabelos escuros,
E eu disse-te:
- Odeio-te.
E a palavra ecoou e secou as flores nos teus cabelos.
Eu disse-te isso há dois anos.
E ainda hoje eu sinto o mesmo.
Odiar dói mais que amar.
Mas querer-te cadáver, é mais forte que eu.
- Eu perdi-te.
- Eu perdi-te.
- Eu perdi-te?
E tu disseste, berraste que sim. E eu feliz da vida.
O fim da tarde caiu, e os pássaros levantaram voo.
E um silêncio chegou.
Foi há dois anos, mas tu finges que não te lembras.
Porque hoje tu continuas aqui,
E eu continuo-te a odiar,
E tu continuas a morder-me o calcanhar.
Dois anos.
Eu sozinha no mundo durante dois anos.
Longos mas vazios.
Contigo sempre ao lado nas fotos,
Com a tua cabeça na minha almofada.
Só por vezes, antes de eu adormecer, eu ouço-te:
- Eu é que te odeio, odeio-te tanto que me faz querer te amar.
Não é justo, não é justo.
Dois anos. Faz hoje dois anos que eu fui feliz.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Don't you wish that we could forget that kiss?
Eu e tu não somos poetas, nem maresia.
Somos mentiras prometidas,
Tu deitavas-te na cama, a respirar o ar que nunca existiu,
E dizias-me que contavas os dias para morrer.
Eu deitava-me a teu lado e dizia-te que contava os dias para nascer.
Tu nunca me respondeste, concentrado nas contas que nunca terminaste.
Nunca terminaste, porque na verdade, nunca as começaste.
Tu partiste antes, se quer, de chegar,
E devias saber que um coração abandonado dói mais (muito mais) que um coração morto.
Tu disseste que voltavas, num ano ou dois,
Que todos os dias sentirias a minha falta,
Que terias uma foto minha na carteira,
Que dormirias com o sabor da minha pele nos lábios,
E que nunca, nunca, me deixarias de amar.
Se tivesses ido, só ido, sem me avisar, sem prometer voltar,
Sem me prometer amar pela eternidade adentro,
Eu não choraria até desmaiar,
Eu não perdia um ano ou dois com o coração nos ponteiros,
Se tivesses ido como quem parte para não voltar eu não tinha envelhecido á tua espera.
Eu e tu não somos poetas nem maresia, mas eu amei-te como se fossemos e não como mentiras prometidas.
Quando tu te deitavas na cama, com os braços a chamar pelo meu corpo, eu amava-te como se fosses a poesia na sua natureza,
Quando tu me dizias viva e tua,
Eu dizia-te vivo e meu.
Por estes dias, eu sei lá onde te escondeste,
Eu sei lá que muros encontraste.
Por estes dias, eu sei lá que amores decifraste.
Não me perco em ti como me perdia em dias distantes,
Não te amo como amei em vidas diferentes.
Mas de certa forma, eu espero pelo homem que um dia vi parti com a mesma força,
Mas tu não foste para á guerra,
Tu foste porque eu nunca te fui suficiente.
Tanto eu como tu sabemos que sim.
Somos mentiras prometidas,
Tu deitavas-te na cama, a respirar o ar que nunca existiu,
E dizias-me que contavas os dias para morrer.
Eu deitava-me a teu lado e dizia-te que contava os dias para nascer.
Tu nunca me respondeste, concentrado nas contas que nunca terminaste.
Nunca terminaste, porque na verdade, nunca as começaste.
Tu partiste antes, se quer, de chegar,
E devias saber que um coração abandonado dói mais (muito mais) que um coração morto.
Tu disseste que voltavas, num ano ou dois,
Que todos os dias sentirias a minha falta,
Que terias uma foto minha na carteira,
Que dormirias com o sabor da minha pele nos lábios,
E que nunca, nunca, me deixarias de amar.
Se tivesses ido, só ido, sem me avisar, sem prometer voltar,
Sem me prometer amar pela eternidade adentro,
Eu não choraria até desmaiar,
Eu não perdia um ano ou dois com o coração nos ponteiros,
Se tivesses ido como quem parte para não voltar eu não tinha envelhecido á tua espera.
Eu e tu não somos poetas nem maresia, mas eu amei-te como se fossemos e não como mentiras prometidas.
Quando tu te deitavas na cama, com os braços a chamar pelo meu corpo, eu amava-te como se fosses a poesia na sua natureza,
Quando tu me dizias viva e tua,
Eu dizia-te vivo e meu.
Por estes dias, eu sei lá onde te escondeste,
Eu sei lá que muros encontraste.
Por estes dias, eu sei lá que amores decifraste.
Não me perco em ti como me perdia em dias distantes,
Não te amo como amei em vidas diferentes.
Mas de certa forma, eu espero pelo homem que um dia vi parti com a mesma força,
Mas tu não foste para á guerra,
Tu foste porque eu nunca te fui suficiente.
Tanto eu como tu sabemos que sim.
sábado, 27 de setembro de 2008
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
onze e doze
Paris, 11:12 da manhã, 2008
Ele aproximou-se, com os passos apertados e as mãos nos bolsos para se proteger do frio de Janeiro. Ao pescoço trazia um cachecol enroscado e as golas do casaco comprido levantadas. O cachecol tinha-lhe oferecido ela.
Ela já o esperava com os braços cruzados no peito para o calor não se dispersar e o nariz vermelho. Tanto a respiração dela como dele erguia-se no ar como uma nuvem, como se a alma estivesse a fumar.
- Onze e doze da manhã, precisamente. – Disse ele ao mesmo tempo que tirava o pulso direito do bolso a custo e espreitava o relógio. – Tal como pediste. Porquê que tinha de ser precisamente ás onze e doze da manha?
- Porque é a minha hora. – Respondeu ela, saltando subtilmente para se aquecer. Ele não respondeu, em vez disso, deitou um olhar afastado ás pessoas que passavam pela praça, agachadas no próprio corpo. Por isso, ela continuou:
- É esta a minha hora da sorte. Sorte ou outra coisa qualquer – Explicou – É nesta hora que me acontecem as grandes coisas, tanto más como boas. – Fez uma pausa, e esperou que os seus olhos se encontrassem. - Foi nesta hora que nos conhecemos.
Ele olhou-a:
- Conhecemo-nos exactamente ás onze e doze da manhã?
- Mais coisa, menos coisa.
Ele assentiu como quem entende, mas com a expressão de quem não entende, de quem não se quer, sequer, dar ao trabalho de entender:
- E para quê que precisas de sorte? O que é que me querias tanto dizer?
- Casa comigo.
- Agora?
- Se quiseres pode ser agora, não me importa, mas não tem de ser justamente agora.
Ele olhou-a lentamente, olhou-lhe os pés e depois os próprios pés. A sua expressão que se tinha tornado pesada abriu-se num sorriso sarcástico.
- Caso contigo? Caso contigo. – Fez uma pausa para respirar, para se rir, para pensar. – Terça-feira dizes-me que estás de viagem marcada para Londres, quando eu te pergunto onde é que eu entro nessa história tu dizes-me que eu não entro, a história é tua e só tua. Depois ligas-me ás três da manha a grunhir para eu estar aqui ás onze e doze, exactamente, da manha e pedes-me para eu casar contigo? Viras-te maluca?
- Eu sei, e desculpa-me. Fui egoísta. Egoísta de uma forma que nunca tinha sido ou pensado ser. Magoei-te, e isso magoou-me a mim. Menti-te.
- Mentiste-me? – Ele exaltou-se: quando? Porquê? Foi com aquela besta da agência dela, ele sabia.
- Quando te disse que a minha história era só minha.
Ele rodou nos pés, irritado. Ela disse:
- Casa comigo. Por favor.
- E vivemos em Londres…
- Podemos viver em Londres, podemos viver aqui, podemos viver na China.
- Sabes que um pedido de desculpas bastava? Não precisavas de…
- Eu sei. – Interrompeu com ansiedade latente na voz. – Mas eu quero-me casar contigo. Eu quero envelhecer a teu lado, acordar todos os dias a teu lado, viajar a teu lado. Ter os teus filhos. Ter-te. Ser quem e como os nossos pais são.
Ele engoliu em seco e os músculos da cara contorceram-se. Ela continuou:
- Por favor, não me faças fazer figura de louca.
- Tarde de mais. – Fez uma pausa e então:
Sorriu (-lhe):
- Eu caso contigo se tu casares comigo.
Paris, 11:32 da manhã, 2008
Ele aproximou-se, com os passos apertados e as mãos nos bolsos para se proteger do frio de Janeiro. Ao pescoço trazia um cachecol enroscado e as golas do casaco comprido levantadas. O cachecol tinha-lhe oferecido ela.
Ela já o esperava com os braços cruzados no peito para o calor não se dispersar e o nariz vermelho. Tanto a respiração dela como dele erguia-se no ar como uma nuvem, como se a alma estivesse a fumar.
- Onze e doze da manhã, precisamente. – Disse ele ao mesmo tempo que tirava o pulso direito do bolso a custo e espreitava o relógio. – Tal como pediste. Porquê que tinha de ser precisamente ás onze e doze da manha?
- Porque é a minha hora. – Respondeu ela, saltando subtilmente para se aquecer. Ele não respondeu, em vez disso, deitou um olhar afastado ás pessoas que passavam pela praça, agachadas no próprio corpo. Por isso, ela continuou:
- É esta a minha hora da sorte. Sorte ou outra coisa qualquer – Explicou – É nesta hora que me acontecem as grandes coisas, tanto más como boas. – Fez uma pausa, e esperou que os seus olhos se encontrassem. - Foi nesta hora que nos conhecemos.
Ele olhou-a:
- Conhecemo-nos exactamente ás onze e doze da manhã?
- Mais coisa, menos coisa.
Ele assentiu como quem entende, mas com a expressão de quem não entende, de quem não se quer, sequer, dar ao trabalho de entender:
- E para quê que precisas de sorte? O que é que me querias tanto dizer?
- Casa comigo.
- Agora?
- Se quiseres pode ser agora, não me importa, mas não tem de ser justamente agora.
Ele olhou-a lentamente, olhou-lhe os pés e depois os próprios pés. A sua expressão que se tinha tornado pesada abriu-se num sorriso sarcástico.
- Caso contigo? Caso contigo. – Fez uma pausa para respirar, para se rir, para pensar. – Terça-feira dizes-me que estás de viagem marcada para Londres, quando eu te pergunto onde é que eu entro nessa história tu dizes-me que eu não entro, a história é tua e só tua. Depois ligas-me ás três da manha a grunhir para eu estar aqui ás onze e doze, exactamente, da manha e pedes-me para eu casar contigo? Viras-te maluca?
- Eu sei, e desculpa-me. Fui egoísta. Egoísta de uma forma que nunca tinha sido ou pensado ser. Magoei-te, e isso magoou-me a mim. Menti-te.
- Mentiste-me? – Ele exaltou-se: quando? Porquê? Foi com aquela besta da agência dela, ele sabia.
- Quando te disse que a minha história era só minha.
Ele rodou nos pés, irritado. Ela disse:
- Casa comigo. Por favor.
- E vivemos em Londres…
- Podemos viver em Londres, podemos viver aqui, podemos viver na China.
- Sabes que um pedido de desculpas bastava? Não precisavas de…
- Eu sei. – Interrompeu com ansiedade latente na voz. – Mas eu quero-me casar contigo. Eu quero envelhecer a teu lado, acordar todos os dias a teu lado, viajar a teu lado. Ter os teus filhos. Ter-te. Ser quem e como os nossos pais são.
Ele engoliu em seco e os músculos da cara contorceram-se. Ela continuou:
- Por favor, não me faças fazer figura de louca.
- Tarde de mais. – Fez uma pausa e então:
Sorriu (-lhe):
- Eu caso contigo se tu casares comigo.
Paris, 11:32 da manhã, 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
hard
Um tom de voz cortante,
Que corta mais que pele, corta uma vida.
As palavras que disseste um dia são eco hoje.
Como casas frias e abandonadas, umas por cima das outras.
E de vez em quando, lá para o fim do mês,
Vêm os pobres roubar-lhes os restos.
Tiram-lhes os tijolos, o cimento e as memórias.
De casas já elas têm pouco,
Mas com a honra que lhes resta aguentam-se em pé.
Frias. Umas por cima das outras, todas esquecidas.
Casas assim, são como as tuas palavras antigas, escritas nos dedos que não são mais meus.
Ou teus.
Assim, e nessa altura, éramos felizes.
Como velhos renascidos,
Amantes perdidos.
Éramos assim, antes de sermos quem somos realmente:
Todos os defeitos que respiram nos nossos poros, podridão nas nossas pupilas.
Nossos poros. Nossas pupilas.
Que corta mais que pele, corta uma vida.
As palavras que disseste um dia são eco hoje.
Como casas frias e abandonadas, umas por cima das outras.
E de vez em quando, lá para o fim do mês,
Vêm os pobres roubar-lhes os restos.
Tiram-lhes os tijolos, o cimento e as memórias.
De casas já elas têm pouco,
Mas com a honra que lhes resta aguentam-se em pé.
Frias. Umas por cima das outras, todas esquecidas.
Casas assim, são como as tuas palavras antigas, escritas nos dedos que não são mais meus.
Ou teus.
Assim, e nessa altura, éramos felizes.
Como velhos renascidos,
Amantes perdidos.
Éramos assim, antes de sermos quem somos realmente:
Todos os defeitos que respiram nos nossos poros, podridão nas nossas pupilas.
Nossos poros. Nossas pupilas.
stay in tune
Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Como queremos nós ter um sorriso maior?
Da Weasel - Casa (Vem fazer de conta)
sábado, 13 de setembro de 2008
love is all you need
Cresces dentro de mim para mim,
Como se a existência de um ser fosse simples como isso.
O arranque directo das dores do peito,
Com um sopro.
Um piscar de olhos, ou um suspiro.
E pronto, está feito.
És filho, depois pai, avô e cadáver.
Enfiado ás pressas da natureza num caixão de sobreiro.
Com um sopro já não és em mim a grandeza que foste,
És a memória do amor passado,
Mas que por isso não dói menos.
Um amor que se despediu sem maneiras,
Mas que de vez em quando, bate á porta.
Numa batida funda e surda,
Uma que se espeta na pele e diz-se rainha.
Coroada sobre o olhar atento dos súbitos que não existem, da idade que não aparentam.
E a tua mão a cair da cama,
O olhar adormecido, e a respiração assídua.
O quarto escuro porque ainda era de noite, e a tua mão alongada no ar, o pulso hirto.
E eu a pensar estar no céu.
No vibrar da eternidade e na lusco-fusco que é a vida, que foste tu enquanto meu.
E eu a pensar-te Deus.
Nas letras que escrevias a cuidado, uma a uma, com a boca presa nelas, e a voz surda de dor,
Escrevias as frases com os dedos atentos,
E prometias dali sair um épico.
Do épico nunca vi mais que um monte de papel,
E o teu olhar adormecido, quase vazio a contemplar a ideia da sua existência.
Nunca o chegaste a escrever no papel,
Mas escreveste-o na minha alma de mulher, quase viva.
Escreveste o nome a sangue, e sopraste-lhe para ele secar.
Sopraste o teu nome na minha alma.
E eu filha, depois mãe, avó e cadáver.
Do épico nunca vi prova.
Eternidade, prometeste tu.
Como se a existência de um ser fosse simples como isso.
O arranque directo das dores do peito,
Com um sopro.
Um piscar de olhos, ou um suspiro.
E pronto, está feito.
És filho, depois pai, avô e cadáver.
Enfiado ás pressas da natureza num caixão de sobreiro.
Com um sopro já não és em mim a grandeza que foste,
És a memória do amor passado,
Mas que por isso não dói menos.
Um amor que se despediu sem maneiras,
Mas que de vez em quando, bate á porta.
Numa batida funda e surda,
Uma que se espeta na pele e diz-se rainha.
Coroada sobre o olhar atento dos súbitos que não existem, da idade que não aparentam.
E a tua mão a cair da cama,
O olhar adormecido, e a respiração assídua.
O quarto escuro porque ainda era de noite, e a tua mão alongada no ar, o pulso hirto.
E eu a pensar estar no céu.
No vibrar da eternidade e na lusco-fusco que é a vida, que foste tu enquanto meu.
E eu a pensar-te Deus.
Nas letras que escrevias a cuidado, uma a uma, com a boca presa nelas, e a voz surda de dor,
Escrevias as frases com os dedos atentos,
E prometias dali sair um épico.
Do épico nunca vi mais que um monte de papel,
E o teu olhar adormecido, quase vazio a contemplar a ideia da sua existência.
Nunca o chegaste a escrever no papel,
Mas escreveste-o na minha alma de mulher, quase viva.
Escreveste o nome a sangue, e sopraste-lhe para ele secar.
Sopraste o teu nome na minha alma.
E eu filha, depois mãe, avó e cadáver.
Do épico nunca vi prova.
Eternidade, prometeste tu.
Casacos de malha
O teu casaco de malha amarelo entre os meus dedos,
Eu a abraçar-te o casaco,
Tu a abraçares-me o corpo.
Os teus dedos a furarem-me a pele, numa dor que me atravessa.
Tu a sorrires como quem morre,
Eu em silêncio como quem já foi sepultado.
No silêncio que sempre foi nosso desconhecido,
Num abraço que nos queima a pele e cega o tacto.
E então um:
- Até já.
O teu casaco de malha que se deitou, mais que uma vez, por cima dos meus pés.
Num crime desajeitado mas pleno em que ateávamos fogo ao mundo,
Num crime sem vitimas ou precedentes.
Num segredo que deixou marcas aos olhos de todos.
A minha humanidade perdida num mundo a arder.
Subir ao céu, subir ao céu.
A minha roupa perdida nos lençóis, e um ou dois sorrisos.
O meu luto a secar sobre as tuas cicatrizes, como quem hesita perante algo bonito.
A tua voz de poeta – que pertence somente aos homens – a explicar o porquê de deus ser surdo e mudo.
A tua voz que vinha do fundo de ti e ecoava no fundo de mim.
- Até já.
Descer ao inferno, descer ao inferno.
O teu casaco de malha a sorrir-me do passado e a queimar-me a ponta dos dedos.
O teu sorriso que não era teu,
E o destino a bater à porta,
Aos pontapés, aos murros.
Tu já sabias o teu destino antes sequer de ele o ser.
A tua pele enrugada pelo tempo que ainda não passou,
O teu cabelo esbranquiçado da ausência da juventude que ainda não acabou,
O teu corpo amedrontado a arrastar-se,
E eu agarrada ao teu casaco de malha amarelo,
Tão amarelo que destoa. Que não parece real.
E eu lembro-me do sol a pôr-se por detrás da tua face, o teu sorriso a quebrar o laranja. Os teus olhos em bico e as tuas mãos quentes embaraçadas nas minhas.
Eu lembro-me do teu sorriso a rasgar-se para além do sol, para além da lógica.
Eu lembro-me e dói.
Eu entro pelo passado adentro e dói-me no peito e nos joelhos.
A tua voz de poeta que não precisava de palavras a comichar-me os ouvidos,
Fica na terra, fica na terra.
O teu casaco de malha a proteger-me os cabelos,
Eu lembro-me de ti e sangro, e sangra o mundo, e sangras tu.
- Até já.
Eu a abraçar-te o casaco,
Tu a abraçares-me o corpo.
Os teus dedos a furarem-me a pele, numa dor que me atravessa.
Tu a sorrires como quem morre,
Eu em silêncio como quem já foi sepultado.
No silêncio que sempre foi nosso desconhecido,
Num abraço que nos queima a pele e cega o tacto.
E então um:
- Até já.
O teu casaco de malha que se deitou, mais que uma vez, por cima dos meus pés.
Num crime desajeitado mas pleno em que ateávamos fogo ao mundo,
Num crime sem vitimas ou precedentes.
Num segredo que deixou marcas aos olhos de todos.
A minha humanidade perdida num mundo a arder.
Subir ao céu, subir ao céu.
A minha roupa perdida nos lençóis, e um ou dois sorrisos.
O meu luto a secar sobre as tuas cicatrizes, como quem hesita perante algo bonito.
A tua voz de poeta – que pertence somente aos homens – a explicar o porquê de deus ser surdo e mudo.
A tua voz que vinha do fundo de ti e ecoava no fundo de mim.
- Até já.
Descer ao inferno, descer ao inferno.
O teu casaco de malha a sorrir-me do passado e a queimar-me a ponta dos dedos.
O teu sorriso que não era teu,
E o destino a bater à porta,
Aos pontapés, aos murros.
Tu já sabias o teu destino antes sequer de ele o ser.
A tua pele enrugada pelo tempo que ainda não passou,
O teu cabelo esbranquiçado da ausência da juventude que ainda não acabou,
O teu corpo amedrontado a arrastar-se,
E eu agarrada ao teu casaco de malha amarelo,
Tão amarelo que destoa. Que não parece real.
E eu lembro-me do sol a pôr-se por detrás da tua face, o teu sorriso a quebrar o laranja. Os teus olhos em bico e as tuas mãos quentes embaraçadas nas minhas.
Eu lembro-me do teu sorriso a rasgar-se para além do sol, para além da lógica.
Eu lembro-me e dói.
Eu entro pelo passado adentro e dói-me no peito e nos joelhos.
A tua voz de poeta que não precisava de palavras a comichar-me os ouvidos,
Fica na terra, fica na terra.
O teu casaco de malha a proteger-me os cabelos,
Eu lembro-me de ti e sangro, e sangra o mundo, e sangras tu.
- Até já.
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